19/01/2025

Igrejas cristãs afirmam juntas a «opção pela paz»

As Igrejas cristãs que participam no movimento ecuménico, em Portugal, assinalaram em conjunto o início do Oitavário de Oração pela Unidade dos Cristãos numa celebração que afirmou a «opção pela paz».
«Ao celebrarmos a fé em Jesus Cristo, celebramos uma opção pela paz, pela reconciliação, pela compreensão e pelo diálogo que, percebemos hoje mais do que nunca, são modos de estar, vivências e valores cada vez mais necessários no nosso mundo», disse à Agência Ecclesia o bispo D. Jorge Pina Cabral.
Para o responsável pela Igreja Lusitana, de Comunhão Anglicana, em Portugal, é «muito importante hoje as religiões estarem unidas, é muito importante o diálogo, é muito importante a cooperação para dizer que as guerras que são feitas em nome das religiões não são verdadeiras».
«Não é a religião ou as incompatibilidades entre religiosos que provocam as guerras, mas uma sede de poder, de política, de autoridade», afirmou.
«As religiões hoje estão unidas na promoção da paz», sublinhou.
Entre este sábado, 18 de janeiro, e o dia 25, assinala-se a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, este ano centrada no tema «Crês nisso?», lembrando também os 1700º aniversário do primeiro Concílio Ecuménico, realizado em Niceia.
Para este ano de 2025, as orações e reflexões para a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos foram preparadas pelos irmãos e irmãs da comunidade monástica de Bose, no Norte da Itália, e a celebração ecuménica nacional de abertura do oitavário decorreu na tarde deste sábado, na Paróquia Lusitana de São João Evangelista, em Vila Nova de Gaia.
A celebração ecuménica nacional, presidida por D. Jorge Pina Cabral, contou com a presença do presidente da Câmara Municipal de Gaia e de representantes das várias igrejas cristãs, nomeadamente D. Roberto Mariz, bispo auxiliar do Porto, e D. Manuel Felício, administrador apostólico da Diocese da Guarda e que acompanha na Conferência Episcopal Portuguesa o tema do ecumenismo.
Em declarações à Agência Ecclesia, D. Roberto Mariz disse que o início da Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos situa-se num «patamar de esperança» e espera «passos claros, concretos» rumo à unidade, na pluralidade da «vivência cristã» e na «mesma fé em Jesus e no mesmo Evangelho».
«Assim nos possamos apresentar no mundo: na nossa pluralidade, numa verdadeira unidade, a partir do Espírito. E nessa unidade, possamos ser um sinal profético num mundo dilacerado por guerras e conflitos», disse o bispo auxiliar do Porto.
D. Roberto Mariz referiu que o encontro entre religiões cristãs desafia a sociedade à «unidade, na tolerância das suas diferenças» e valorizou o diálogo ecuménico como oportunidade de «fazer pontes».
«O diálogo ecuménico tem uma importância essencial: permite sentarmo-nos à mesma mesa, olharmo-nos no rosto, sentirmos as palavras que ecoam o nosso coração, os pensamentos que cruzamos em torno do nosso credo, da nossa crença e das vivências da fé, no concreto de cada religião. Que possamos, nesse diálogo, fazer pontes no respeito de uns pelos outros e caminhando irmãmente», disse o bispo auxiliar do Porto.
Na reflexão que partilhou na celebração, D. Roberto Rosmarinho Mariz recordou os 1700 anos do I Concílio Ecuménico de Niceia, que ocorreu no «início da liberdade de culto no império romano, num esforço por encontrar os termos e conceitos centrais da fé cristã, ultrapassando as divisões e conflitos».
«Um caminho percorrido em conjunto, sinodalmente, para se encontrar os termos convergentes em torno da fé que brota do mesmo Evangelho. Conseguiram. E hoje? Podemos conseguir hoje. Devemos conseguir», afirmou.
O bispo auxiliar do Porto disse que a «fé é a âncora, a motivação e a razão» para que crentes de várias confissões estejam «reunidos e unidos em Oração pela unidade de todos cristãos».
«É importante deixar ideias pessoais, preconceitos e elementos acessórios para nos centrarmos no essencial, naquilo que nos une», indicou D. Roberto Mariz.
O tema da Semana – «Crês nisso?» – é inspirado no diálogo entre Jesus e Marta, quando Jesus visitou a casa de Marta e Maria em Betânia, após a morte de seu irmão Lázaro, conforme narra o evangelista João.
O oitavário pela unidade da Igreja, hoje com outra denominação, começou a ser celebrado em 1908, por iniciativa do norte-americano Paul Wattson, presbítero anglicano que mais tarde se converteu ao catolicismo.
As principais divisões entre as Igrejas cristãs ocorreram no século V, depois dos Concílios de Éfeso e de Calcedónia (Igreja copta, do Egito, entre outras); no século XI com a cisão entre o Ocidente e o Oriente (Igrejas Ortodoxas); no século XVI, com a Reforma Protestante e, posteriormente, a separação da Igreja de Inglaterra (Anglicana).

Ecclesia (18 jan, 2025)

18/01/2025

Pela unidade dos cristãos



Entrevista ao Prof. Riccardo Burigana, diretor do Centro de Estudos para o Ecumenismo em Itália, por ocasião da celebração da Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos (18-25 de janeiro) e também da Jornada de Diálogo Judaico-Cristão (17 de janeiro), esta última uma iniciativa italiana que remonta a 1990.




O título da Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos deste ano é uma pergunta: «Crês nisso?». Como é que o ecumenismo contribui para lhe dar resposta?

A Semana parte este ano, como acontece há décadas, de uma passagem da Escritura  «Crês nisso?» (de João 11,26)  mas gira em torno dos 1700 anos da celebração do Concílio de Niceia. É um convite a repensar as origens do cristianismo de modo a olhar para hoje, tanto mais que este aniversário recorda um tema central do caminho ecuménico contemporâneo, a saber: para além das Escrituras, em que acreditamos realmente em conjunto?
A confissão de fé é um dos temas com que os cristãos se têm confrontado ao longo da história, sempre a pensar em Niceia. A profissão de fé de Niceia foi, por vezes, utilizada para fins apologéticos. Contudo, desde meados do século XIX, desde o início do movimento ecuménico contemporâneo, representa a verdadeira “estrela polar” de referência.
Recordemos que o diálogo entre os cristãos, que na altura pensavam Cristo de formas muito diferentes, não surgiu apenas para acabar com as divisões, mas porque, ainda que com sensibilidades diferentes, sentiam necessidade de anunciar ao mundo o mesmo Cristo. Podemos dizer que o ecumenismo começou aí e é uma experiência que torna a fé viva e dinâmica, que recorda a dimensão global do anúncio de Cristo ao mundo, algo que o Papa Francisco, nestes tempos, tem bem presente e reiterou várias vezes.
À sua pergunta precisa, respondo, pois, da seguinte forma: o movimento ecuménico deu e continua a dar um grande contributo para que todos os cristãos continuem a meditar sobre a centralidade da fé em Cristo, que é o coração pulsante da vida individual e comunitária. E Cristo, hoje como sempre, é o Messias, príncipe da paz, segundo Isaías 9,6.

