20/03/2023

Celebração Ecuménica no Hospital de São João (23 mar, 21h)

A Celebração Ecuménica que, desde 2000, se realiza no Hospital de São João, na quinta-feira anterior ao Domingo de Lázaro, é um acontecimento de suma importância. Foi neste Hospital que se iniciou o processo de criar uma cultura de reconhecimento do direito dos doentes a serem assistidos segundo a sua opção espiritual e religiosa e a abertura da cultura da saúde a esta dimensão do “Homem Inteiro”. Por causa dos doentes, esta Celebração é também por causa da sociedade portuguesa onde a diversidade religiosa é cada vez maior e temos que aprender a viver em paz e cooperação.
Todos são convidados a participar na Celebração Ecuménica na noite do próximo dia 23 de março, pelas 21 horas, na Capela do Centro Hospitalar Universitário de São João, no piso 9, presidida pelo Bispo Auxiliar do Porto, D. Vitorino Soares. Estarão presentes Bispos e ministros das várias confissões cristãs presentes na área geográfica da Diocese do Porto. Os participantes na celebração podem estacionar no parque do Hospital.

SAER CHUSJ
Voz Portucalense [edição online] (17 mar. 2023).

23/01/2023

Cristãos unidos em oração pelo bem e pela justiça

A água e a rocha foram os símbolos da unidade concreta entre os cristãos que se reuniram em oração na Igreja Metodista do Mirante na cidade do Porto em Celebração Nacional [a 21 de janeiro]. No âmbito da Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, que decorre de 18 a 25 de janeiro, o texto que serviu de base aos encontros pela unidade propõe uma frase do profeta Isaías: «Aprendei a fazer o bem, procurai a justiça».
Foram os cristãos do Estado do Minnesota nos Estados Unidos da América quem preparou o texto deste ano de 2023 e que em Portugal foi adaptado numa edição conjunta da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) e do Conselho Português de Igrejas Cristãs (COPIC). Um documento para motivar a oração e a reflexão pela unidade dos cristãos.
Na celebração na Igreja do Mirante estiveram presentes os seguintes hierarcas cristãos: D. Sifredo Teixeira da Igreja Metodista, que presidiu à celebração, D. Manuel Linda, bispo do Porto, D. Jorge Pina Cabral, da Igreja Lusitana da Comunhão Anglicana e representante do COPIC, D. Manuel Felício, bispo da Guarda, representando a CEP, a Pastora Sandra Reis, pela Igreja Presbiteriana, o padre Ivan Buhakov, pela Igreja Ortodoxa Ucraniana, o padre Alexander Piscounov pela Igreja Ortodoxa Russa e ainda o Diácono Peter Eisele pela Igreja Evangélica Alemã do Porto. Também presentes nesta celebração, em representação da Comissão Ecuménica do Porto, o Reverendo Sérgio Alves da Igreja Lusitana e o padre Mário Henrique da Igreja Católica.
«Há que situar a justiça no coração», disse D. Manuel Linda na reflexão que foi convidado a fazer neste significativo momento de oração pela unidade. O bispo do Porto sustentou a necessidade de se “tomar a justiça não como mecanismo condenatório dos outros, mesmo dos pecadores e criminosos, mas como tentativa de aproximação e de salvação no amor e na misericórdia”.
«Correspondamos ao Deus justo cirando áreas de relação e comunhão entre nós e entre as nossas Igrejas», disse o bispo do Porto.
Nota especial para a reflexão proposta pela Pastora Sandra Reis, ao afirmar que «a justiça em misericórdia é farol para a relação entre os seres humanos».
A representante da Igreja Presbiteriana exortou os cristãos a serem «instrumento e testemunho da vontade de Deus», afirmando que «num mundo cheio de iniquidades, Deus quer justiça».
«A imagem de Deus é transmitida por nós», declarou a Pastora Sandra Reis.

Roteiro Ecuménico 2023
No final da celebração nacional pela Unidade dos Cristãos, foi apresentado, pelo Reverendo Sérgio Alves, o Roteiro Ecuménico para o ano 2023 com todas as celebrações e encontros já agendados e programados. Um trabalho cada vez mais visível e que revela o especial valor da comunicação e da colaboração entre os cristãos para a unidade.
O próprio Papa Francisco deu mais um forte sinal de diálogo e aproximação para a unidade entre os cristãos ao convocar, no passado domingo 15 de janeiro, uma Vigília Ecuménica para o início da primeira sessão da XVI Assembleia do Sínodo dos bispos. A vigília terá lugar no Vaticano a 30 de setembro e será organizada pela Comunidade Ecuménica de Taizé. «Desde já, convido os irmãos e irmãs de todas as confissões cristãs a participar neste encontro do Povo de Deus», disse Francisco na ocasião.

