06/01/2025

Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos (18 a 25 de janeiro de 2025)

«Crês nisso?»
(João 11,26)

Texto bíblico: João 11,17-27


Para este ano de 2025, as orações e reflexões para a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos foram preparadas pelos irmãos e irmãs da comunidade monástica de Bose, no Norte da Itália. Este ano assinala o 1700º aniversário do primeiro Concílio Ecuménico, realizado em Niceia, perto de Constantinopla, em 325 d.C. Essa comemoração oferece uma oportunidade única para refletir e celebrar a fé comum dos cristãos, conforme é expressa no Credo formulado nesse Concílio; uma fé que permanece viva e fecunda nos nossos dias. A Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos de 2025 oferece uma ótima oportunidade para nos valermos dessa herança partilhada e aprofundarmos a fé que une todos os cristãos.

O Concílio de Niceia

Convocado pelo imperador Constantino, o Concílio de Niceia, segundo a tradição, contou com a participação de 318 Padres, a maioria do Oriente. A Igreja, que acabara de sair da clandestinidade e da perseguição, começava a experimentar a dificuldade de partilhar a mesma fé nos diferentes contextos culturais e políticos da época. O acordo sobre o texto do Credo definia os fundamentos essenciais comuns para sobre eles construir comunidades locais que se reconhecessem como igrejas irmãs, em que cada uma respeitava a diversidade da outra.
Nas décadas anteriores, surgiram divergências entre os cristãos, que confluíram, por vezes, em conflitos sérios. Essas disputas respeitavam a assuntos tão diversos como a natureza de Cristo em relação ao Pai, a questão de uma única data para celebrar a Páscoa e sua relação com a Páscoa judaica, a oposição a opiniões teológicas consideradas heréticas, bem como o modo de reintegrar as pessoas que tinham abandonado a fé durante as perseguições nos anos anteriores.
O texto aprovado do Credo usava a primeira pessoa do plural: «Cremos...». Essa forma sublinhava a expressão de um sentimento comum. O Credo era dividido em três partes, dedicadas às três Pessoas da Trindade, seguidas de uma conclusão que condenava as afirmações consideradas heréticas. O texto desse Credo foi revisto e ampliado no Concílio de Constantinopla em 381 d.C., em que as condenações foram removidas. Essa é a forma da profissão de fé que as igrejas cristãs reconhecem hoje como o Credo Niceno-constantinopolitano, geralmente chamado simplesmente Credo Niceno.

De 325 a 2025

Embora o Concílio de Niceia tenha estabelecido o modo como deveria ser calculada a data da Páscoa, as
divergências de interpretação subsequentes fizeram com que a festa fosse frequentemente fixada em datas diferentes no Oriente e no Ocidente. De facto, ainda aguardamos o dia em que teremos novamente uma data comum para a celebração da Páscoa. Porém, neste ano de 2025, por uma feliz coincidência, essa grande festa será celebrada na mesma data pelas igrejas do Oriente e do Ocidente.
O significado do evento salvífico celebrado por todos os cristãos no domingo de Páscoa, 20 de abril de 2025, não mudou no decurso de dezessete séculos. A Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos é uma oportunidade para que os cristãos se insiram, uma vez mais, nessa herança viva e se reapropriem dela, de modo consonante com as culturas contemporâneas, que são ainda mais diversas do que as do mundo cristão na época do Concílio de Niceia. Viver a fé apostólica juntos hoje não implica reabrir as controvérsias teológicas daquela época, que continuaram ao longo dos séculos, mas antes reler em espírito de oração os fundamentos bíblicos e as experiências eclesiais que levaram àquele Concílio e às suas decisões.