Vê mesmo este avanço no ecumenismo?

O movimento ecuménico desenvolveu-se a vários níveis, em muitas direções, com a sua própria globalidade e dinamismo. Há o ecumenismo dos encontros oficiais, ao mais alto nível dos responsáveis das Igrejas. Parece-me que este ecumenismo já permitiu sair das pretensões do passado: «Eu tenho razão, por isso és tu que tens de mudar!». A purificação da memória e a cura das feridas reciprocamente criadas, encontraram um grande impulso no Jubileu do ano 2000, embora já fosse um tema central há décadas no diálogo entre cristãos. Estes passos foram impulsionados pela reflexão teológica e abriram novas perspetivas rumo à unidade na diversidade.
Paralelamente ao nível “oficial”, existe o ecumenismo da experiência vivida no quotidiano. Interrogamo-nos acerca dele: perguntamo-nos até que ponto está difundido, não tendo por vezes dele uma perceção exata. Em Itália, como noutros lugares, são inúmeras as experiências locais de cristãos que, mesmo não estando ainda em plena comunhão, se procuram e se encontram, para juntos testemunharem Cristo: destas experiências de ecumenismo quotidiano nasceu um estilo ecuménico, feito de acolhimento recíproco e de diálogo caracterizado pela franqueza das visões diferentes, sempre com o objetivo de tornar mais eficaz o anúncio e o testemunho.
A Igreja católica celebrou, há poucas semanas, o 60º aniversário do Unitatis redintegratio, uma fonte preciosa e única para encarnar o estilo ecuménico  a unidade na diversidade  a partir das comunidades locais, onde os fiéis vivem concretamente a sua fé. O decreto conciliar foi concebido para os católicos, para os ajudar a descobrir como viver a sua vocação à comunhão e, assim, encorajar um repensar radical das formas e do conteúdo da participação da Igreja católica no movimento ecuménico contemporâneo.

Hoje em dia temos as guerras, com cristãos de ambos os lados: quanto pesam nas boas intenções ecuménicas?

A escalada da guerra na Ucrânia, com a invasão russa em fevereiro de 2022, marcou profundamente as Igrejas e, portanto, o caminho ecuménico: as imagens da bênção das armas não fizeram certamente bem aos cristãos de todo o mundo. Perante esta tragédia, muitos cristãos não só condenaram a guerra com palavras, mas também abriram as suas casas àqueles que foram obrigados a fugir.
Houve, pois, palavras e gestos com os quais os cristãos, em conjunto, tomaram distância da violência, como o Evangelho exige. Os organismos ecuménicos têm multiplicado as suas posições neste sentido, se bem que tal tenha tido pouco destaque mediático, em comparação com a crueza das imagens de laceração religiosa.
Também não escondemos que ainda há Igrejas que colocam problemas  por exemplo, a pena de morte, o acolhimento dos migrantes (sejam eles quem forem), a paridade de género e outros – a outros cristãos que se empenham, com muita alegria e paixão, no movimento ecuménico.
Estou convencido, porém, que o debate em torno destas dificuldades pode revigorar nos cristãos o desejo de unidade, a ponto de podermos levantar a voz e dizer que chegou agora o momento de «dar um salto em frente» no caminho ecuménico.
O compromisso na construção da paz esteve sempre no horizonte do ecumenismo contemporâneo: parece-me exemplar o facto de que tenha caído por terra o pedido, formulado por alguns cristãos, de expulsar o Patriarca de Moscovo do Conselho Ecuménico das Igrejas. A história do Conselho ajuda a compreender esta opção: aquando da sua fundação, em Amesterdão, em 1948, foram convidados todos os representantes das Igrejas, mesmo os das Igrejas evangélicas alemãs que tinham colaborado ativamente com o nazismo.
A exigência do diálogo ininterrupto não dispensa, sem sombra de dúvida, a condenação dos métodos de violência: esta nunca pode ser justificada com o Evangelho na mão. Infelizmente, isto já aconteceu claramente no passado, mas o próprio movimento ecuménico testemunha que os cristãos do século XXI são pela paz e sentem-se comprometidos na construção da paz em condições de justiça.

Ecumenismo e diálogo inter-religioso, qual é hoje a sua relação?

Nesta mesma Semana de Oração, que para a Igreja Católica se situa no âmbito do ano jubilar, está a ser relançada com força a ideia de que os cristãos podem e devem caminhar juntos, apresentar-se a uma só voz no diálogo com as outras religiões. Neste ponto, o Papa Francisco está a encontrar sintonia por parte de numerosos líderes cristãos.
Ecumenismo e diálogo inter-religioso são âmbitos diferentes, como indica claramente o magistério da Igreja católica desde o II Concílio do Vaticano, mas,, no movimento ecuménico, surge cada vez mais a necessidade de refletir em conjunto, como cristãos, sobre o património dos valores que podem ser partilhados com os membros de outras tradições religiosas – da liberdade religiosa à paz, ao cuidado do ambiente –, para repensar a comunidade humana contemporânea global.
Nos primeiros passos deste ano jubilar, são numerosas as iniciativas destinadas a criar ou desenvolver um diálogo a três vozes, entre cristãos, judeus e muçulmanos: nalguns casos, não se trata de novidade, mas de passos que assumem perspetivas novas e mais elevadas. Pode dizer-se que, deste ponto de vista, estamos a superar os resultados do encontro entre as religiões em Assis, desejado por João Paulo II em 1986.

Na própria Igreja Católica, há muitas resistências a este respeito. O caminho do Papa Francisco não é partilhado por todos.

Francisco lançou sementes, abriu percursos inovadores com uma releitura pessoal do II Concílio do Vaticano e da sua receção e, por isso, suscitou perplexidades e críticas mesmo no seio da Igreja católica: alguns continuam a pensar que o diálogo pode debilitar a missão da Igreja.
Mas a «fraternidade» de que fala o Papa Francisco nasce de uma profunda comunhão eclesial, sinal da escuta da própria Palavra de Deus.

Mesmo em relação ao tema do cuidado comum da criação, Francisco está a encontrar fortes resistências. Qual é a posição do ecumenismo?