RS
Igreja Portucalense [online] (22 de janeiro de 2023)



14/01/2023

Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos no Grande Porto 2023

«Aprendei a fazer o bem, procurai a justiça» (Is 1,17) é o tema proposto para a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, de 18 a 25 de janeiro (Oitavário).
O guião elaborado para o efeito foi preparado por cristãos do Estado do Minesota, USA, e adaptado em Portugal, numa edição conjunta da CEP – Conferência Episcopal Portuguesa e do COPIC – Conselho Português de Igrejas Cristãs.
Para além de várias iniciativas locais, destaca-se, ao nível do grande Porto, a Celebração Ecuménica Nacional com a Celebração Diocesana, no sábado, 21 de janeiro, pelas 16h00 na Igreja Metodista do Mirante (Praça Coronel Pacheco, Porto) com a colaboração da Comissão Ecuménica do Porto (www.ecumenismoporto.org).




06/01/2023

Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos (18 a 25 de janeiro de 2023)

«Aprendei a fazer o bem, procurai a justiça»
(Isaías 1, 17)


Aleksandra Maszestow, To nic…
Introdução
Isaías viveu e profetizou em Judá durante o oitavo século antes de Cristo e foi contemporâneo de Amós, Miqueias e Oseias. Isso aconteceu no fim de um período de sucesso económico e de estabilidade tanto para Israel como para Judá, devido à fraqueza dos “superpoderes” daquele tempo, o Egito e a Assíria. No entanto, foi também um período no qual a injustiça, a iniquidade e as desigualdades eram crescentes em ambos os reinos.
Esse período também viu a religião desenvolver-se como uma expressão ritual e formal da fé em Deus, concentrada nas oferendas e sacrifícios no templo. Essa religião formal e ritual era presidida pelos sacerdotes, que eram também os beneficiários da grandeza dos ricos e poderosos. Devido à proximidade física e à conexão entre o palácio real e o templo, o poder e a influência estavam quase inteiramente no rei e nos sacerdotes, não tendo nenhum dos quais, por longo período dessa história, se erguido em defesa dos que estavam a sofrer a opressão e a iniquidade. Na visão que se tinha naquele mundo (que se repete através da história), os ricos e os que faziam ofertas eram vistos como bons e abençoados por Deus, enquanto os pobres, que não podiam oferecer sacrifícios, eram vistos como perversos e amaldiçoados por Deus. Os pobres frequentemente eram rejeitados pela sua inabilidade económica de participar plenamente da adoração no templo.
Isaías falou nesse contexto, tentando despertar a consciência do povo de Judá para a realidade da sua situação. Em vez de exaltar a religiosidade contemporânea como uma bênção, Isaías viu-a como uma ferida infecciosa e um sacrilégio diante do Todo Poderoso. A injustiça e a desigualdade levam à fragmentação e à desunião. As profecias de Isaias, além de denunciarem a hipocrisia de oferecer sacrifícios enquanto se oprime o pobre, denunciam as más estruturas políticas, sociais e religiosas. Ele fala vigorosamente tanto contra os líderes corruptos, como em favor dos desfavorecidos, enraizando o direito e a justiça exclusivamente em Deus.
O grupo de trabalho indicado pelo Conselho das Igrejas de Minnesota escolheu este versículo do primeiro capítulo do profeta Isaías como texto central para a Semana de Oração: «Aprendei a fazer o bem, procurai a justiça, chamai à razão o espoliador, fazei justiça ao órfão, tomai a defesa da viúva» (1,17).
Isaías ensinou que Deus exige de todos nós um comportamento correto e exige que pratiquemos a justiça, em todos os instantes e campos da vida. O mundo de hoje espelha de muitas maneiras os desafios de divisão com que Isaías se confrontou na sua pregação. A justiça, a retidão e a unidade têm a sua origem no amor profundo de Deus por cada um de nós. Estão no coração do que Deus é e do que Deus espera que sejamos uns para com os outros. O compromisso de Deus de criar uma humanidade «de todas as nações, tribos, povos e línguas» (Ap 7,9) chama-nos à paz e à unidade que Deus sempre quis para a criação.
A linguagem do profeta no que diz respeito à religiosidade de seu tempo é feroz – «Cessai de trazer oferendas vãs: da fumaça (incenso) tenho horror… Quando estendeis as mãos cubro os olhos» (versículos 13 e 15). Tendo proclamado essas condenações inflamadas e diagnosticado o que está errado, Isaías oferece os remédios para tais iniquidades. Ele instrui o povo de Deus dizendo: «Lavai-vos, purificai-vos. Tirai do alcance do meu olhar as vossas más ações; cessai de fazer o mal» (versículo 16).
Também nos dias de hoje a separação e a opressão continuam a manifestar-se quando qualquer grupo ou classe recebe privilégios acima de outros. O pecado do racismo é evidente em qualquer crença ou prática que distinguem ou elevam uma “raça” [1] acima de outra. Quando isso é acompanhado ou sustentado por desequilíbrios no poder, o preconceito racial supera os relacionamentos individuais e atinge as próprias estruturas da sociedade – com a sistemática perpetuação do racismo. A existência desse preconceito devido simplesmente à cor da pele ou à associação cultural baseada em perceções de “raça” tem beneficiado injustamente alguns, incluindo igrejas, e sobrecarregado e excluído a outros.
Tal como os líderes religiosos tão veementemente denunciados pelos profetas bíblicos, também alguns cristãos têm sido ou continuam a ser cúmplices da aceitação ou da perpetuação de preconceitos, da opressão e do crescimento da divisão. A história mostra que, em vez de reconhecerem a dignidade de todo ser humano criado à imagem e semelhança de Deus, muitos cristãos deixam-se frequentemente envolver por estruturas de pecado como a escravidão, a colonização, a segregação e a separação que feriram outros na sua dignidade por questões raciais. Assim também dentro das Igrejas, muitos cristãos têm falhado no reconhecimento da dignidade de todos os batizados e têm desprezado a dignidade dos seus irmãos e irmãs em Cristo, baseando-se em supostas diferenças raciais.
O Reverendo Dr. Martin Luther King Jr memoravelmente disse: «É uma das tragédias da nossa nação, uma das vergonhosas tragédias, que o horário das 11 da manhã de domingo seja uma das horas mais segregativas, ou a mais segregativa hora na América cristã». Essa declaração demonstra as conexões entre a desunião dos cristãos e a desunião da humanidade. Todas as divisões têm a sua raiz no pecado, isto é, em atitudes e ações que vão contra a unidade que Deus deseja para o conjunto da sua criação. O racismo é, tragicamente, parte do pecado que tem dividido os cristãos entre si, fazendo-os celebrar em horários separados, em lugares separados e, em certos casos, tem levado à divisão em algumas comunidades cristãs.
Infelizmente pouca coisa mudou após a declaração de Martin Luther King. O horário das 11 horas da manhã – o mais comum para as celebrações dominicais – frequentemente não mostra a unidade cristã, mas, pelo contrário, mostra a divisão, evidenciando classificações e separações raciais e sociais. Como Isaías proclamou, essa hipocrisia entre pessoas de fé é uma ofensa diante de Deus: «podeis multiplicar as orações, não as escuto: vossas mãos estão cheias de sangue» (v 15).

