Por ocasião da Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos 2019, D. Manuel Linda, bispo do Porto, publicou a seguinte mensagem na página "web" da Diocese do Porto.
Guiados pelo Espírito
Os gregos antigos chamavam "oikuméne" a toda a terra habitada. O cristianismo pediu-lhes a palavra e manteve-lhe o significado. Por isso, às assembleias dos bispos convocadas para discutir âmbitos que interessassem a todos os crentes, chamou-lhes Concílios Ecuménicos. Só perto de nós, em pleno século XX, é que a palavra se transmutou um pouquito e passou a significar espírito de abertura, capacidade de escuta, disponibilidade para o diálogo, prazer de caminhar com os demais.
Mesmo aqui, ainda é visível o sentido de tensão para a unidade. Mas, primitivamente, estava mais expressa a ideia da comum condição humana: ser pessoa é habitar o espaço que nos é concedido e, já que pisamos o mesmo terreno e respiramos o mesmo ar, nele harmonizarmos o nosso viver com os outros, sob pena de passarmos a vida aos encontrões.
Este dado da união é tão determinante para o cristianismo que, no Credo, o colocou como a primeira nota constitutiva do "corpo" que o vive e exprime: “Creio na Igreja una…”. Pode mesmo dizer-se que, no primeiro milénio, a unidade constituiu o maior empenho e desafio para a Igreja. Por isso, quando as fraturas se verificaram, sofreu-as como o pecado dos pecados.
E hoje? Os passos iniciais para a unidade foram intentados pelos nossos irmãos separados. E começaram pelas «bases»: os estudos universitários, os movimentos juvenis cristãos, as iniciativas do “Evangelho social” que viria a gerar o dito “a doutrina divide, o serviço une” e, fundamentalmente, a colaboração e a ajuda entre os missionários protestantes. A Igreja Católica viria a juntar-se a este movimento, de alma e coração, a partir do Concílio Vaticano II e da sua persuasão de que o dinamismo ecuménico é um “impulso suscitado e guiado pelo Espírito” (UR 1).
Como seguir por esta via? É válido tudo o que o Espírito gerou no coração dos iniciadores do movimento ecuménico: a indispensável renovação teológica, a colaboração na caridade, o sentimento de unidade que advém da oração e do trabalho pastoral conjunto. Conquanto não nos esqueçamos de um dado: a renovação e reforma de todas as Igrejas. É que, se as divisões se deveram, quase sempre, aos atrasos, inadequações, soberbas, orgulhos e outros pecados dos cristãos, em especial dos ministros/dirigentes, a solução, logicamente, passa por um contínuo confronto com o Evangelho, com o Espírito, com a graça e com a purificação do coração.
O ecumenismo nada tem a ver com as “joint ventures”: não é uma questão de fortalecimento empresarial, de eficiência ou facilidade para a conquista de mercado. O ecumenismo é o sentido da orientação interior pelo qual se toma consciência da vontade fundacional de Cristo que pede ao Pai: “Que todos sejam um, como tu, ó Pai, o és em mim, e eu em ti” (Jo 17, 21).
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