O tema está hoje muito difundido entre todos os cristãos: muitas Igrejas estão a caminhar na mesma linha de Francisco, porque, nestes últimos anos, houve uma recuperação muito forte da reflexão sobre a relação entre criação, criatura e Criador.
É um tema que também assumiu uma dimensão inter-religiosa, com a descoberta do que as religiões têm em comum. Muitas religiões, sem partirem do livro do Génesis ou dos Padres do deserto, sabem colocar no centro a questão do respeito pelo ambiente e por toda a vida de que fazemos parte.
Em Itália, a investigação do Centro de Estudos para o Ecumenismo sobre as iniciativas do Tempo da Criação, que decorre de 1 de setembro a 4 de outubro, mostra o quanto este tema se enraizou e se difundiu com uma conotação ecuménica e/ou inter-religiosa. Dos encontros de oração às mesas redondas de aprofundamento, à formulação de propostas concretas, à realização de pequenos gestos, estas iniciativas mostram o grande interesse que existe nas Igrejas e fora delas pelo destino da criação e das criaturas que aqui vivem; há fermento e há também preocupação.
A partir das Sagradas Escrituras, o movimento ecuménico soube colher o fundamento da «justiça ecológica», denunciando os processos económicos que visam apenas o lucro imediato, sem refletir sobre o hoje e o amanhã, sobre o dom da criação que torna possível a nossa vida.
A propósito da criação, também se medem as divisões entre os cristãos: de facto, não faltam aqueles que, a partir precisamente das Sagradas Escrituras, contestam estas iniciativas, relançando a ideia de que o homem é senhor da criação por mandato divino.

Outros motivos de contradição, na própria Igreja Católica, conduzem-nos ao conflito israelo palestiniano. O ponto de vista ecuménico, qual é?

É claro que os trágicos acontecimentos deste conflito estão a dificultar o diálogo com o judaísmo, que há décadas se tem confrontado com uma pluralidade de aspetos. Gosto de recordar que o primeiro esquema para repensar as relações entre a Igreja católica e o povo judeu, desejado por João XXIII para o futuro Concílio – depois levado por diante pelo cardeal Bea na fase preparatória do II Concílio do Vaticano – nem sequer chegou a ser discutido: em junho de 1962 foi retirado por causa das “consequências políticas” que este esquema poderia ter, apesar de ter sido redigido com fins teológicos.
Aproximamo-nos, pois, da Jornada de Diálogo Judaico-Cristão, que se celebra [em Itália] no dia 17 de janeiro: alcançamos a XXXVI edição e talvez tenha chegado o tempo de fazer um balanço do que foi feito e dito ao longo deste caminho, iniciado em 1990, depois de o Conselho Permanente da Conferência Episcopal Italiana ter aprovado a ideia de uma Jornada anual dedicada ao aprofundamento do conhecimento do povo judeu.
Devido precisamente aos acontecimentos dos últimos meses, que provocaram silêncios e lacerações mesmo em Itália, poder-se-ia temer uma Jornada “diminuída”. Não faltam realidades que decidiram adiar o tradicional encontro dedicado, mas, no estado atual de recolha de informações, já são 25 as dioceses diretamente envolvidas, por vezes com mais de um encontro no mesmo lugar: de Acireale a Milão, passando por Brindisi, Florença, Modena, Bolonha, Parma e Treviso, sem esquecer Roma.
Penso que voltar a ler em conjunto as Escrituras comuns, definindo desde o início um percurso partilhado, tendo em vista o dia 17 de janeiro, pode ajudar neste «percurso difícil também para Deus», segundo a recente definição do meu amigo Brunetto Salvarani, que há anos está empenhado neste diálogo que tanto tem a oferecer aos cristãos, aos judeus e à sociedade em geral.

Que manifestações do programa ecuménico nos dão esperança?

O mapeamento está em curso. O Centro de Estudos para o Ecumenismo, fundado em 2008 e com sede em Florença, recolheu até agora as iniciativas de 114 dioceses: por vezes, há apenas um encontro diocesano de oração, porque esta é uma Semana de Oração, precisamente para rezar em conjunto. Muitas vezes o bispo está presente nestes encontros, segundo uma tradição que se tem vindo a consolidar nos últimos anos.
Do quadro, ainda provisório, emergem alguns elementos: a reflexão sobre o Concílio de Niceia, sobre a sua atualidade e sobre a sua importância para o caminho ecuménico, com particular atenção à centralidade da Trindade na vida dos crentes; o renovado compromisso na construção da paz como testemunho ecuménico de primeira ordem; o desejo de um maior envolvimento dos jovens, precisamente para que saibam apreender as riquezas das diversas confissões cristãs.
Sobre este aspeto dos jovens, gostaria de recordar que, em Bolonha, está a ser programada uma tarde na qual que os que frequentam a catequese e os grupos de escuteiros, com as suas famílias, são convidados a visitar as Igrejas cristãs não católicas da cidade: uma tarde que termina com um momento de oração ecuménica.
Também neste ano haverá uma oração nacional: terá lugar em Nápoles, com a participação dos representantes das Igrejas cristãs em Itália, acolhidos pelo cardeal Domenico Battaglia, arcebispo de Nápoles, e por D. Gaetano Castello, bispo auxiliar, empenhado há anos na construção de um diálogo de fraternidade evangélica. Em Bari, a conclusão da Semana de Oração coincidirá com o início de uma «Conversa entre católicos e ortodoxos no Espírito Santo», graças à Comunidade de Jesus, fundada e dirigida por Matteo Calisi, para aprofundar, não só do ponto de vista teológico, Theosis e charismata.
Por fim, quero salientar, embora ainda haja muito a dizer sobre as iniciativas locais, que no dia 21 de janeiro terá início, com uma intervenção de D. Erio Castellucci – com o título Niceia hoje: A fecundidade do Concílio para uma Igreja a caminho – o percurso 325-2025: O Concílio de Niceia e os cristãos a caminho da unidade, um congresso promovido pela Eparquia de Lungro, pela Pontifícia Faculdade Teológica da Itália Meridional e pelo Centro de Estudos para o Ecumenismo em Itália, «destinado a quem deseja fazer ou aprofundar um percurso formativo, totalmente gratuito, sobre a centralidade da dimensão ecuménica no testemunho de Cristo no século XXI», como referiu D. Donato Oliverio, bispo de Lungro.

Andrea Capelletti e Giordano Cavallari (coord.)
Settimana news (14 jan. 2025)

10/01/2025

Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos no Grande Porto 2025

No passado dia 8 de janeiro, o grupo de representantes, composto por clérigos e leigos das Igrejas de sensibilidade ecuménica do Porto, reuniu-se no Centro Diocesano da Igreja Lusitana, em Vila Nova de Gaia. O encontro teve como objetivo planear as atividades ecuménicas na cidade do Porto para o ano de 2025, tendo como tema central a celebração dos 1700 anos do I Concílio Ecuménico de Niceia.
Entre os diversos pontos abordados, destacou-se a organização da Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, também conhecida como Oitavário de Oração, que será celebrada entre os dias 18 e 25 de janeiro. Durante esta semana, realizar-se-ão várias Celebrações Ecuménicas em Gaia e no Porto, praticamente todos os dias.
A Celebração Ecuménica Nacional, que se realizará no dia 18 de janeiro, sábado, às 15h30, na Paróquia S. João Evangelista da Igreja Lusitana, localizada na Rua Afonso de Albuquerque, 86, em Vila Nova de Gaia, será um momento marcante. Durante este evento, será apresentado o Roteiro Ecuménico do Porto para o ano 2025. A participação está aberta a todos os interessados.