Aprendei a fazer o bem
No texto da Escritura escolhido para a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos de 2023, o profeta Isaías nos ensina como podemos curar esses males. Aprender a fazer o que é certo requer a decisão de entrar num processo de autorreflexão. A Semana de Oração é o tempo perfeito para os cristãos reconhecerem que as nossas Igrejas e confissões não podem ficar separadas por conta das divisões que existem dentro da mais ampla família humana. Orar juntos pela unidade dos cristãos permite-nos uma reflexão sobre aquilo que nos une e compromete-nos a enfrentar a opressão e a divisão vivida na humanidade.
O profeta Miqueias mostra que Deus nos disse o que é bom e o que quer de nós: «respeitar o direito, amar a fidelidade e caminhar humildemente com seu Deus» (Mq 6,8). Para agir com justiça temos que respeitar todas as pessoas. A justiça exige um tratamento verdadeiramente igualitário para corrigir a desvantagem histórica baseada na “raça”, no género, na religião e no status socioeconómico. Caminhar humildemente com Deus requer arrependimento, reparações e, finalmente, reconciliação. Deus espera que nos unamos numa responsabilidade partilhada pela igualdade de todos os seus filhos. A unidade dos cristãos deve ser um sinal e uma amostra da unidade reconciliada de toda a criação. No entanto, a divisão entre os cristãos enfraquece esse sinal, servindo para reforçar a divisão em vez de trazer cura para as falhas do mundo, que é a missão da Igreja.

Procurai a justiça
Isaías aconselha Judá a buscar a justiça (v. 17), e isso é um reconhecimento da existência da injustiça e da opressão naquela sociedade. Ele implora que o povo de Judá reverta esse status quo. A busca pela justiça requer que enfrentemos aqueles que fazem o mal a outros. Isso não é uma tarefa fácil e algumas vezes levará a conflitos, mas Jesus assegura que buscar a justiça contra a opressão leva-nos ao Reino dos céus. «Felizes os perseguidos por causa da justiça: deles é o Reino dos céus» (Mt 5,10). As Igrejas em muitas partes do mundo percebem como se acomodaram diante de normas sociais e como se calaram ou foram cúmplices no que diz respeito à injustiça social. O preconceito racial tem sido uma das causas da divisão cristã que despedaçou o Corpo de Cristo. Ideologias nocivas, como a Supremacia Branca e a «doutrina da descoberta» [2] têm causado muitos danos, particularmente na América do Norte e em terras por todo o mundo, colonizadas por poderes europeus brancos ao longo dos séculos. Como cristãos precisamos de querer desmontar os sistemas de opressão e defender a justiça.
O ano em que o grupo de redação do Minnesota esteve a preparar os textos para a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos foi marcado pela maldade, pela devastação e pela opressão vividas de várias maneiras no mundo. Esse sofrimento foi muito acentuado em inúmeras regiões, especialmente no Hemisfério Sul, pela epidemia da Covid-19, onde até mesmo a subsistência básica foi para muitos quase impossível, e a assistência prática esteve bastante ausente. O autor do Eclesiastes parece estar a falar de uma experiência assim: «Vi, ainda, todas as opressões praticadas debaixo do sol. Os oprimidos choram e pedem ajuda, mas ninguém os consola, ninguém os liberta da violência dos seus opressores» (Ecl 4,1).
A opressão é nociva para toda a raça humana. Não pode haver unidade sem justiça. Ao orarmos pela unidade dos cristãos, precisamos de perceber a opressão atual e de nos comprometermos resolutamente a arrepender-nos desses pecados. Podemos dirigir para nós a orientação de Isaías: «Lavai-vos, purificai-vos» porque «as vossas mãos estão cheias de sangue» (Is 1,15.16).

