Francisco Ribeiro da Silva
2 de maio de 2017
Centro de Cultura Católica - Porto, 21.00 h.
Martinho Lutero foi um protagonista da História porque iniciou um movimento
de reforma religiosa em 1517 que acabou por dividir e separar os cristãos.
A separação permanece até aos dias de hoje, com outras dimensões para
além da religiosa.
As comemorações dos 500 anos de separação entre Católicos e Protestantes
não devem ser feitas senão em perspetiva ecuménica, interessada em buscar
caminhos de reaproximação e de reconquista da unidade perdida.
Mas factos são factos. A Reforma luterana, para ser entendida, deve ser situada
no seu tempo histórico. Ora o tempo histórico da Reforma, sob o ponto
de vista mais geral da civilização europeia, foi um tempo de charneira, de
passagem da Idade Media para os tempos Modernos e de início de uma certa
globalização. Mudanças profundas causadas por acontecimentos estruturantes
como a invenção da imprensa, a descoberta das Américas e do caminho
marítimo para a Índia, o início da revolução científica, a queda do Império
Bizantino e da conquista de Constantinopla pelos Turcos, o Humanismo e o
Renascimento, o dealbar do capitalismo comercial.
Se Martinho Lutero foi o protagonista da Reforma, justifica-se que nos debrucemos
sobre ele. Primeiro procuraremos conhecer o juízo que dele foi feito
pelos historiadores protestantes e católicos ao longo destes quinhentos anos.
Esse juízo vai da mitificação dos admiradores à quase maldição dos detratores.
Mas, a partir do séc. XX foi possível um julgamento mais sereno, com base na
documentação histórica. A conclusão hoje mais ou menos consensual é que
Lutero foi um homem e um monge profundamente religioso e empenhado em
encontrar o Deus verdadeiro e em promover a sua glória.
Depois, conheceremos algo mais das circunstâncias de Lutero e perceber
por que é que a questão da salvação eterna foi para ele um problema existencial
angustiante. Verificaremos que essa questão não foi motivo de ansiedade apenas
para ele mas também para o era para as pessoas da sua época, no sentido
colectivo mas também das pessoas individualmente consideradas. Estudaremos
como é que ele chegou à descoberta do ponto fundamental da sua teologia
que é a justificação pela fé, isto é, à certeza de que a salvação de cada um não
é merecida pelas obras praticadas, mas é obtida apenas pela graça de Deus,
através da fé. E como essa descoberta respondeu e correspondeu aos anseios
de muitos.
Mas o sucesso da Reforma não está apenas no sossego espiritual que adveio
da «descoberta» de Lutero mas também de outras circunstâncias históricas externas
propícias que analisaremos. Como o desenvolvimento da Reforma teve
o seu ponto de partida em 1517 e na publicitação das 95 teses sobre o poder e
a eficácia das indulgências, daremos alguma atenção a este episódio e ao seu
peso na Reforma. Esclareceremos finalmente que a súmula doutrinal de Lutero
foi além da justificação pela fé e incluiu a afirmação do sacerdócio universal
e a indicação da Bíblia como única fonte da revelação de Deus.