01/12/2024

Mensagem do papa Francisco ao patriarca Bartolomeu por ocasião da Festa de Santo André

Delegação da Santa Sé liderada pelo cardeal Kurt Koch

Por ocasião da festa litúrgica de Santo André, padroeiro do Patriarcado Ecumênico de Constantinopla, o Papa Francisco enviou a 30 de novembro uma mensagem ao Patriarca Bartolomeu. A mensagem, entregue pelo cardeal Kurt Koch no final da solene Divina Liturgia celebrada na Igreja Patriarcal de São Jorge, em Fanar, reforça a importância do diálogo, da oração e do esforço conjunto para alcançar a plena comunhão entre católicos e ortodoxos. Deixamos o texto.


A Sua Santidade Bartolomeu
Arcebispo de Constantinopla
Patriarca Ecuménico

Santidade, irmão amado em Cristo

A comemoração litúrgica do Apóstolo André, padroeiro do Patriarcado Ecuménico de Constantinopla, oferece-me uma ocasião oportuna para exprimir, em nome de toda a Igreja Católica e em meu próprio nome, cordiais votos a Vossa Santidade, aos membros do Santo Sínodo, ao clero, aos monges e a todos os fiéis reunidos na Catedral Patriarcal de São Jorge em Fanar. Envio também a certeza das minhas fervorosas orações para que Deus Pai, fonte de todo o dom, conceda abundantes bênçãos celestes por intercessão de Santo André, primeiro entre os chamados e irmão de São Pedro. A delegação que enviei novamente este ano demonstra o afeto fraterno e o profundo respeito que continuo a ter por Vossa Santidade e pela Igreja confiada ao seu cuidado pastoral.
Há poucos dias, a 21 de novembro, celebrou-se o 60º aniversário da promulgação do decreto Unitatis redintegratio, que marcou a entrada oficial da Igreja Católica no movimento ecuménico. Este importante documento do II Concílio do Vaticano abriu o caminho para o diálogo com outras Igrejas. O nosso diálogo com a Igreja Ortodoxa foi e continua a ser particularmente frutuoso. O primeiro dos frutos obtidos é certamente a fraternidade renovada que hoje vivemos com particular intensidade, e por isso dou graças a Deus Pai omnipotente. No entanto, aquilo que o Unitatis redintegratio propõe como objetivo último do diálogo, a plena comunhão entre todos os cristãos, partilhando o único cálice eucarístico, ainda não se realizou nem sequer com os nossos irmãos e irmãs ortodoxos. Isto não é surpreendente, uma vez que as divisões milenares não podem ser ultrapassadas em poucos decénios. Ao mesmo tempo, como afirmam alguns teólogos, o objetivo de restabelecer a plena comunhão tem uma inegável dimensão escatológica, na medida em que o caminho para a unidade coincide com o caminho da salvação já concedida em Jesus Cristo, da qual a Igreja só participará plenamente no fim dos tempos. Isto não significa que se deva perder de vista o objetivo último, pelo qual todos ansiamos, nem que se possa perder a esperança de que tal unidade possa ser alcançada no decurso da história e dentro de um prazo razoável. Católicos e ortodoxos não devem deixar de rezar e trabalhar juntos, preparando-se para aceitar o dom divino da unidade.
O compromisso irreversível da Igreja Católica com o caminho de diálogo foi reafirmado pela recente Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, que se realizou no Vaticano de 2 a 27 de outubro de 2024. O impulso para um renovado exercício da sinodalidade na Igreja Católica fomentará certamente as relações entre a Igreja Católica e a Igreja Ortodoxa, que sempre manteve viva esta dimensão eclesial constitutiva. Para além das decisões concretas que resultarão dos trabalhos da Assembleia, viveu-se durante estes dias um clima de diálogo autêntico e franco. Num mundo dilacerado por oposições e polarizações, os participantes na Assembleia, apesar de provirem de experiências muito diferentes, conseguiram escutar-se uns aos outros sem julgar ou condenar. Escutar sem condenar deve ser também a forma como os católicos e os ortodoxos continuam o seu caminho em direção à unidade. Estou particularmente satisfeito pelo facto de representantes de outras Igrejas, incluindo o Metropolita Job da Pisídia, delegado do Patriarca Ecuménico de Constantinopla, também terem participado ativamente no processo sinodal. A sua presença e o seu trabalho assíduo enriqueceram a todos e foram um sinal tangível da atenção e do apoio que Vossa Santidade sempre deu ao processo sinodal.
Santidade, o já próximo 1700º aniversário do primeiro Concílio Ecuménico de Niceia será mais uma oportunidade para dar testemunho da crescente comunhão que já existe entre todos aqueles que são batizados em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Já exprimi várias vezes o meu desejo de poder celebrar este acontecimento juntamente convosco, e agradeço sinceramente a todos aqueles que já começaram a trabalhar para que seja possível. Este aniversário não dirá respeito apenas às duas antigas Sedes que participaram ativamente no Concílio, mas a todos os cristãos que continuam a professar a sua fé nas palavras do Credo niceno-constantinopolitano. A comemoração deste importante acontecimento reforçará certamente os laços já existentes e encorajará todas as Igrejas a dar um renovado testemunho no mundo atual. A fraternidade vivida e o testemunho dado pelos cristãos serão também uma mensagem para o nosso mundo atormentado pela guerra e pela violência. A este propósito, associo-me de bom grado à vossa oração pela paz na Ucrânia, na Palestina, em Israel e no Líbano, bem como em todas as regiões onde se trava aquilo a que muitas vezes chamei uma «guerra mundial em pedaços».
Com estes sentimentos, renovo a Vossa Santidade os meus cordiais votos de felicidades. Confiando-vos à intercessão dos Santos Irmãos Pedro e André, envio-vos um abraço fraterno em Cristo Nosso Senhor.

Roma, São João de Latrão, 30 de novembro de 2024

Francisco