Socorrer os oprimidos
A Bíblia diz-nos que não podemos separar a nossa relação com Cristo da nossa atitude em relação ao povo de Deus, particularmente aos que são considerados «os mais pequeninos» (Mt 25,40). O nosso compromisso de uns para com os outros requer uma atitude de mishpat, palavra hebraica para justiça restaurativa, defendendo aqueles cujas vozes não foram ouvidas, desmantelando estruturas que criam e alimentam a injustiça, e construindo outras que promovam e garantam que todos recebam o justo tratamento e tenham os seus direitos respeitados. Esse trabalho precisa de estender-se para além dos nossos amigos, família e congregações, abrangendo o conjunto da humanidade. Os cristãos são chamados a ouvir os gritos dos que estão a sofrer, para compreenderem melhor e responderem às histórias dos seus sofrimentos e traumas. O Reverendo Martin Luther King declarou com frequência que «uma revolta é a linguagem dos que não são ouvidos». Quando se erguem frequentemente protestos e movimentos civis é porque a voz dos que protestam não está a ser ouvida. Se as Igrejas unirem as suas vozes à dos oprimidos, o seu grito pela justiça e pela libertação será amplificado. Servimos e amamos a Deus e ao próximo servindo e amando uns aos outros em unidade.

Defender o órfão, zelar pela viúva
As viúvas e os órfãos ocupam um lugar especial na Bíblia hebraica, juntamente com os estrangeiros, enquanto representantes dos membros mais vulneráveis da sociedade. No contexto do sucesso económico em Judá no tempo de Isaías, a situação dos órfãos e das viúvas era desesperante, estavam desprovidos de proteção e do direito de possuir terra e, portanto, não tinham capacidade de cuidar das suas necessidades. O profeta faz um apelo à comunidade, que gozava de prosperidade, para que não negligencie, para que defenda e alimente os mais pobres e mais vulneráveis que ali se encontravam. Esse apelo profético ecoa no nosso tempo, quando consideramos: Quem quais são as pessoas mais vulneráveis na nossa sociedade? Que vozes não estão a ser ouvidas nas nossas comunidades? Quem é que não está representado na mesa? Porquê? Quais são as Igrejas e comunidades que estão fora dos nossos diálogos, da nossa ação comum e da nossa oração pela unidade dos cristãos? Ao orarmos juntos durante a Semana de Oração, o que é que gostaríamos de fazer a respeito dessas vozes ausentes?

Conclusão
Isaías desafiou o povo de Deus do seu tempo a aprender a fazer o bem em conjunto, a socorrer em conjunto os oprimidos, a defender o órfão e a zelar pela viúva em união. A proposta desafiante aplica-se igualmente a nós hoje. Como podemos viver a nossa unidade como cristãos para enfrentarmos os males e as injustiças de nosso tempo? Como podemos entrar em diálogo, aumentar a perceção, a compreensão e a visão das experiências de vida uns dos outros? Essas preces e encontros de coração têm o poder de nos transformar individual e coletivamente. Estejamos abertos à presença de Deus em todos os nossos encontros uns com os outros, enquanto procuramos ser transformados para desmantelarmos os sistemas de opressão e curarmos os pecados do racismo. Comprometamo-nos juntos na luta pela justiça na nossa sociedade. Todos pertencemos a Cristo.

17/10/2022

O ecumenismo depois de Karlsruhe

O
Segretariato Attività Ecumeniche (Itália) organizou em 29 de setembro passado um webinar dedicado à Assembleia do Conselho Ecuménico das Igrejas (CEI) realizada em Karlsruhe, na Alemanha, de 31 de agosto a 8 de setembro. Moderado pelo teólogo Simone Morandini, contou com as intervenções do pastor valdense Michel Charbonier e do monge da Comunidade Ecuménica de Bose Guido Dotti, estes últimos participantes diretos na assembleia.


Simone Morandini salientou o carácter especial da Assembleia Ecuménica de Karlsruhe, tendo em conta o momento dramático em que teve lugar, precisamente no continente europeu. De facto, confrontou-se com os desafios da guerra, as alterações climáticas e as tensões nas relações entre as confissões cristãs.
Karlsrue foi um momento significativo para compreender em que direção avança o ecumenismo e o diálogo na comunhão eclesial.
Seguem-se algumas passagens das intervenções de de Michel Charbonnier, membro reeleito do Comité Central do CEI, e de Guido Dotti, colaborador do CEI.