06/01/2025

Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos (18 a 25 de janeiro de 2025)

«Crês nisso?»
(João 11,26)

Texto bíblico: João 11,17-27


Para este ano de 2025, as orações e reflexões para a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos foram preparadas pelos irmãos e irmãs da comunidade monástica de Bose, no Norte da Itália. Este ano assinala o 1700º aniversário do primeiro Concílio Ecuménico, realizado em Niceia, perto de Constantinopla, em 325 d.C. Essa comemoração oferece uma oportunidade única para refletir e celebrar a fé comum dos cristãos, conforme é expressa no Credo formulado nesse Concílio; uma fé que permanece viva e fecunda nos nossos dias. A Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos de 2025 oferece uma ótima oportunidade para nos valermos dessa herança partilhada e aprofundarmos a fé que une todos os cristãos.

O Concílio de Niceia

Convocado pelo imperador Constantino, o Concílio de Niceia, segundo a tradição, contou com a participação de 318 Padres, a maioria do Oriente. A Igreja, que acabara de sair da clandestinidade e da perseguição, começava a experimentar a dificuldade de partilhar a mesma fé nos diferentes contextos culturais e políticos da época. O acordo sobre o texto do Credo definia os fundamentos essenciais comuns para sobre eles construir comunidades locais que se reconhecessem como igrejas irmãs, em que cada uma respeitava a diversidade da outra.
Nas décadas anteriores, surgiram divergências entre os cristãos, que confluíram, por vezes, em conflitos sérios. Essas disputas respeitavam a assuntos tão diversos como a natureza de Cristo em relação ao Pai, a questão de uma única data para celebrar a Páscoa e sua relação com a Páscoa judaica, a oposição a opiniões teológicas consideradas heréticas, bem como o modo de reintegrar as pessoas que tinham abandonado a fé durante as perseguições nos anos anteriores.
O texto aprovado do Credo usava a primeira pessoa do plural: «Cremos...». Essa forma sublinhava a expressão de um sentimento comum. O Credo era dividido em três partes, dedicadas às três Pessoas da Trindade, seguidas de uma conclusão que condenava as afirmações consideradas heréticas. O texto desse Credo foi revisto e ampliado no Concílio de Constantinopla em 381 d.C., em que as condenações foram removidas. Essa é a forma da profissão de fé que as igrejas cristãs reconhecem hoje como o Credo Niceno-constantinopolitano, geralmente chamado simplesmente Credo Niceno.

De 325 a 2025

Embora o Concílio de Niceia tenha estabelecido o modo como deveria ser calculada a data da Páscoa, as
divergências de interpretação subsequentes fizeram com que a festa fosse frequentemente fixada em datas diferentes no Oriente e no Ocidente. De facto, ainda aguardamos o dia em que teremos novamente uma data comum para a celebração da Páscoa. Porém, neste ano de 2025, por uma feliz coincidência, essa grande festa será celebrada na mesma data pelas igrejas do Oriente e do Ocidente.
O significado do evento salvífico celebrado por todos os cristãos no domingo de Páscoa, 20 de abril de 2025, não mudou no decurso de dezessete séculos. A Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos é uma oportunidade para que os cristãos se insiram, uma vez mais, nessa herança viva e se reapropriem dela, de modo consonante com as culturas contemporâneas, que são ainda mais diversas do que as do mundo cristão na época do Concílio de Niceia. Viver a fé apostólica juntos hoje não implica reabrir as controvérsias teológicas daquela época, que continuaram ao longo dos séculos, mas antes reler em espírito de oração os fundamentos bíblicos e as experiências eclesiais que levaram àquele Concílio e às suas decisões.

O texto bíblico

Com isso em mente, foi escolhido o texto bíblico orientador de João 11,17-27. O tema da Semana - «Crês nisso?» (v. 26)» - é inspirado no diálogo entre Jesus e Marta, quando Jesus visitou a casa de Marta e Maria em Betânia, após a morte de seu irmão Lázaro, conforme narra o evangelista João.
No início do capítulo, o Evangelho diz que Jesus amava Marta, Maria e Lázaro (v. 5) e, quando foi informado de que Lázaro estava gravemente doente, declarou que a doença dele «não leva à morte», mas que o Filho de Deus seria «glorificado por ela» (v. 4); e permaneceu onde estava por mais dois dias. Quando Jesus chegou finalmente a Betânia, apesar de ter sido avisado do risco de aí ser apedrejado (v. 8), Lázaro já estava no sepulcro havia quatro dias (v. 17). As palavras de Marta a Jesus expressam sua deceção com a chegada tardia de Jesus e talvez contenham também uma nota de reprovação: «Senhor, se estivesses aqui, meu irmão não teria morrido» (v. 21). No entanto, essa exclamação é seguida imediatamente por uma profissão de confiança no poder salvador de Jesus: «Mesmo assim, eu sei que o que pedires a Deus, ele to concederá» (v. 22). Quando Jesus lhe garante que o seu irmão ressuscitará (v. 23), ela responde afirmando a sua fé religiosa: «Eu sei que ele vai ressuscitar, na ressurreição do último dia» (v. 24). Jesus fá-la dar um passo adiante, declarando o seu poder sobre a vida e a morte e revelando a sua identidade de Messias: «Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que tenha morrido, viverá. E todo aquele que vive e crê em mim, não morrerá jamais» (v. 25 26). Após essa declaração surpreendente, Jesus desafia Marta com uma pergunta muito direta e profundamente pessoal: «Crês nisso?» (v. 26).
Tal como Marta, as primeiras gerações de cristãos não podiam ficar indiferentes ou passivas quando as palavras de Jesus tocavam e perscrutavam os seus corações. Elas procuraram sinceramente dar uma resposta compreensível à pergunta de Jesus: «Crês nisso?». Os Padres de Niceia também se esforçaram por encontrar palavras que abrangessem todo o mistério da encarnação e da paixão, morte e ressurreição de seu Senhor. Enquanto aguardam seu regresso, os cristãos de todo o mundo são chamados a testemunhar juntos essa fé na ressurreição, que é para eles a fonte de esperança e alegria, a ser compartilhada com todos os povos.

A celebração ecuménica

Neste ano de aniversário do Concílio de Niceia, a Celebração Ecuménica da Palavra de Deus da Semana de Oração pela Unidade está centrada no significado de crer e na profissão da fé tanto pessoal como comunitária, tanto o «eu creio» como o «nós cremos». O texto bíblico de que o tema da Semana é extraído, com sua pergunta desafiante - «Crês nisso?» - é proclamado num diálogo entre três leitores e a assembleia, como parte do convite à adoração. Após uma breve introdução ao primeiro Concílio Ecuménico, uma oração de abertura inspirada em Clemente de Roma (c. 35-99 d.C.) conduz às leituras do Antigo e do Novo Testamento.
Após o sermão/homilia, o diálogo entre os leitores e a assembleia continua, deixando ecoar o diálogo entre Jesus e Marta. Os participantes são convidados a celebrar sua fé comum, recebendo uma vela e compartilhando a sua chama uns com os outros como sinal da luz de Cristo Ressuscitado. Em seguida, recitam juntos o Credo Niceno.
As orações de intercessão, baseadas em escritos patrísticos [1] dos séculos II a VIII, são um convite a crescermos juntos na fé e a darmos testemunho de Deus, Pai, Filho e Espírito Santo no mundo hodierno. Em seguida, todos os presentes rezam juntos o Pai-Nosso e são despedidos com uma bênção.

