01/12/2023

Mensagem do Papa Francisco ao Patriarca Bartolomeu de Constantinopla por ocasião da Festa de Santo André

No contexto da tradicional troca de Delegações por ocasião das respetivas festas dos Santos Padroeiros, a 29 de junho em Roma para a celebração de São Pedro e São Paulo e a 30 de novembro em Istambul para a celebração de Santo André, o Cardeal Kurt Koch, Prefeito do Dicastério para a Promoção da Unidade dos Cristãos, liderou a Delegação da Santa Sé por ocasião da festa do Patriarcado Ecuménico. O Cardeal foi acompanhado pelos outros Superiores do Dicastério, Mons. Brian Farrell, Secretário, e Mons. Andrea Palmieri, Subsecretário. Em Istambul, juntou-se à Delegação o Núncio Apostólico na Turquia, o Arcebispo Marek Solczyński.
A Delegação da Santa Sé participou na Divina Liturgia solene presidida pelo Patriarca Bartolomeu, na Igreja Patriarcal de São Jorge em Fanar, teve um encontro com o Patriarca e manteve conversações com a Comissão Sinodal encarregada das relações com a Igreja Católica.
O Cardeal Koch entregou ao Patriarca Ecuménico uma Mensagem autógrafa do Santo Padre, que leu publicamente no final da Divina Liturgia. Segue-se o texto.

A Sua Santidade Bartolomeu
Arcebispo de Constantinopla
Patriarca Ecuménico

Movido por cordiais sentimentos de afeto fraterno, e recordando os profundos laços de fé, esperança e caridade que unem as Igrejas irmãs de Roma e Constantinopla, envio-vos, caro Irmão em Cristo, fervorosos votos pela festa do Santo Apóstolo André, irmão de São Pedro e protokletos, patrono celeste e protetor da Igreja de Constantinopla e do Patriarcado Ecuménico.
Saúdo também os membros do Santo Sínodo, o clero, os monges e as monjas, bem como todos os fiéis reunidos na Igreja Patriarcal de São Jorge nesta solene ocasião.
A festa de hoje precede a comemoração de um acontecimento verdadeiramente histórico: o encontro em Jerusalém entre o Papa Paulo VI e o Patriarca Ecuménico Atenágoras, em janeiro de 1964. Este encontro constituiu um passo fundamental para derrubar a barreira da incompreensão, da desconfiança e até da hostilidade que existia há quase um milénio. Vale a pena notar que hoje recordamo-nos não tanto as palavras e as declarações desses Pastores proféticos, mas, sobretudo, o seu caloroso abraço. De facto, é muito significativo que este caminho de reconciliação, de aproximação crescente e de superação dos obstáculos que ainda impedem uma comunhão plena e visível, tenha começado com um abraço, um gesto que exprime de forma eloquente o reconhecimento mútuo da fraternidade eclesial.
O exemplo do Papa Paulo VI e do Patriarca Atenágoras mostra-nos que todos os caminhos autênticos para o restabelecimento da plena comunhão entre os discípulos do Senhor se caraterizam pelo contacto pessoal e pelo tempo passado em conjunto. Além disso, através do diálogo amistoso, da oração comum e da ação conjunta ao serviço da humanidade, especialmente daqueles que são atingidos pela pobreza, pela violência e pela exploração, os membros das diferentes Igrejas acabam por descobrir cada vez mais profundamente a sua confiança comum na providência amorosa de Deus Pai, a sua esperança na vinda do Reino inaugurado por Jesus Cristo e o seu desejo comum de exercer a virtude da caridade inspirada pelo Espírito Santo.
Com a ajuda de Deus, pudemos continuar o caminho traçado pelos nossos Veneráveis Predecessores, renovando muitas vezes a alegria de nos encontrarmos e abraçarmos uns aos outros. A este propósito, é-me particularmente grato recordar o nosso recente encontro em Roma, e renovo a minha gratidão pela sua participação na Vigília Ecuménica de Oração realizada na véspera da abertura da XVI Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos, dedicada ao tema: "Para uma Igreja sinodal: comunhão, participação e missão". O seu apoio pessoal e o do Patriarcado Ecuménico, expressos também através da participação de um delegado fraterno nos trabalhos da Assembleia, são uma grande fonte de encorajamento na prossecução fecunda do processo sinodal em curso na Igreja Católica.
Nesta festa do Apóstolo André, pedimos fervorosamente a Deus, nosso Pai misericordioso, que cesse o ruído das armas, que só traz morte e destruição, e que os responsáveis governamentais e religiosos procurem sempre o caminho do diálogo e da reconciliação. Que os Santos Apóstolos Pedro e André intercedam por todos os povos e implorem para eles os dons da comunhão fraterna e da paz.
Amado irmão em Cristo, renovando de bom grado os meus mais fervorosos votos, troco convosco um abraço fraterno de paz em Cristo Nosso Senhor.

Roma, São João de Latrão, 30 de novembro de 2023

Francisco