Cristianismo das diferenças


Michel Charbonnier começou por referir as sensações produzidas pela beleza das celebrações litúrgicas, em particular os cânticos que remetem imediatamente para a polifonia do encontro entre as diferentes Igrejas.
Um aspeto que nos impressiona sempre, ao participar na Assembleia, é uma sensação inesperada de proximidade e boa vontade entre todos os participantes.
Claro que existem diferenças: culturais, éticas e teológicas, muitas vezes difíceis de compreender e de aceitar. Mas as crises mundiais mais urgentes – especialmente a crise climática – ajudaram a "limar as arestas" para chegar às convergências da Assembleia.
Karlsruhe testemunhou um mundo a tentar falar entre si e a tentar fazê-lo – mesmo que nem sempre se consiga – de uma forma inclusiva. Além disso, falar com quatro mil pessoas presentes não foi fácil.

Demasiada cautela?


Como delegado, Charbonnier viu todos os limites organizativos do evento.
As manhãs foram dedicadas a sessões plenárias temáticas, frequentemente com sessões bastante "espetaculares", em que foram acolhidas figuras ecuménicas de prestígio, ou entoados cânticos, mostrados vídeos, etc.: tudo coisas boas, que, no entanto, retiraram tempo à discussão dos documentos e à tomada de decisões.
Aos delegados eram dadas pouco menos de três horas por dia para desempenharem uma tarefa tão exigente. Esta é uma das razões – não secundária  pela qual saímos da Assembleia com grande cautela  talvez demasiada  no que diz respeito aos temas mais importantes, especialmente a guerra entre a Rússia e a Ucrânia ou o eterno conflito israelo-palestiniano.
O texto sobre a Ucrânia seguiu basicamente a linha do Comité Central da CEI realizado anteriormente em Assis. Não há dúvida de que isto levou a um "fogo cruzado" entre os membros ucranianos e os russos da Assembleia, tendo estes últimos criticado fortemente o documento porque, na sua opinião, era fruto da desinformação ucraniana.
Sobre o Médio Oriente, o debate cristalizou-se no uso do termo apartheid em relação à política israelita face aos palestinianos: no essencial, o texto limitou-se a propor que o comité central estudasse com a Amnistia Internacional e com outras associações a legitimidade do uso da expressão.

Ecologia e paz


A Declaração sobre Justiça Climática constitui um forte alerta para o desastre ecológico em curso e convida as Igrejas a ações urgentes junto dos respetivos governos, propondo, por exemplo, uma taxação elevada dos grandes patrimónios. O documento adverte para o risco de que a tão apregoada transição ecológica resulte em mais uma exploração do chamado Terceiro ou Quarto Mundo, onde se encontram os principais recursos necessários para a chamada economia verde.
O documento sobre a paz é, segundo Chabonnier, o mais detalhado, pois vai ao ponto de denunciar a responsabilidade da indústria do armamento que continua a alimentar os conflitos mundiais, denunciando, em termos inequívocos, o risco nuclear: algo que já não acontecia há muito tempo!
Charbonnier não esconde a atual fraqueza do CEI e uma certa "incoerência sistémica", infelizmente atribuível à influência de elementos externos, políticos: emblemática, neste sentido, foi a intervenção do representante de Religions for peace, que convidou a Assembleia a voltar a ser uma consciência crítica e profética do nosso mundo, em vez de "ter a sua agenda ditada" pelos governos.
Apesar das debilidades, das dificuldades e mesmo das incoerências, o CEI continua a ser um instrumento precioso da relação entre as Igrejas cristãs e do diálogo entre estas e as outras religiões.

Tensões não superadas


Como tinha sido previsto por Simone Morandini, o webinar prestou especial atenção a quanto, na Assembleia do CEI de Karlsruhe, foi muitas vezes gasto no que se refere à guerra na Ucrânia. Charbonnier, como membro do comité central, falou da hipótese, efetivamente posta em circulação, da expulsão da Igreja Ortodoxa Russa.
A posição defendida na discussão reafirmou, contudo, que a tarefa do Conselho Ecuménico não é a de remover problemas com exclusões, mas a de se encarregar deles, criando um espaço de diálogo persistente e sem julgamentos.
O Conselho, na circunstância, não se mostrou, contudo, capaz de suster adequadamente a tensão entre os dois polos  russo e ucraniano  nem de ser um lugar de diálogo efetivo e de parrhesía extrema. Os representantes da Igreja Ortodoxa Russa tinham lamentado em junho que o Concílio Ecuménico estivesse à mercê da propaganda pró-ucraniana.
Em Karlsruhe lamentaram a mesma coisa. Mas, entretanto, nada fizeram para trazer à discussão as questões no seio do CEI. Isto ficou, por isso, totalmente em falta. Resta a confiança de que o que faltou possa ser recuperado durante o próximo mandato.

