28/08/2025

Tempo da Criação 2025

Todos os anos, de 1 de setembro a 4 de outubro, a família cristã une-se para a celebração mundial de oração e ação com vista à proteção da nossa casa comum. É uma época especial em que celebramos Deus como Criador e reconhecemos a Criação como ato divino contínuo, que nos chama como colaboradores a amar e cuidar do dom de tudo aquilo que é criado. Como seguidores e seguidoras de Cristo em todo o mundo, compartilhamos um chamamento comum pelo cuidado da Criação. Somos cocriadores e parte de tudo o que Deus criou. O nosso bem-estar está interligado com o bem-estar da Terra.
Alegramo-nos com esta oportunidade de proteger a nossa casa comum e todos os seres que a partilham. Este ano, o tema para este tempo é «Paz com a Criação».

Convite dos líderes religiosos ecuménicos


Caras Irmãs e Irmãos em Cristo,
O Tempo da Criação é a celebração cristã anual para orarmos e respondermos juntos ao clamor da Criação: a família ecuménica em todo o mundo une-se para contemplar e cuidar da nossa casa comum, a Oikos de Deus.
A «Celebração» deste tempo começa no dia 1 de setembro, dia em que várias denominações cristãs celebram o Dia Mundial de Oração pela Criação e que alguns celebram como Festa da Criação, e termina no dia 4 de outubro, Festa de São Francisco de Assis, amado por muitas denominações cristãs.
Este ano, vamos unir-nos em torno do tema «Paz com a Criação», com o símbolo «Jardim da Paz», inspirado em Isaías 32, 14-18.
Líderes ecuménicos de todo o mundo prepararam um convite especial para si e para a sua comunidade participar neste tempo, que pode ser visto aqui.
Muitos também partilharam as suas reflexões para inspirar a nossa família ecuménica nesta jornada, enquanto cristãos de todo o mundo se preparam para testemunhar a esperança e a ação, trabalhando em conjunto com e pela Criação.
Como uma forte declaração sobre a importância deste tempo ecuménico de oração e ação pela Criação, aqui estão as palavras dos líderes religiosos da nossa família cristã a convocar-nos para este tempo especial:
  • «Como ensina a Sagrada Escritura, a terra pertence a Deus e todos nós habitamos nela como «estrangeiros e hóspedes» (Lv 25, 23). Se realmente queremos preparar o caminho da paz no mundo, comprometamo-nos a remediar as causas remotas das injustiças, saldemos as dívidas injustas e insolúveis, saciemos os famintos» – Sua Santidade o Papa Francisco, Bispo de Roma (de 13 de março de 2013 a 21 de abril de 2025), Igreja Católica Romana, Igreja Católica Romana.
  • «Não podemos nem devemos esperar combater as alterações climáticas sem trabalhar em estreita colaboração uns com os outros. Como já afirmámos repetidamente, "estamos todos no mesmo barco". Cuidar da criação é um mandato e uma responsabilidade coletivos» – Sua Santidade o Patriarca Ecuménico Bartolomeu, Santa Igreja Ortodoxa.
  • «Agradecemos a Deus pela nossa participação na Criação, pelo chamamento a valorizá-la, a sermos bons administradores e a discernir os sinais dos tempos. Que possamos agir juntos pela justiça, para proteger as pessoas, os animais e o mundo natural» – +Anthony Poggo, Secretário Geral, Comunhão Anglicana.
  • «Reconhecemos o apelo urgente à ação e reconhecemos que só podemos responder-lhe com base na fé. O Tempo da Criação é uma fonte de força e comunhão» – Rev.da Dr.ª Anne Burghardt, Secretária-Geral da Federação Luterana Mundial.
  • «Vamos celebrar com São Paulo o papel do Espírito como parteiro através da tríplice sequência "cosmoteândrica" do santo gemido da criação como Mãe Terra, do Espírito como parteiro e dos crentes como filhos adotivos de Deus!» – Rev. Dr. Jong Chun J.C. Park, Presidente do Conselho Metodista Mundial.
  • «Somos chamados a ser administradores e cidadãos responsáveis, cuidando e sustentando a terra que pertence ao Senhor. Cada um de nós precisa fazer a sua parte para cuidar da criação» – Rev. Prof. Dr. Jerry Pillay, Secretário-Geral, Conselho Mundial de Igrejas.
  • «Não devemos desapontar o Criador, estragando a sua criação, que Ele nos confiou desde o início dos tempos e continua a proteger-nos de nós mesmos. É extremamente necessária uma mudança de paradigma» – Prof. Michel Abs, Secretário-Geral, Conselho de Igrejas do Médio Oriente.
  • «Temos de abandonar os combustíveis fósseis e avançar para as energias renováveis de forma justa e organizada. A nossa fé exorta-nos a apoiar as comunidades vulneráveis mais afetadas pela crise climática» – Rudelmar Bueno de Faria, Secretário-Geral, ACT Alliance.
  • «Neste Tempo da Criação, exorto todos os cristãos em todo o mundo a tomarem medidas concretas para cuidar do ambiente, conservar os recursos naturais e promover a sustentabilidade para proteger a Terra. Convido todos os cristãos a aderirem a este Tempo» – Seth Appiah-Kubi, Diretor Nacional, A Rocha Gana.
  • «Estar em paz com a criação é viver em harmonia com a presença vivificante de Deus em todas as coisas. O Tempo da Criação chama-nos a uma comunhão mais profunda com a Terra, abraçando o nosso papel na obra de amor, cura e reconciliação que Deus está a realizar para toda a criação» – Dr. Hefin Jones, membro do Comité Executivo, Comunhão Mundial de Igrejas Reformadas.