O material para cada dia

Os textos fornecidos para a oração pessoal ou comunitária de cada um dos oito dias incluem duas leituras das Escrituras e um Salmo. Os textos bíblicos de cada dia destacam, por sua vez, palavras-chave do Credo Niceno.
  • Dia 1: A paternidade e o cuidado de Deus que governa o universo
  • Dia 2: A criação como obra de Deus
  • Dia 3: A encarnação do Filho
  • Dia 4: O mistério pascal: a encarnação, a paixão, a morte e a ressurreição de Jesus
  • Dia 5: O Espírito Santo, que dá a vida e a alegria
  • Dia 6: A Igreja: comunidade de crentes
  • Dia 7: O Batismo na morte e ressurreição do Senhor
  • Dia 8: A espera do Reino e a vida que virá
Em vez de reflexões para cada dia escritas recentemente, os textos das Escrituras são seguidos por breves leituras patrísticas de diferentes áreas geográficas e tradições eclesiais (grega, siríaca, arménia e latina). O objetivo da seleção desses textos breves é oferecer uma visão da reflexão cristã no primeiro milénio, que ajude a situar as definições do Concílio de Nicéia tanto nos contextos que as originaram como naqueles que foram influenciados por elas. As orações de intercessão e contemplação de cada dia convidam-nos a atualizar o conteúdo da fé compartilhado e celebrado ao longo dos tempos e em todo o mundo, encontrando nele um motivo de ação de graças.

[1] De autores cristãos do primeiros séculos.

01/12/2024

Mensagem do papa Francisco ao patriarca Bartolomeu por ocasião da Festa de Santo André

Delegação da Santa Sé liderada pelo cardeal Kurt Koch

Por ocasião da festa litúrgica de Santo André, padroeiro do Patriarcado Ecumênico de Constantinopla, o Papa Francisco enviou a 30 de novembro uma mensagem ao Patriarca Bartolomeu. A mensagem, entregue pelo cardeal Kurt Koch no final da solene Divina Liturgia celebrada na Igreja Patriarcal de São Jorge, em Fanar, reforça a importância do diálogo, da oração e do esforço conjunto para alcançar a plena comunhão entre católicos e ortodoxos. Deixamos o texto.


A Sua Santidade Bartolomeu
Arcebispo de Constantinopla
Patriarca Ecuménico

Santidade, irmão amado em Cristo

A comemoração litúrgica do Apóstolo André, padroeiro do Patriarcado Ecuménico de Constantinopla, oferece-me uma ocasião oportuna para exprimir, em nome de toda a Igreja Católica e em meu próprio nome, cordiais votos a Vossa Santidade, aos membros do Santo Sínodo, ao clero, aos monges e a todos os fiéis reunidos na Catedral Patriarcal de São Jorge em Fanar. Envio também a certeza das minhas fervorosas orações para que Deus Pai, fonte de todo o dom, conceda abundantes bênçãos celestes por intercessão de Santo André, primeiro entre os chamados e irmão de São Pedro. A delegação que enviei novamente este ano demonstra o afeto fraterno e o profundo respeito que continuo a ter por Vossa Santidade e pela Igreja confiada ao seu cuidado pastoral.
Há poucos dias, a 21 de novembro, celebrou-se o 60º aniversário da promulgação do decreto Unitatis redintegratio, que marcou a entrada oficial da Igreja Católica no movimento ecuménico. Este importante documento do II Concílio do Vaticano abriu o caminho para o diálogo com outras Igrejas. O nosso diálogo com a Igreja Ortodoxa foi e continua a ser particularmente frutuoso. O primeiro dos frutos obtidos é certamente a fraternidade renovada que hoje vivemos com particular intensidade, e por isso dou graças a Deus Pai omnipotente. No entanto, aquilo que o Unitatis redintegratio propõe como objetivo último do diálogo, a plena comunhão entre todos os cristãos, partilhando o único cálice eucarístico, ainda não se realizou nem sequer com os nossos irmãos e irmãs ortodoxos. Isto não é surpreendente, uma vez que as divisões milenares não podem ser ultrapassadas em poucos decénios. Ao mesmo tempo, como afirmam alguns teólogos, o objetivo de restabelecer a plena comunhão tem uma inegável dimensão escatológica, na medida em que o caminho para a unidade coincide com o caminho da salvação já concedida em Jesus Cristo, da qual a Igreja só participará plenamente no fim dos tempos. Isto não significa que se deva perder de vista o objetivo último, pelo qual todos ansiamos, nem que se possa perder a esperança de que tal unidade possa ser alcançada no decurso da história e dentro de um prazo razoável. Católicos e ortodoxos não devem deixar de rezar e trabalhar juntos, preparando-se para aceitar o dom divino da unidade.
O compromisso irreversível da Igreja Católica com o caminho de diálogo foi reafirmado pela recente Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, que se realizou no Vaticano de 2 a 27 de outubro de 2024. O impulso para um renovado exercício da sinodalidade na Igreja Católica fomentará certamente as relações entre a Igreja Católica e a Igreja Ortodoxa, que sempre manteve viva esta dimensão eclesial constitutiva. Para além das decisões concretas que resultarão dos trabalhos da Assembleia, viveu-se durante estes dias um clima de diálogo autêntico e franco. Num mundo dilacerado por oposições e polarizações, os participantes na Assembleia, apesar de provirem de experiências muito diferentes, conseguiram escutar-se uns aos outros sem julgar ou condenar. Escutar sem condenar deve ser também a forma como os católicos e os ortodoxos continuam o seu caminho em direção à unidade. Estou particularmente satisfeito pelo facto de representantes de outras Igrejas, incluindo o Metropolita Job da Pisídia, delegado do Patriarca Ecuménico de Constantinopla, também terem participado ativamente no processo sinodal. A sua presença e o seu trabalho assíduo enriqueceram a todos e foram um sinal tangível da atenção e do apoio que Vossa Santidade sempre deu ao processo sinodal.
Santidade, o já próximo 1700º aniversário do primeiro Concílio Ecuménico de Niceia será mais uma oportunidade para dar testemunho da crescente comunhão que já existe entre todos aqueles que são batizados em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Já exprimi várias vezes o meu desejo de poder celebrar este acontecimento juntamente convosco, e agradeço sinceramente a todos aqueles que já começaram a trabalhar para que seja possível. Este aniversário não dirá respeito apenas às duas antigas Sedes que participaram ativamente no Concílio, mas a todos os cristãos que continuam a professar a sua fé nas palavras do Credo niceno-constantinopolitano. A comemoração deste importante acontecimento reforçará certamente os laços já existentes e encorajará todas as Igrejas a dar um renovado testemunho no mundo atual. A fraternidade vivida e o testemunho dado pelos cristãos serão também uma mensagem para o nosso mundo atormentado pela guerra e pela violência. A este propósito, associo-me de bom grado à vossa oração pela paz na Ucrânia, na Palestina, em Israel e no Líbano, bem como em todas as regiões onde se trava aquilo a que muitas vezes chamei uma «guerra mundial em pedaços».
Com estes sentimentos, renovo a Vossa Santidade os meus cordiais votos de felicidades. Confiando-vos à intercessão dos Santos Irmãos Pedro e André, envio-vos um abraço fraterno em Cristo Nosso Senhor.