Moscovo na defensiva


Guido Dotti confirmou as atitudes particularmente fechadas e defensivas do Patriarcado de Moscovo. Mas salientou que não se deve subestimar o facto de as "novas" Igrejas Ortodoxas na Ucrânia  a que ainda está em comunhão com o Patriarca de Moscovo e a autocéfala vinculada a Constantinopla  terem pedido para aderir ao CEI. Isto criar-lhes-á inevitavelmente problemas com o Patriarcado de Moscovo.
A primeira já era de facto membro do Conselho, embora nunca tenha participado nas reuniões; enquanto, para a segunda, a aceitação pelo Conselho significará o pleno reconhecimento da autocefalia.
Assim, os representantes das duas Igrejas ucranianas, em vez de se culparem mutuamente pelo que correu mal entre elas, preferiram colocar em primeiro lugar o interesse humanitário comum face à tragédia da guerra.
São bem conhecidos  já antes e independentemente da guerra  episódios de abuso de poder de uns contra os outros e vice-versa: agora salientam a própria vontade de cuidar dos fiéis ucranianos em conjunto, em vez de procurarem culpas e responsabilidades.
Pode tratar-se, indubitavelmente, de uma posição pouco mais do que diplomática, mas o facto de ter sido manifestada diante de todas as Igrejas, numa modalidade "não beligerante", é extremamente positivo.

Andrea Cappelletti
Settimana news (16 de outubro de 2022)

31/08/2022

XI Assembleia do Conselho Ecuménico das Igrejas

Começam hoje e prolongam-se até 8 de setembro, em Karlsruhe, os trabalhos da XI Assembleia do Conselho Ecuménico Mundial das Igrejas (CEI) sobre o tema «O amor de Cristo impele o mundo à reconciliação e à unidade».
A Assembleia representa o mais alto nível de governo do CEI. Reunida de oito em oito anos, teve de ser adiada um ano devido à pandemia, que tornou praticamente impossível a celebração na data prevista, em 2021.
Participam na Assembleia 800 delegados das Igrejas cristãs que fazem parte do CEI, bem como a representação da Igreja Católica liderada por Card. Koch - que não é membro do CEI, mas colabora com ele enquanto parceiro.
É esperado o discurso do presidente federal alemão Steinmaier que abrirá oficialmente os trabalhos da Assembleia.
Será também um teste à capacidade de resistência das relações ecuménicas entre as Igrejas, numa altura em que algumas delas estão diretamente envolvidas em guerras e situações de conflito - estarão presentes em Karlsruhe representantes das Igrejas ucranianas, bem como da Igreja Ortodoxa Russa.
Por norma, a Assembleia trabalha temas e questões em torno das quais se deve empenhar a ecumenê das Igrejas nos anos que se seguem à sua celebração. Nunca como nesta Assembleia a fronteira entre questões teológico-eclesiais e sociopolíticas foi tão ténue e permeável.
Das migrações às guerras, da crise económica à preservação do ambiente, da justiça social aos direitos humanos - todas estas são brechas que atravessam os corpos das Igrejas cristãs e impõem a originalidade de uma resposta que vem da luz do Evangelho e das práticas de fé.
Em particular, a questão ecológica e ambiental está no centro das atenções e das preocupações: «Se não mudarmos o nosso modo de viver, o nosso planeta será inabitável dentro de cinquenta anos. A preservação da natureza é uma questão teológica. Os cristãos e cristãs têm de se empenhar na regeneração de toda a criação», recordou Ioan Sauca, Secretário-Geral interino do CEI.
O seu mandato foi prolongado até dezembro de 2022, para garantir a continuidade das atividades do CEI em ordem à XI Assembleia. Em 2023, assumirá o cargo o sul-africano Jerry Pillay, que foi eleito para lhe suceder.

Marcello Neri
Settimana News (31 de agosto de 2022)

26/08/2022

Tempo da Criação 2022

Todos os anos, de 1 de setembro a 4 de outubro, a família cristã une-se para a celebração mundial de oração e ação pela proteção da nossa casa comum. Como seguidoras e seguidores de Cristo de todo o mundo, compartilhamos um apelo comum a cuidar da criação. Somos cocriaturas e fazemos parte de tudo o que Deus fez. O nosso bem-estar está entrelaçado com o bem-estar da Terra. Alegramo-nos com esta oportunidade de salvaguardar a nossa casa comum e todos os seres que a compartilham connosco. Este ano, o tema deste Tempo é «Escutar a Voz da Criação».