Tema do Tempo da Criação de 2025


Todos os anos, o Comité Diretivo Ecuménico do Tempo da Criação propõe um tema para este Tempo.
O tema deste ano é «Paz com a Criação», inspirado em Isaías 32, 14-18: «Porque o palácio está abandonado, a cidade tumultuosa, deserta; a fortaleza de Ofel e a torre de vigia estão convertidas para sempre em terras abandonadas, para delícia dos asnos selvagens e pastagem dos rebanhos. Até que, do alto, Deus nos dê novo alento. Então o deserto se converterá em pomar e o pomar será como uma floresta. O direito habitará nestas terras, agora desertas, e a justiça reinará no futuro pomar. A justiça produzirá a paz, e daí resultará para sempre tranquilidade e segurança. O meu povo habitará num oásis de paz, em moradas tranquilas e em lugares sossegados» (BPT09).

«Porque o palácio está abandonado, a cidade tumultuosa, deserta; a fortaleza de Ofel e a torre de vigia estão convertidas para sempre em terras abandonadas, para delícia dos asnos selvagens e pastagem dos rebanhos» (Isaías 32, 14).
O profeta Isaías retrata uma Criação desolada, desprovida de paz devido à injustiça e à rutura da relação entre Deus e os homens. Cidades devastadas e terrenos baldios refletem o impacto destrutivo da humanidade na Terra. Embora o plano de Deus para a Criação esteja enraizado na justiça e na paz, o pecado humano perturba-o, deixando a Criação em ruínas desde palácios ricos a terras agrícolas, florestas e oceanos pobres. Isaías descreve vividamente os resultados do afastamento humano da Criação.
A paz não é apenas a ausência de guerra, mas a restauração de relações quebradas - com Deus, entre os seres humanos e com a Criação. A humanidade faz guerra à Criação através da produção extrativa, do consumo excessivo e da perda de biodiversidade. A ganância das empresas e o consumismo conduzem a práticas insustentáveis, mas os indivíduos também são cúmplices.
O consumo excessivo de carne, a vida de luxo, o desperdício, as emissões de gases com efeito de estufa, a utilização de produtos químicos e a poluição exemplificam o nosso papel na destruição da Criação.
Alguns são mais responsáveis por esta crise - o consumo de elite, os modelos de negócio exploradores e as teorias económicas que dão prioridade ao lucro em detrimento da sustentabilidade. A poluição, as crises sanitárias, a desflorestação e a exploração mineira em zonas de conflito agravam a situação.
A Conferência das Nações Unidas sobre Biodiversidade (COP16), realizada no ano passado em Cali, na Colômbia, com o tema «Paz com a natureza», destacou a urgência dessas questões.
O Cântico das Criaturas, de São Francisco de Assis, chama à Terra nossa irmã e mãe. Como pode a Mãe Terra nutrir-nos se não a contemplarmos, aprendermos com ela e a amarmos? Ignorar a nossa interligação mina esta relação vital.