Roma, São João de Latrão, 30 de novembro de 2024

Francisco

19/08/2024

Tempo da Criação 2024

Todos os anos, de 1 de setembro a 4 de outubro, a família cristã une-se para a celebração mundial de oração e ação com vista à proteção da nossa casa comum. É uma época especial em que celebramos Deus como Criador e reconhecemos a Criação como ato divino contínuo, que nos chama como colaboradores a amar e cuidar do dom de tudo aquilo que é criado. Como seguidores e seguidoras de Cristo em todo o mundo, compartilhamos um chamamento comum pelo cuidado da Criação. Somos cocriaturas e parte de tudo o que Deus fez. O nosso bem-estar está interligado com o bem-estar da Terra.
Alegramo-nos com esta oportunidade de proteger a nossa casa comum e todos os seres que a partilham. Este ano, o tema para este tempo é «Ter esperança e agir com a Criação».
No meio da tripla crise planetária composta pelas mudanças climáticas, a perda de biodiversidade e a poluição, muitos estão a começar a desesperar e sofrer de ansiedade climática. Como pessoas de fé, somos chamados a fortalecer a esperança inspirada pela nossa fé, a esperança da ressurreição. Não é uma esperança sem ação, mas uma esperança encarnada em ações concretas de oração e pregação, serviço e solidariedade.
Neste ano, particularmente, também unimos as nossas vozes cristãs a uma iniciativa de mobilização conjunta para apoiar o Tratado de não proliferação de combustíveis fósseis, que exige a paralisação de novos projetos de combustíveis fósseis.

