10/01/2020

Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos (18 a 25 de janeiro de 2020)

«Trataram-nos com uma amabilidade fora do comum»
(At 27,18 - 28,10) 

Os materiais para a Semana de Oração pela Unidade Cristã de 2020 foram preparados pelas Igrejas cristãs em Malta e Gozo (Cristãos Unidos em Malta). Em 10 de fevereiro, muitos cristãos em Malta celebram a festa do naufrágio de São Paulo, destacando e agradecendo a chegada da fé cristã nessas ilhas. A leitura de Atos dos Apóstolos usada na festa é o texto escolhido para a Semana de Oração deste ano.
A história começa com Paulo a ser levado para Roma como prisioneiro (At 27,1ss). Paulo está preso, mas mesmo numa viagem que se torna perigosa, a missão de Deus continua através dele.
Essa narrativa é um clássico drama da humanidade confrontada com o aterrorizante poder dos elementos da natureza. Os passageiros do navio estão expostos às forças do mar e das poderosas tempestades que se erguem ao seu redor. Essas forças levam-nos a um território desconhecido, onde estão perdidos e sem esperança.
As 276 pessoas a bordo do navio são divididas em grupos distintos. O centurião e seus soldados têm poder e autoridade mas dependem da perícia e da experiência dos marinheiros. Embora todos estejam assustados e vulneráveis, os prisioneiros são os mais vulneráveis de todos. As suas vidas são consideradas dispensáveis, eles estão em risco de uma execução sumária (cf. 27,42). À medida que a história se desenvolve, sob pressão e temendo por suas vidas, vemos desconfiança e suspeita a ampliar as divisões entre os diferentes grupos.
Notavelmente, porém, Paulo ergue-se como um centro de paz no tumulto. Ele sabe que a sua vida não é governada por forças indiferentes ao seu destino, mas está segura nas mãos do Deus a quem ele pertence e serve (cf. 27,23). Por causa da sua fé, ele está confiante de que se erguerá diante do imperador em Roma, e na força da sua fé pode erguer-se diante dos seus companheiros de viagem e dar graças a Deus. Todos estão encorajados. Seguindo o exemplo de Paulo, eles partilham pão, unidos numa nova esperança e confiando nas suas palavras.
Isso indica o tema principal dessa passagem: a providência divina. Foi decisão do centurião navegar com mau tempo, mas ao longo da tempestade os marinheiros tomam decisões sobre como lidar com o navio. Mas ao final os seus próprios planos são alterados e, somente permanecendo juntos e permitindo que o navio naufrague, eles chegam a ser salvos pela divina providência. O navio e toda a sua valiosa carga perder-se-ão, mas todas as vidas serão salvas: “nenhum de vós perderá um cabelo sequer da vossa cabeça” (cf. 27,34; Lc 21,18). Na nossa busca da unidade cristã, entregar-nos à divina providência vai exigir deixar de lado muitas coisas a que estamos profundamente ligados. O que importa para Deus é a salvação de todas as pessoas.
Esse grupo de pessoas diversas e em conflito desembarca numa ilha (cf 27,26). Tendo sido jogados juntos no mesmo navio, chegam ao mesmo destino, onde a sua unidade humana se manifesta na hospitalidade que recebem dos nativos da ilha. Ao unirem-se ao redor do fogo, cercados por um povo que nem os conhece nem os compreende, as diferenças de poder e posição social esvaem-se. Os 276 não estão mais na dependência de forças indiferentes, mas envolvidos pela amorosa previdência de Deus, que se mostra presente através de um povo que lhes demonstra uma “benevolência fora do comum” (cf. 28,2). Com frio e molhados, eles podem aquecer-se e secar perto do fogo. Com fome, recebem comida. São abrigados até que seja seguro para eles continuar a viagem.
Hoje muitas pessoas estão a enfrentar terrores semelhantes nesses mesmos mares. Os mesmos lugares mencionados no texto lido (cf. 27,1; 28,1) também fazem parte das histórias de migrantes de tempos modernos. Em outras partes do mundo muitos outros estão fazendo jornadas igualmente perigosas por terra e pelo mar para escapar de desastres naturais, guerra e pobreza. As suas vidas também estão expostas a forças imensas e friamente indiferentes - não apenas naturais, mas também políticas, económicas e humanas. Essa indiferença humana assume várias formas: a indiferença dos que vendem lugares em barcos inadequados para pessoas desesperadas; a indiferença que leva à decisão de não enviar barcos de socorro; a indiferença que faz mandar embora barcos de imigrantes. Isso são apenas alguns exemplos. Como cristãos unidos encarando as crises da migração, essa história desafia-nos: apoiamos as frias forças da indiferença, ou mostramos “benevolência fora do comum” e tornamo-nos testemunhas da amorosa providência de Deus para todas as pessoas?
A hospitalidade é uma virtude muito necessária na nossa busca da unidade cristã. É uma prática que nos leva a uma maior generosidade para os necessitados. As pessoas que mostraram benevolência fora do comum a Paulo, e os seus companheiros não conheciam ainda Cristo, mas mesmo assim é através da sua benevolência fora do comum que um povo dividido vai ficando unido. A nossa própria unidade cristã será descoberta não apenas ao mostrarmos hospitalidade de uns para os outros, embora isso seja muito importante, mas também através de encontros amigáveis com aqueles que não partilham a nossa língua, cultura ou fé.
Em tais viagens tempestuosas e encontros casuais, a vontade de Deus para a Igreja e para todas as pessoas será cumprida. Como Paulo proclamará em Roma, a salvação de Deus foi enviada a todos os povos (cf. At 28,28).
As reflexões para os oito dias e a celebração serão baseadas no texto dos Atos dos Apóstolos. Os temas para os oito dias são:
Dia 1: Reconciliação: Atirar a carga ao mar.
Dia 2: Iluminação: Buscar e apresentar a luz de Cristo.
Dia 3: Esperança: Mensagem de Paulo
Dia 4: Confiança: Não tenhas medo, crê.
Dia 5: Fortalecimento: Partilhar o pão para a viagem.
Dia 6: Hospitalidade: Demonstrar uma amabilidade fora do comum.
Dia 7: Conversão: Mudar os nossos corações e mentes
Dia 8: Generosidade: Receber e dar.