A nossa esperança: A criação encontrará paz quando a justiça for restaurada

«O direito habitará nestas terras, agora desertas, e a justiça reinará no futuro pomar» (Isaías 32, 16).
Há esperança para uma Terra pacífica. Biblicamente, a esperança é ativa - envolve oração, ação e reconciliação com a Criação e o Criador através do arrependimento (metanoia) e da solidariedade. O Rev. Jerry Pilay, do Conselho Mundial de Igrejas, afirmou: «O mundo está em crise e o nosso ministério e serviço são cada vez mais necessários à medida que procuramos a justiça, a unidade, a paz e a reconciliação».
Isaías 32, 14-18 prevê uma Criação pacífica onde o povo de Deus vive apenas quando a justiça é alcançada. A justiça conduz à paz e restaura a fertilidade da terra: «A justiça produzirá a paz, e daí resultará para sempre tranquilidade e segurança. O meu povo habitará num oásis de paz, em moradas tranquilas e em lugares sossegados» (Isaías 32, 17-18).
A criação é um dom sagrado de Deus, confiado aos cristãos para que a protejam em paz e a transmitam às gerações futuras. A sua interligação torna a paz simultaneamente essencial e delicada» (Isaías 32, 17-18).
O Génesis revela a intenção original de Deus para uma relação harmoniosa entre os seres humanos e a Criação não humana.
O Papa Francisco desafia-nos: «Qual é o objetivo do nosso trabalho? Que necessidade tem a terra de nós? Deixar um planeta habitável às gerações futuras depende de nós» (Laudato Si', 160).
As Igrejas empenham-se globalmente em esforços em favor do clima, da agricultura e da biodiversidade, com base na teologia e num apelo profético ao arrependimento e à justiça. Só através da reconciliação uns com os outros e com o Criador - e da justiça genuína para todos os seres vivos - é que a Criação encontrará a paz, cumprindo a visão de Isaías (32, 16-18).

Um Momento Kairos: 1700 anos do Credo niceno

«Cremos num só Deus, Pai todo-poderoso, criador do céu e da terra, de todas as coisas visíveis e invisíveis. E no Senhor Jesus Cristo, por quem todas as coisas foram feitas. Cremos no Espírito Santo, o Senhor, que dá a vida» (Credo niceno*).
O ano de 2025 assinala o 1700º aniversário do Credo de Niceia.
Desde 325, os cristãos de todo o mundo têm seguido o apelo de Niceia a confessar a sua comunhão na fé e a testemunhar a sua fé no contexto de um mundo conturbado, desigual e dividido. O Credo de Niceia tornou-se um vínculo de paz e comunhão entre as igrejas. O nosso trabalho pela paz com a Criação pode apoiar-se nesta antiga e forte comunhão ecuménica. É uma expressão do Credo de Niceia hoje.
O Credo de Niceia afirma que os cristãos acreditam no Deus trino, o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Como cristãos, lemos Isaías 32, 14-18 com base na nossa fé no Deus trino: Reconhecemos o Espírito Santo no espírito de cura que Isaías prevê que seja derramado no deserto. Reconhecemos a obra de justificação do Filho no testemunho de Isaías da promessa de Deus de que «O direito habitará nestas terras, agora desertas, e a justiça reinará no futuro pomar» (Isaías 32, 16).
No nosso mundo conturbado, desigual e dividido, somos fortalecidos pela confissão de fé e pela comunhão ecuménica estabelecida em Niceia a seguir o apelo de Isaías e permanecer firmes no nosso testemunho da promessa de paz de Deus para toda a Criação. Por isso, perante os conflitos e as lutas, proclamemos a promessa de Deus: «A justiça produzirá a paz, e daí resultará para sempre tranquilidade e segurança» (Isaías 32, 17).

*NB: Foi utilizada na citação a versão do Credo atualizada em 381, conhecida como “Credo niceno-constantinopolitano”.

Um apelo à ação: «A justiça produzirá a paz»