Convite dos líderes religiosos à participação no Tempo da Criação


Caras Irmãs e Irmãos em Cristo,
O Tempo da Criação é a celebração cristã anual de oração e de resposta conjunta ao clamor da Criação: a família ecuménica em todo o mundo une-se para ouvir e cuidar de nossa casa comum, o Oikos de Deus.
O período de “celebração” do Tempo da Criação começa a 1 de setembro, Festa da Criação, e termina em 4 de outubro, Festa de São Francisco de Assis, padroeiro da ecologia, amado por muitas denominações cristãs. Este ano unir-nos-emos em torno do tema «Ter esperança e agir com a Criação» e o símbolo «As primícias da esperança», inspirado em Romanos 8,19-25.
Os líderes religiosos de todo o mundo prepararam um convite especial para que possa, juntamente com a sua comunidade, participar deste Tempo. Pode visualizá-lo aqui.
Muitas pessoas também compartilharam as suas reflexões para inspirarem a nossa família ecuménica nesta jornada, à medida que pessoas cristãs de todos os lugares se preparam para testemunhar a esperança e a ação, trabalhando em conjunto com e pela Criação.
Como afirmação poderosa da importância deste período ecuménico de oração e ação pela Criação, aqui estão as palavras dos líderes religiosos da nossa família cristã, a convocar-nos para este período especial:
  • «Por muito que se tente negá-los, escondê-los, dissimulá-los ou relativizá-los, os sinais da mudança climática impõem-se-nos de forma cada vez mais evidente. Ninguém pode ignorar que, nos últimos anos, temos assistido a fenómenos extremos, a períodos frequentes de calor anormal, seca e outros gemidos da terra que são apenas algumas expressões palpáveis de uma doença silenciosa que nos afeta a todos. [...] Convido cada um a acompanhar este percurso de reconciliação com o mundo que nos alberga e a enriquecê-lo» – Sua Santidade o Papa Francisco, Bispo de Roma, Igreja Católica Romana.
  • «Foi há 35 anos que o nosso venerável antecessor, o falecido Patriarca Ecuménico Demétrios, lançou a primeira encíclica que convidava todas as pessoas de boa vontade a celebrarem o dia 1 de setembro como um dia especial de oração pela preservação do ambiente natural. [...] Hoje, em todo o planeta, numerosas igrejas cristãs e os seus fiéis reconhecem esta celebração como o Dia Mundial de Oração pela Criação ou a Festa da Criação. Este sentido de convicção ecuménica e unidade cristã é fundamental, não só porque nosso Senhor nos ordenou que "sejamos um" (João 17,21), mas também porque não podemos e não devemos esperar enfrentar as mudanças climáticas sem trabalharmos em estreita colaboração uns com os outros. Como afirmamos repetidamente, "estamos todos no mesmo barco". O cuidado da criação é um mandato e uma responsabilidade coletiva» – Sua Santidade o Patriarca Ecuménico Bartolomeu, Santa Igreja Ortodoxa.
  • «Diante da crise climática, proteger a Criação de Deus é um imperativo espiritual para os cristãos em toda a Igreja global. O Tempo da Criação inspirou-nos a unirmo-nos para orar e agir – para salvaguardarmos, sustentarmos e renovarmos a vida da Terra. É por isso que, inspirada pela liderança da Igreja Ortodoxa, a Comunhão Anglicana apoia com entusiasmo este período ecuménico. Convido os anglicanos de todo o mundo a orar pela unidade da Igreja, enquanto seguimos o chamamento de Cristo a protegermos e renovarmos o que Deus nos confiou» – Reverendíssimo Justin Welby, Arcebispo de Cantuária, Comunhão Anglicana.
  • «Na nossa 13ª Assembleia Geral, em Cracóvia (em setembro de 2023), a Federação Luterana Mundial afirmou que, como igrejas em contínua reforma, somos chamadas a trabalhar pela paz no mundo: entre as pessoas, entre os países e com toda a criação. O aumento implacável das temperaturas globais globais significou a perda de biodiversidade, de vidas, de meios de subsistência e de comunidades inteiras. A criação grita em sofrimento. Reconhecemos o apelo urgente à ação e reconhecemos que só lhe podemos responder fundados na fé. O Tempo da Criação é uma fonte de força e comunhão que nos incentiva a verdadeiramente "ter esperança e agir com a Criação"» – Rev.da Dr.ª Anne Burghardt, Secretária Geral da Federação Luterana Mundial.
  • «O Conselho Metodista Mundial, em 2016, elogiou a iniciativa de se celebrar um "Tempo da Criação" de 1 de setembro a 4 de outubro, observado pela primeira vez pelo Patriarcado Ecuménico, agora acolhido por cristãos preocupados em todo o mundo. Este é o momento de confessarmos que somos filhas e filhos pródigos que voltam para casa depois de uma devastação tão longa do céu e da terra. O nosso regresso ecológico é o nosso “caminhar juntos” (syn-hodos) com a Mãe Terra pela intercessão do Espírito Santo. Entramos num novo kairós da primavera ecuménica de renovação da Igreja Sinodal, antecipando, na medida do possível, a lógica dos novos céus e da nova terra para os quais caminhamos. Celebremos com São Paulo o papel de parteira do Espírito através da tríplice sequência "cosmoteândrica" do santo gemido da criação como Mãe Terra, do Espírito como parteira e dos crentes como filhos adotivos de Deus!» – Rev. Dr. Jong Chun J.C. Park, Presidente do Conselho Metodista Mundial.
  • «As mudanças climáticas e os desastres naturais já pairam sobre nós. O planeta está em apuros e "a criação geme", como nos lembra o Apóstolo Paulo em Romanos 8. No meio disso tudo, somos chamados a ser administradores e cidadãos responsáveis que cuidamos da terra que pertence ao Senhor e a sustentamos. Isto é a esperança em ação, enquanto oramos e ansiamos por um mundo melhor e mais seguro para todas as pessoas e para a criação. Cada um de nós precisa fazer a sua parte para cuidar dela» – Rev. Prof. Dr. Jerry Pillay, Secretário Geral, Conselho Mundial de Igrejas.
  • «Não devemos dececionar o Criador estragando a sua criação, criação que Ele nos confiou desde o princípio dos tempos e continua a proteger de nós mesmos. Nalguns lugares precisamos dizer "Basta" aos danos que estamos a infligir propositalmente à criação, cegos pela nossa ganância e desejo de lucro. Conscientes da gravidade da questão, deveríamos erguer a nossa voz numa tentativa incansável de difundir essa consciência e de a fazer tomar parte da cultura diária e do padrão de comportamento dos indivíduos, bem como das empresas. Uma mudança de paradigma é extremamente necessária» – Prof. Michel Abs, Secretário Geral, Conselho de Igrejas do Oriente Médio.
  • «Devemos abandonar os combustíveis fósseis e migrar para as energias renováveis de uma forma justa e organizada. A nossa fé convida-nos a apoiar as comunidades vulneráveis que são mais afetadas pela crise climática» – Rudelmar Bueno de Faria, Secretário Geral, ACT Alliance.
  • «O Patriarcado Ecumênico lançou pela primeira vez um dia de oração pela criação em 1989. Desde então, o Patriarca Ecuménico Bartolomeu tem defendido com paixão e paciência a proteção da criação, fazendo ecoar o "profundo anseio" desta última e a "esperança paciente" da humanidade (Romanos 8,19-25). Escutar e responder ao grito da criação já não é um luxo, uma tendência ou uma agenda. É essencial para a sustentabilidade do nosso planeta e a prosperidade dos seus habitantes» – Rev. Dr. John Chryssavgis, Diretor Executivo, Instituto Ecuménico Huffington – Escola Ortodoxa Grega de Teologia Santa Cruz, Hellenic College.
  • «O Tempo da Criação é uma ótima maneira de a sua Igreja se comprometer no cuidado do mundo criado por Deus. Inscreva-se. Aproveite ao máximo os recursos. E vamos adorar e agir, porque juntos podemos fazer a diferença» – Dr.ª Ruth Valerio, Diretora Global de Defesa de Direitos e Influência, Tearfund.
  • «Neste Tempo da Criação, exorto todas as pessoas cristãs em todos os lugares a tomarem medidas práticas, cuidando do meio ambiente, conservando os recursos naturais e promovendo a sustentabilidade para proteger a Terra. Apelo a todos os cristãos e cristãs para que participem deste Tempo da Criação, trabalhando com uma esperança renovada, pois a Criação aguarda ansiosamente a revelação dos filhos de Deus»  Seth Appiah-Kubi, Diretor Nacional, A Rocha Gana.
Cuidar da nossa casa comum não é apenas uma causa ambientalista ou tecnocrática, mas uma visão mais holística, integral, humana e espiritual, e uma questão de ecologia integral. Através da oração, da mobilização prática e de ações sustentáveis, este Tempo da Criação de 2024 pode renovar profeticamente a nossa unidade ecuménica e o cuidado com a nossa casa comum. Convidamo-lo a participar deste período especial e a juntar-se a este poderoso movimento para produzir as primícias da esperança.
Que possamos caminhar juntos e juntas, em comunhão como Povo de Deus, para honrar o nosso chamamento cristão a cuidar da Criação de Deus!

Membros do Comité Consultivo do Tempo da Criação

Tema e símbolo do Tempo da Criação de 2024


Em cada ano, o Comité Diretivo Ecuménico do Tempo da Criação propõe um tema para o Tempo da Criação.
O tema para 2024 é «Ter esperança e agir com a Criação» e o símbolo é «As primícias da esperança», inspirado em Romanos 8,19-25.
Uma observação especial sobre o tema deste ano resulta da de decisão de grafarmos "Criação" com inicial maiúscula por vários motivos. O nosso tema enfatiza que a Criação não é um objeto criado para uso humano, mas sim um sujeito com que somos chamados a nos relacionarmos e a colaborarmos como semelhantes. Ao escrever Criação com "C" maiúsculo, referimo-nos tanto à ordem criada como ao mistério do contínuo ato da criação de Deus. Reconhecemos toda a ordem criada ou todo o cosmos, incluindo todas as partes vivas e não vivas da Criação de Deus, mostrando o nosso respeito teológico, a reverência, a responsabilidade e a interdependência com o mundo natural.
Oferecemos nesta seção [...] os fundamentos teológicos do tema e o símbolo deste ano. Também pode encontrar na Adenda 3 [do Guião] alguns pontos de discussão para refletir mais sobre eles.

A Criação geme com as dores do parto (cf. Romanos 8,22)

Esta imagem bíblica retrata a Terra como uma Mãe que geme como num parto. Os tempos que vivemos mostram que não nos relacionamos com a Terra como uma dádiva do nosso Criador, mas sim como um recurso a ser utilizado. São Francisco de Assis compreendeu isso quando se referiu à Terra como nossa irmã e nossa mãe no seu Cântico das Criaturas. Como poderá a Mãe Terra cuidar de nós se não cuidarmos dela? A Criação geme por causa do nosso egoísmo e das nossas ações insustentáveis que a prejudicam.
Juntamente com a nossa Irmã, a Mãe Terra, criaturas de todos os tipos, incluindo os seres humanos, gritam por causa das nossas ações destrutivas que causam a crise climática, a perda de biodiversidade e o sofrimento humano, bem como o sofrimento da Criação. E, no entanto, há esperança e expectativa de um futuro melhor. Ter esperança, no contexto bíblico, não significa ficar parado e quieto mas sim gemer, chorar e lutar ativamente por uma nova vida no meio das lutas. Assim como no parto, passamos por um período de dor intensa, mas uma nova vida está a surgir.