O texto bíblico

Com isso em mente, foi escolhido o texto bíblico orientador de João 11,17-27. O tema da Semana - «Crês nisso?» (v. 26)» - é inspirado no diálogo entre Jesus e Marta, quando Jesus visitou a casa de Marta e Maria em Betânia, após a morte de seu irmão Lázaro, conforme narra o evangelista João.
No início do capítulo, o Evangelho diz que Jesus amava Marta, Maria e Lázaro (v. 5) e, quando foi informado de que Lázaro estava gravemente doente, declarou que a doença dele «não leva à morte», mas que o Filho de Deus seria «glorificado por ela» (v. 4); e permaneceu onde estava por mais dois dias. Quando Jesus chegou finalmente a Betânia, apesar de ter sido avisado do risco de aí ser apedrejado (v. 8), Lázaro já estava no sepulcro havia quatro dias (v. 17). As palavras de Marta a Jesus expressam sua deceção com a chegada tardia de Jesus e talvez contenham também uma nota de reprovação: «Senhor, se estivesses aqui, meu irmão não teria morrido» (v. 21). No entanto, essa exclamação é seguida imediatamente por uma profissão de confiança no poder salvador de Jesus: «Mesmo assim, eu sei que o que pedires a Deus, ele to concederá» (v. 22). Quando Jesus lhe garante que o seu irmão ressuscitará (v. 23), ela responde afirmando a sua fé religiosa: «Eu sei que ele vai ressuscitar, na ressurreição do último dia» (v. 24). Jesus fá-la dar um passo adiante, declarando o seu poder sobre a vida e a morte e revelando a sua identidade de Messias: «Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que tenha morrido, viverá. E todo aquele que vive e crê em mim, não morrerá jamais» (v. 25 26). Após essa declaração surpreendente, Jesus desafia Marta com uma pergunta muito direta e profundamente pessoal: «Crês nisso?» (v. 26).
Tal como Marta, as primeiras gerações de cristãos não podiam ficar indiferentes ou passivas quando as palavras de Jesus tocavam e perscrutavam os seus corações. Elas procuraram sinceramente dar uma resposta compreensível à pergunta de Jesus: «Crês nisso?». Os Padres de Niceia também se esforçaram por encontrar palavras que abrangessem todo o mistério da encarnação e da paixão, morte e ressurreição de seu Senhor. Enquanto aguardam seu regresso, os cristãos de todo o mundo são chamados a testemunhar juntos essa fé na ressurreição, que é para eles a fonte de esperança e alegria, a ser compartilhada com todos os povos.

A celebração ecuménica

Neste ano de aniversário do Concílio de Niceia, a Celebração Ecuménica da Palavra de Deus da Semana de Oração pela Unidade está centrada no significado de crer e na profissão da fé tanto pessoal como comunitária, tanto o «eu creio» como o «nós cremos». O texto bíblico de que o tema da Semana é extraído, com sua pergunta desafiante - «Crês nisso?» - é proclamado num diálogo entre três leitores e a assembleia, como parte do convite à adoração. Após uma breve introdução ao primeiro Concílio Ecuménico, uma oração de abertura inspirada em Clemente de Roma (c. 35-99 d.C.) conduz às leituras do Antigo e do Novo Testamento.
Após o sermão/homilia, o diálogo entre os leitores e a assembleia continua, deixando ecoar o diálogo entre Jesus e Marta. Os participantes são convidados a celebrar sua fé comum, recebendo uma vela e compartilhando a sua chama uns com os outros como sinal da luz de Cristo Ressuscitado. Em seguida, recitam juntos o Credo Niceno.
As orações de intercessão, baseadas em escritos patrísticos [1] dos séculos II a VIII, são um convite a crescermos juntos na fé e a darmos testemunho de Deus, Pai, Filho e Espírito Santo no mundo hodierno. Em seguida, todos os presentes rezam juntos o Pai-Nosso e são despedidos com uma bênção.

O material para cada dia

Os textos fornecidos para a oração pessoal ou comunitária de cada um dos oito dias incluem duas leituras das Escrituras e um Salmo. Os textos bíblicos de cada dia destacam, por sua vez, palavras-chave do Credo Niceno.
  • Dia 1: A paternidade e o cuidado de Deus que governa o universo
  • Dia 2: A criação como obra de Deus
  • Dia 3: A encarnação do Filho
  • Dia 4: O mistério pascal: a encarnação, a paixão, a morte e a ressurreição de Jesus
  • Dia 5: O Espírito Santo, que dá a vida e a alegria
  • Dia 6: A Igreja: comunidade de crentes
  • Dia 7: O Batismo na morte e ressurreição do Senhor
  • Dia 8: A espera do Reino e a vida que virá
Em vez de reflexões para cada dia escritas recentemente, os textos das Escrituras são seguidos por breves leituras patrísticas de diferentes áreas geográficas e tradições eclesiais (grega, siríaca, arménia e latina). O objetivo da seleção desses textos breves é oferecer uma visão da reflexão cristã no primeiro milénio, que ajude a situar as definições do Concílio de Nicéia tanto nos contextos que as originaram como naqueles que foram influenciados por elas. As orações de intercessão e contemplação de cada dia convidam-nos a atualizar o conteúdo da fé compartilhado e celebrado ao longo dos tempos e em todo o mundo, encontrando nele um motivo de ação de graças.

[1] De autores cristãos do primeiros séculos.