Convite dos líderes religiosos à participação no Tempo da Criação


Caríssimas Irmãs e Irmãos em Cristo,
O Tempo da Criação é a celebração cristã anual para escutarmos e respondermos conjuntamente ao grito da Criação: a família ecuménica em todo o mundo une-se para rezar e proteger a nossa casa comum.
A "Celebração" começa a 1 de setembro, o Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação, e termina a 4 de outubro, Festa de São Francisco de Assis, o santo padroeiro da ecologia, amado por muitas denominações cristãs.
Este ano vamos unir-nos em torno do tema: «Escutar a Voz da Criação».
O salmista declara: «Os céus declaram a glória de Deus; o firmamento proclama a obra das suas mãos. Um dia fala disso ao outro dia; uma noite revela-o à outra noite.... não se ouve a sua voz. Mas a sua voz ressoa por toda a terra, e as suas palavras até os confins do mundo». (19, 1-4)
Durante o Tempo da Criação, a nossa oração e ação comum podem ajudar-nos a escutar as vozes que são silenciadas. Na oração, lamentamos cada pessoa em particular, comunidades, espécies e ecossistemas que estão perdidas/os, e aquelas/es cujo sustento está ameaçado pela perda do habitat e pelas mudanças climáticas. Na oração, colocamos no centro o grito da Terra e o grito dos pobres.
Que este Tempo da Criação de 2022 possa renovar a nossa unidade ecuménica, renovando e unindo-nos pelo nosso vínculo de Paz num mesmo Espírito, no nosso apelo a cuidar da nossa casa comum. E que este tempo de oração e ação seja um tempo para escutar a Voz da Criação, para que as nossas vidas em palavras e atos proclamem boas novas para toda a Terra.
Na graça de Deus,

Membros do Comitê Consultivo do Tempo da Criação

O tema de 2022: «Escutar a Voz da Criação»


Durante a pandemia da COVID-19, muitas/os de nós familiarizamo-nos com o conceito de sermos silenciadas/os durante as conversas virtuais. Com frequência as pessoas usam plataformas que não dão a opção de sair do silêncio. Ainda mais, nem sequer têm acesso às plataformas digitais, e por isso as suas vozes nunca são escutadas. Muitas vozes são silenciadas no discurso público sobre as mudanças climáticas e a ética do cuidado da Terra. Estas são as vozes daquelas/es que sofrem os impactos da mudança climática. Estas são as vozes daquelas/es que possuem sabedoria geracional sobre como viver com gratidão dentro dos limites da terra. Estas são as vozes de uma diversidade cada vez menor de espécies mais do que humanas, é a voz da Terra. O tema do Tempo da Criação de 2022 desperta a consciência da nossa necessidade de escutar a voz de toda a criação.
O salmista (19,1-4) reconhece que escutar a voz da criação requer um tipo de escuta que é cada vez mais raro. Dentro da família cristã ecuménica, existe uma gama diversificada de tradições para nos ajudar a recuperar a nossa capacidade de escutar a voz da criação. Alguns dos primeiros escritos cristãos referem-se ao conceito da criação como um livro a partir do qual o conhecimento de Deus pode ser lido. A tradição teológica do livro da criação corre como um fio de ouro dos escritos de Orígenes através dos escritores da época da Patrística como Tertuliano, Basílio de Cesareia e outros. Como o salmista, São Máximo lembra-nos que todo o cosmos louva e glorifica a Deus «com vozes silenciosas», e que o louvor não é escutado até que lhe demos voz, até que louvemos a Deus na e com a criação. Santo Agostinho escreve: «[A Criação] é a página divina que deves escutar; é o livro do universo que deves observar. As páginas da Escritura só podem ser lidas por aqueles que sabem ler e escrever, enquanto todos, mesmo os analfabetos, podem ler o livro do universo». Para um sermão de Advento Martinho Lutero escreveu: «Deus escreveu [o Evangelho] não só em livros, mas também em árvores e outras criaturas».
Um "livro" ou um pergaminho era para ser lido em voz alta e, portanto, era uma palavra falada que devia ser escutada. Os pergaminhos e os livros da Escritura deveriam ser lidos em voz alta, inspirados numa comunidade e ouvidos como proclamação. O salmista que declara que a criação proclama o trabalho manual de Deus também sabe que o livro da Escritura revive perfeitamente a alma, faz sábias as pessoas simples, alegra o coração e ilumina os olhos. (Salmo 19,7-8) O livro da criação e o livro da Escritura devem ser "lidos" lado a lado.
Devemos ter cuidado para não confundir os dois livros e para não desfocar as linhas entre a razão e a revelação. Mas o que "escutamos" da criação é mais do que uma metáfora extraída da nossa compreensão da ecologia e da ciência climática. É mais do que as ciências biológicas e físicas que têm moldado o diálogo entre a teologia e as ciências naturais desde a revolução científica. Na sua encíclica sobre a Fé e a Razão, o Papa João Paulo II reconheceu que, enquanto Cristo é o coração da revelação de Deus, a criação foi a primeira etapa dessa revelação. As harmonias que emergem quando contemplamos os livros da criação e das Escrituras formam a nossa cosmologia sobre quem somos, onde estamos e como somos chamados a viver relações herminiosas com Deus e com as nossas cocriaturas.
A contemplação abre-nos a muitos modos de escutar o livro da criação. O Salmo 19 diz que as criaturas falam-nos do Criador. O equilíbrio harmonioso das ecologias biodiversas e os gritos de sofrimento da criação são ambos ecos do Divino, porque todas as criaturas têm a mesma origem e terminam em Deus. Escutar as vozes de nossas cocriaturas é como perceber a verdade, a bondade ou a beleza através da vida de um amigo humano e de um membro da família. Aprender a escutar essas vozes ajuda-nos a tomar consciência da Trindade, na qual a criação vive, se move e tem o seu ser. Jürgen Moltmann pede «um discernimento do Deus que está presente na criação, que através de seu Espírito Santo pode levar o homem e a mulher à reconciliação e à paz com a natureza".
A Tradição Cristã ajuda-nos a aprender a escutar o livro da criação. A espiritualidade cristã está repleta de práticas que levam os nossos corpos à contemplação com palavras, também com o silêncio. Tais práticas litúrgicas e espirituais são acessíveis desde a infância até à vida adulta. Cultivar uma espiritualidade de escuta ativa ajuda-nos a discernir as vozes de Deus e dos nossos vizinhos no meio do barulho de narrativas destrutivas. A contemplação move-nos do desespero à esperança, da ansiedade à ação!
Para os cristãos e cristãs, Jesus Cristo mantém juntos os dois "livros" da criação e da Escritura. Diante da realidade da rutura, do sofrimento e da morte, a encarnação e ressurreição de Cristo torna-se a esperança de reconciliar e curar a Terra. O livro da Escritura proclama a Palavra de Deus para que possamos ir ao mundo e ler o livro da criação de uma forma que antecipe este Evangelho. Por sua vez, o livro da criação ajuda-nos a escutar o livro da Escritura a partir da perspetiva de toda a criação que anseia pela boa nova. Cristo torna-se uma chave para discernir o dom e a promessa de Deus para toda a criação e particularmente para aqueles que sofrem ou que para nós já estão perdidas.
Durante o Tempo da Criação, a nossa oração e ação comum podem ajudar-nos a escutar as vozes que são silenciadas. Na oração, lamentamos pessoas em particular, comunidades, espécies e ecossistemas que estão perdidas/os, e aquelas/es cujo sustento está ameaçado pela perda do habitat e pela mudança climática. Na oração, colocamos no centro o grito da Terra e o grito dos pobres. As comunidades de fé e oração podem ampliar as vozes das pessoas jovens, dos povos indígenas, das mulheres e das comunidades afetadas que não são ouvidas na sociedade. Através de liturgias, orações públicas, atos simbólicos e de incidência pública, podemos lembrar aquelas/es que são deslocadas/os ou desapareceram dos espaços públicos e dos processos políticos.
Escutar a voz da criação oferece aos membros da família cristã um rico ponto de entrada no diálogo e na prática inter-religiosa e interdisciplinar. Os cristãos e cristãs trilham um caminho compartilhado como aqueles que possuem diferentes tipos de conhecimento e sabedoria em todas as culturas e setores da vida. Ao escutar a voz de toda a criação, a humanidade une-se na vocação de cuidar da nossa casa comum (oikos).

