A 18 de agosto, divulgámos o tema e os recursos alusivos ao Tempo da Criação 2023, cuja celebração decorre de 1 de setembro a 4 de outubro, sob o tema Que a justiça e a paz fluam. Entretanto, a 25 de agosto, o presidente do Conselho das Conferências Episcopais da Europa, o arcebispo Gintaras Grušas, e o presidente da Conferência das Igrejas Europeias, o arcebispo Nikitas di Thyateira, publicaram uma declaração conjunta a propósito do Tempo da Criação 2023, convidando todos os cristãos das igrejas, paróquias e comunidades e as pessoas de boa vontade de toda a Europa a observarem o Tempo da Criação num espírito ecuménico, unidos na oração e na ação. Divulgamo-la aqui em tradução portuguesa, juntando-a aos restantes recursos já disponibilizados.
Antes de se tornar profeta, Amós tinha um pedaço de terra, uma família e um trabalho. De repente, experimentou a pobreza, enfrentando o exílio e tornando-se um refugiado, sentindo a dor de recordar o passado e vivendo a incerteza do seu próprio futuro.
Amós viu a injustiça que feria o seu próprio povo, o contraste doloroso entre ricos e pobres. Suportou a seca e a perda dos frutos da terra. Com esta experiência, aprendeu o que significava a pobreza e a incerteza. Inesperadamente, ouviu a voz de Deus e encontrou no seu coração a força para pregar graciosamente aos pobres, pronunciando palavras de esperança com uma prontidão incansável.
Foi nesta experiência espiritual do profeta Amós, cujo nome significa «portador de fardos», que encontrámos a inspiração para a celebração ecuménica deste ano do Tempo da Criação - «Que a justiça e a paz fluam» -, que faz referência às palavras do Livro de Amós: «Flua o direito como a água e a justiça como uma torrente perene» (cf. Am 5,24).
O símbolo espiritual deste ano é um rio impetuoso; é a água, um elemento simples e essencial presente na nossa vida, sinal de vida e de purificação nas nossas tradições religiosas. A água recorda-nos o nosso Batismo e o nosso compromisso de conversão e de vida nova. A água, no entanto, não é acessível a todos de forma segura, apesar de ser tão essencial para a sobrevivência humana. Muitas pessoas continuam a não ter acesso a água potável; outras tiveram recentemente de fugir das suas aldeias devido à seca. Muitos dos nossos irmãos e irmãs em todo o mundo são obrigados a repetir as palavras de Jesus: «Tenho sede» (cf. Jo 19,28). Outros ainda tiveram de fugir por causa das inundações, sejam elas devidas a causas naturais ou humanas.
Neste tempo de oração e de conversão, escutemos o apelo dos nossos irmãos e irmãs, vítimas de várias formas de injustiça ambiental. Por isso, dirigimo-nos a Deus de coração humilde, oferecendo-lhe a nossa oração: «Senhor, que a justiça e a paz fluam no nosso mundo, na nossa casa comum».
Sempre que, com tristeza, vemos pessoas com sede ou a lutar contra a seca, rezemos: «Que a justiça e a paz fluam». Sempre que vemos a destruição desumana da guerra, como na Ucrânia, na Somália, no Iémen, na Eritreia, em Myanmar e em muitos outros lugares do mundo, onde as necessidades básicas encontram obstáculos ou onde a água é usada como arma contra civis inocentes, voltemos a repetir: «Que a justiça e a paz fluam».
Neste tempo de oração e de conversão, recordemo-nos que Deus quer que cada um de nós se comporte de forma equitativa e pacífica em todas as situações da vida. Se cultivarmos uma relação de confiança com Deus, com os nossos irmãos e irmãs e com a natureza, então uma justiça e uma paz efetivas fluirão abundantemente no meio de nós.
Como Igrejas cristãs, e com o coração orante, oferecemos os nossos contributos e reflexões para a próxima Conferência das Nações Unidas sobre as alterações climáticas (COP28), organizada pelas Nações Unidas no Dubai (Emirados Árabes Unidos), de 30 de novembro a 12 de dezembro de 2023, convidando também todos os líderes mundiais e todas as pessoas de boa vontade a escutarem a ciência e a comprometerem-se na aplicação equitativa do Acordo de Paris. A oportunidade de criar um modo de vida mais equitativo e sustentável para toda a humanidade depende do nosso compromisso de protegermos a nossa casa comum, mudando o modo de vida, favorecendo a temperança e a sobriedade na utilização dos recursos que são para nós um dom de Deus. Mas, de uma forma especial, depende do compromisso e do trabalho de reflexão daqueles que estão mais diretamente envolvidos na política e na vida social.
Convidamos todos os cristãos das igrejas, paróquias, comunidades e todas as pessoas de boa vontade em toda a Europa a observarem e celebrarem o Tempo da Criação 2023, de 1 de setembro a 4 de outubro, num espírito ecuménico, unidos na oração e na ação.
Neste Tempo da Criação, desejamos ser testemunhas de Cristo, fonte de água viva. Queremos trabalhar e rezar para que as nossas igrejas se tornem espaços acolhedores onde se ouça claramente uma voz que proclama: «Que a justiça e a paz fluam como uma torrente perene no nosso mundo».
25 de agosto de 2023
Presidente do Conselho das Conferências Episcopais da Europa
Arcebispo Nikitas de Thyateira
Presidente da Conferência das Igrejas Europeias