A Criação espera com impaciência a revelação dos filhos de Deus (Romanos 8,19)

A Criação e todos nós somos chamados a adorar o Criador, trabalhando juntos por um futuro de esperança e ação ativas. Só quando trabalhamos juntos e unidos à Criação é que as primícias da esperança podem nascer. A teologia paulina recorda-nos que tanto a Criação como a humanidade são concebidas desde o princípio em Cristo e, portanto, são confiadas uma à outra. 
A Criação espera com impaciência a revelação dos filhos de Deus! Os filhos de Deus são aqueles que erguem as mãos ao Criador, reconhecendo-se como criaturas humildes, para louvarem e respeitarem Deus e, ao mesmo tempo, para amarem e respeitarem o dom da Criação de Deus, cuidar dela, aprender com ela. A Criação não foi dada à humanidade para ser usada e abusada; pelo contrário, a humanidade foi criada para fazer parte da Criação. Mais do que uma casa comum, a Criação é também uma família cósmica que nos chama a agir com responsabilidade. É assim que os filhos de Deus têm uma vocação intrínseca e um papel importante a desempenhar na manifestação do reino da justiça (cf. Rm 8,19).

Primícias da esperança (Romanos 8,23-25)

A esperança é um instrumento que nos permite superar a lei natural da decadência. Ela é-nos dada por Deus como proteção e salvaguarda contra a futilidade. Somente através da esperança podemos realizar o dom da liberdade em plenitude. Liberdade de agir não apenas para alcançar prazer e prosperidade, mas para alcançar o estádio em que somos livres e responsáveis. A liberdade e a responsabilidade permitem-nos tornar o mundo um lugar melhor.
Agimos por um futuro melhor porque sabemos que Cristo venceu a morte causada pelos nossos pecados. Há muita dor na Terra por causa das nossas falhas. Os nossos pecados estruturais e ecológicos infligem dor à Terra e a todas as criaturas, também a nós mesmos. Sabemos que causamos muitos danos à Criação e ao mundo em que vivemos, por causa da nossa negligência, da nossa ignorância, mas também – em muitos casos – por causa do nosso desejo insaciável de satisfazer sonhos egoístas e irrealistas (cf. Rm 8,22).
Há uma frase comumente atribuída a Santo Agostinho que diz: «A esperança tem duas filhas lindas, a indignação e a coragem; a indignação ensina-nos a não aceitar as coisas como estão; a coragem, a mudá-las». Ao testemunharmos os gritos e sofrimentos da Terra e de todas as criaturas, deixemos que a indignação sagrada nos conduza em direção à coragem de termos esperança e sermos ativos pela justiça. Acreditamos que a encarnação do Filho de Deus nos oferece a orientação que nos permite enfrentar o mundo conturbado. Deus está connosco nos esforços para respondermos aos desafios do mundo em que vivemos (cf. Rm 8,23).
Existem diferentes formas de esperança. No entanto, a esperança não é apenas otimismo. Não é uma ilusão utópica. Não está à espera de um milagre mágico. A esperança é a confiança de que a nossa ação faz sentido, mesmo que os seus resultados não sejam imediatamente visíveis (cf. Rm 8,24). A esperança não age sozinha. Anteriormente, na sua Carta aos Romanos, o apóstolo Paulo explicou a estreita relação da esperança com o processo de crescimento: «a perseverança produz a fidelidade provada, e a fidelidade provada produz esperança» (Rm 5,4). A paciência e a perseverança são íntimas da esperança. Estas são qualidades que levam à esperança.
Sabemos o quanto é urgente tomar atitudes ousadas para conter as crises climática e ecológica, e também sabemos que a conversão ecológica é um processo lento, já que os seres humanos resistem a mudar as suas mentalidades, os seus corações e os seus modos de vida. Às vezes não sabemos que tipo de atitude devemos tomar. À medida que a nossa vida caminha, todos os dias vamos tendo novas ideias e inspirações para encontrarmos um melhor equilíbrio entre a urgência e os ritmos lentos das mudanças duradouras. Podemos não compreender plenamente tudo o que acontece, podemos não compreender os caminhos de Deus, mas somos chamados a confiar e avançar com ações concretas e sustentadas, seguindo o exemplo de Cristo, o Redentor de todo o Cosmos (cf. Rm 8, 25).
Em algumas línguas, a tradução da passagem paulina exprime que a esperança não é uma espera passiva, mas uma esperança ativa (cf. Rm 8,20-21). Há muito que podemos aprender com outras culturas e países sobre como ter esperança e agir em conjunto com a Criação. A esperança deve ser entendida ativamente para não cair na armadilha da positividade superficial. Em francês existem duas maneiras diferentes de falar desta noção: espoir, que evoca a atitude de espera, e espérance, que expressa a esperança ativa na luz de Deus. A mesma nuance aparece na língua árabe, que distingue entre amal (لما ) e raja’ (ءاجر), mostrando como há muito para refletir sobre o que significa falarmos de "esperança".

Oração do Tempo da Criação 2024


Deus Uno e Trino, Criador de tudo,
Nós vos louvamos pela vossa bondade, visível em toda a diversidade que criastes, fazendo de nós uma família cósmica que vive numa casa comum. Pela Terra que criastes, recebemos amor e alimento, abrigo e proteção.
Confessamos que não nos relacionamos com a Terra como um dom maternal recebido de vós, nosso Criador. O nosso egoísmo, a ganância, a negligência e o abuso causaram a crise climática, a perda de biodiversidade, o sofrimento humano e também o sofrimento de todas as criaturas nossas irmãs. Confessamos que não conseguimos ouvir os gritos da Terra, os gritos de todas as criaturas e os gemidos do Espírito de esperança e justiça que vive dentro de nós.
Que o vosso Espírito Criador nos ajude nas nossas fraquezas, para que possamos conhecer o poder redentor de Cristo e a esperança que nele se encontra. Que os gemidos do Espírito façam nascer em nós a disponibilidade para vos servirmos fielmente, para que possamos escutar e cuidar da Criação, para esperarmos e agirmos juntamente com ela, para que floresçam as primícias da esperança.
Deus Amoroso e Criador, nós vos pedimos que nos torneis sensíveis a esses gemidos e nos façais ter a mesma compaixão de Jesus, o Senhor redentor. Concedei-nos uma nova visão do nosso relacionamento com a Terra e uns com os outros, como criaturas feitas à vossa imagem.
Em nome daquele que veio proclamar a boa-nova a toda a Criação, Jesus Cristo.
Amém