Oração


Criador de todas as coisas,
A partir da Tua comunhão de amor, a Tua Palavra partiu para criar uma sinfonia de vida que canta os Teus louvores.
Pela Tua Sagrada Sabedoria fizeste a Terra para trazer à tona uma diversidade de criaturas que Te glorificam no seu ser. Dia após dia proclamam; noite após noite, revelam conhecimento.
Chamaste a humanidade a cultivar e manter o Teu jardim. Colocaste-nos em relações harmoniosas com cada criatura para que pudéssemos escutar as suas vozes e aprender a salvaguardar as condições para a vida. Mas voltamo-nos só para nós mesmos.
Fechamos os nossos ouvidos aos conselhos dos nossos semelhantes. Não ouvimos os gritos das pessoas empobrecidas e as necessidades das mais vulneráveis. Silenciamos as vozes daquelas que sustentam as tradições que nos ensinam a cuidar da Terra. Fechamos os nossos ouvidos à Tua Palavra criativa, reconciliadora e sustentadora, que nos chama através das Escrituras.
Lamentamos a perda das nossas espécies semelhantes e dos seus habitats que nunca mais falarão. Lamentamos a perda de culturas humanas, juntamente com as vidas e os meios de subsistência que foram deslocados ou pereceram. A criação grita enquanto as florestas crepitam e os animais fogem dos incêndios da injustiça que acendemos com a nossa falta de vontade de escutar.
Neste Tempo da Criação, oramos para que Tu nos chames, a partir da sarça ardente, com o fogo sustentador do Teu Espírito. Sopra sobre nós. Abre os nossos ouvidos e move nossos corações. Transforma o nosso olhar interior. Ensina-nos a contemplar a Tua criação e a escutar a voz de cada criatura que declara a Tua glória. Pois «a fé vem pelo ouvir».
Dá-nos corações para escutarmos as boas novas da Tua promessa de renovar a face da Terra. Ilumina-nos com a graça de seguir o Caminho de Cristo enquanto aprendemos a caminhar com leveza sobre este terra sagrada. Enche-nos da esperança de apagarmos o fogo da injustiça com a luz do Teu amor curativo que sustenta a nossa casa comum.
Em nome d'Aquele que veio para proclamar a boa nova a toda a criação, Jesus Cristo.
Amém.

Mensagem do Papa Francisco para a celebração do Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação (página web do Tempo da Criação)