Deus chama-nos a ser pacificadores (Mateus 5, 9). Somos chamados a viver em paz, a adorar o Criador e a trabalhar por uma comunidade justa e sustentável que se alinhe com os planos eternos de Deus. Como colaboradores do Criador, temos de encarnar a paz com toda a Criação.
  • «O meu povo habitará num oásis de paz» (v. 18). A paz de Deus é incondicional, enraizada na justiça e na retidão para todas as pessoas e para a Criação. A paz não pode existir apenas para alguns.
  • «Em moradas tranquilas e em lugares sossegados» (v. 18). Deus declarou “boa” toda a Criação. Apesar dos danos causados pelo pecado (Génesis 3, 17-19), a biodiversidade reflete generosidade e abundância. Através de Cristo, Deus tornou-se humano, chamando-nos a aprender com a Criação, a respeitá-la e a protegê-la.
  • «A cidade tumultuosa, deserta» (v. 14). Rezemos e respondamos aos gritos das comunidades que perdem terras e meios de subsistência devido à guerra, às alterações climáticas ou à usurpação de terras, e das que são sobrecarregadas por práticas insustentáveis ou por dívidas.
  • «Até que, do alto, Deus nos dê novo alento» (v. 15). O Espírito guia-nos para a conversão ecológica e para uma compreensão mais profunda da nossa família cósmica. Temos de mudar as nossas mentalidades, abraçar a justiça e ensinar estes valores às gerações futuras.
  • A paz com a Criação exige passos proativos. Jesus ensinou o arrependimento e a justiça reparadora. Temos de reparar as relações quebradas: entre os seres humanos e a Terra, os seres humanos e as outras criaturas, e os seres humanos e Deus.
  • «A justiça produzirá a paz» (v. 17). Embora os desafios possam parecer esmagadores, Cristo recorda-nos: «Com Deus tudo é possível» (Mateus 19, 26). A esperança alimenta a ação; através da oração, do discernimento e do empenho, podemos criar uma base para a mudança.
  • A paz de Deus emerge quando trabalhamos pela justiça, a solidariedade, a reconciliação e a harmonia com a Criação. A transformação requer paciência, compreensão e confiança.
  • A ação pode incluir a defesa de causas, projetos de sustentabilidade, campanhas de limpeza ou educação para mostrar que cuidar da Criação é fundamental para a nossa fé. Temos de colaborar e basear-nos diversidade para alcançar a paz.
  • «O deserto converter-se-á em pomar» (v. 15). Os processos de paz, como a reflorestação, a limpeza de rios ou a construção de poços, podem unir até grupos divididos.
Que o Espírito seja derramado sobre nós para que possamos trabalhar juntos pela paz com a Criação.

Símbolo do Tempo da Criação de 2025



O símbolo de 2025 é inspirado em Isaías 32, 14-18. Intitulado «Jardim da Paz», retrata uma pomba branca a voar sobre uma árvore. O lado esquerdo da árvore está árido, com raízes a penetrar no solo seco, rodeado por uma paisagem árida e desolada. Em contraste, o lado direito da árvore é exuberante e verde, erguendo-se no meio de uma paisagem florescente. A pomba, carregando um ramo de oliveira no bico, voa para a direita, simbolizando a paz como uma transição de uma terra devastada pela guerra e excessivamente explorada para uma terra fértil, próspera e hospitaleira.
Lembremo-nos que a humanidade foi originalmente chamada a cuidar de um jardim. No curso do Tempo da Criação deste ano, refletiremos sobre a conexão entre cuidar da criação e promover a paz. A pomba branca com um ramo de oliveira é um símbolo de paz reconhecido mundialmente. Na história de Noé, também significa uma nova vida após a destruição.
Nota: Este logótipo não pretende diminuir o valor único dos ecossistemas do deserto e das suas criaturas, que também fazem parte da criação de Deus. Além disso, o deserto tem um papel significativo na Bíblia.

Oração do Tempo da Criação 2025


Criador de tudo,
Nós Te louvamos pelo dom da vida
e pela fé que nos une no cuidado da nossa casa comum.
Confessamos que nos afastamos uns dos outros,
da tua Criação e do nosso verdadeiro eu.
Reconhecemos que a nossa ganância e os nossos impulsos destrutivos
fraturaram as nossas relações contigo, com os outros e com a Terra.
Os campos férteis tornaram-se áridos,
as florestas estão desoladas,
os oceanos e os rios estão poluídos.
Comunidades prósperas tornaram-se lugares de sofrimento,
e a terra clama.

Amado Cristo,
que disseste "shalom" aos corações assustados,
estimula-nos a uma ação compassiva.
Inspira-nos a trabalhar pelo fim dos conflitos
e pela restauração total das relações quebradas
- contigo, com a comunidade ecuménica,
com a família humana
e com toda a Criação.

 Príncipe da Paz,
através das tuas feridas,
ensina-nos a ser solidários com os feridos,
com a Criação e com o mundo.
Através da tua ressurreição,
faz de nós pessoas de esperança
- com uma visão de espadas transformadas em arados
e lágrimas transformadas em alegria.
Que possamos unir-nos como uma família,
para trabalhar pela tua paz
- um "shalom" onde todo o teu povo possa viver em segurança
e descansar em lugares tranquilos.
Amém.