25/01/2021

Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos - 25 de janeiro de 2021

DIA 8

Reconciliando-se com toda a criação
«Para que a minha alegria esteja em vós e a vossa alegria seja perfeita» (Jo 15,11)

Colossenses 1,15-20 Tudo nele se mantém
Marcos 4,30-32 Pequeno como um grão de mostarda

Meditação
O hino a Cristo na carta aos Colossenses convida-nos a cantar o louvor da salvação de Deus, que abrange o universo inteiro. Através de Cristo crucificado e ressuscitado, foi aberto um caminho de reconciliação; a criação também está destinada a um futuro de vida e paz. Com os olhos da fé, vemos que o Reino de Deus é uma realidade que está bem próxima, mas ainda é bem pequena, dificilmente visível - como um grão de mostarda. No entanto, está a crescer. Mesmo no meio dos sofrimentos do nosso mundo, o Espírito do Ressuscitado está em ação. Ele anima-nos a comprometermo-nos - com todas as pessoas de boa vontade - numa busca incessante por justiça e paz, e no esforço de garantir que a terra seja de novo uma casa para todas as criaturas.
Nós participamos do trabalho do Espírito para que toda a criação possa continuar a louvar a Deus. Quando a natureza sofre, quando os seres humanos são esmagados, o Espírito do Cristo ressuscitado não deixa que o nosso coração desanime e convida-nos a participar do seu trabalho de cura.
A novidade de vida que Cristo nos traz, embora oculta, é uma luz de esperança para muitos. É um poço de que jorra a reconciliação para toda a criação e contém uma alegria que vai bem para além de nós: «para que a minha alegria esteja em vós e a vossa alegria seja perfeita» (João 15,11).
«Desejais celebrar a novidade da vida que Cristo nos deu através do Espírito Santo, e deixá-lo viver em vós, entre vós, na Igreja, no mundo e em toda a criação?
Segunda promessa feita durante a profissão da Comunidade de Grandchamp

Oração
Deus três vezes santo, nós vos agradecemos por nos terdes criado e pelo vosso amor. Nós vos agradecemos pela vossa presença em nós e na criação. Que possamos aprender a olhar o mundo como vós o vedes, com amor. Na esperança dessa visão, possamos ser capazes de trabalhar por um mundo onde floresçam a justiça e a paz, para glória do vosso nome.

24/01/2021

Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos - 24 de janeiro de 2021

DIA 7

Crescendo na unidade
«Eu sou a vinha, vós sois os sarmentos» (João 15,5a)

1 Coríntios 1,10-13; 3,21-23 Acaso o Cristo está dividido?
João 17,20-23 Que sejam um como nós somos um.

Meditação
Na véspera de sua morte, Jesus orou pela unidade daqueles que o Pai lhe dera: «que todos sejam um... para que o mundo creia». Unidos a ele, como ramos na videira, partilhamos a mesma seiva que entre nós circula e nos anima. Cada tradição procura levar-nos ao coração da nossa fé: a comunhão com Deus, através de Cristo, no Espírito. Quanto mais vivermos essa comunhão, mais estaremos unidos aos outros cristãos e a toda a humanidade. Paulo adverte-nos contra uma atitude que já havia ameaçado a unidade dos primeiros cristãos: a absolutização da própria tradição de cada um, em detrimento da unidade do corpo de Cristo. As diferenças tornam-se então fonte de divisão em vez de serem mutuamente enriquecedoras. Paulo tem uma visão bem mais ampla; «Tudo é vosso, mas vós sois de Cristo, e Cristo é de Deus» (1 Cor 3,22-23).
O desejo de Cristo compromete-nos a seguir um caminho de unidade e reconciliação. Também nos compromete a unir a nossa prece à dele: «que sejam um... a fim de que o mundo creia» (Jo 17,21).
«Nunca te conformes com o escândalo da separação dos cristãos que tão prontamente professam o amor ao próximo mas permanecem divididos. Tem a paixão da unidade do corpo de Cristo».
A Regra de Taizé em francês e em inglês (2012), p. 13

Oração
Santo Espírito, chama vivificante e sopro delicado, vinde e permanecei em nós. Renovai em nós a paixão pela unidade para que vivamos conscientes do vínculo que nos une em vós. Que todos os que se revestiram de Cristo no seu Batismo estejam unidos e juntos deem testemunho da esperança que os sustenta.

23/01/2021

Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos 2021 - Celebração Ecuménica Nacional

23 de janeiro de 2021

Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos - 23 de janeiro de 2021

DIA 6

Acolhendo outros
«Ide produzir frutos, frutos que permaneçam» (João 15,16b)

Génesis 18,1-5 Abraão acolheu os anjos no carvalho de Mambré
Marcos 6,30-44 Jesus tem compaixão da multidão

Meditação
Quando nos deixamos transformar por Cristo, o seu amor cresce em nós e produz fruto. Acolher o outro é um modo concreto de partilhar o amor que está em nós. Ao longo da sua vida, Jesus acolheu aqueles que encontrou. Ele ouviu-os e deixou-se tocar por eles sem ter medo do seu sofrimento. No relato evangélico da multiplicação dos pães, Jesus é movido por compaixão ao ver a multidão faminta. Ele sabe que toda a pessoa humana precisa de ser alimentada, e que só ele pode verdadeiramente satisfazer a fome de pão e a sede de vida. Mas ele não deseja fazê-lo sem os seus discípulos, sem aquele pouco que eles lhe podem dar: cinco pães e dois peixes.
Ele chama-nos ainda hoje para sermos colaboradores no seu cuidado incondicional. Não é preciso muito para que todos se sintam acolhidos: um olhar, um ouvido atento, uma presença verdadeira. Quando oferecemos as nossas pobres possibilidades a Jesus, ele multiplica-as de modo surpreendente.
Então experimentamos o que aconteceu com Abraão, porque é dando que recebemos, e quando acolhemos os outros somos abundantemente abençoados.
«É o próprio Cristo que recebemos num hóspede».
A regra de Taizé em francês e inglês (2012), p. 103
«As pessoas que acolhemos dia após dia encontrarão em nós homens e mulheres radiantes em Cristo, nossa paz?».
As fontes de Taizé (2000), p. 60

Oração
Jesus Cristo, queremos acolher plenamente os irmãos e irmãs que estão connosco. Sabeis como frequentemente nos sentimos incapazes diante do seu sofrimento. Sinda assim, estais sempre ali, antes de nós, e já os recebestes na vossa compaixão. «Falai-lhes através das nossas palavras, ajudai-os através das nossas ações, e deixai que a vossa bênção repouse sobre todos nós.

22/01/2021

Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos - 22 de janeiro de 2021

DIA 5

Deixando-se transformar pela Palavra
«Vós já estais purificados pela Palavra» (João 15,3)

Deuteronómio 30,11-20 A palavra de Deus está bem perto de ti
Mateus 5,1-12 Felizes sois vós

Meditação
A Palavra de Deus está muito perto de nós. É uma bênção e uma promessa de felicidade. Se abrimos nossos corações, Deus fala connosco e pacientemente transforma o que está morrendo em nós. Ele remove o que prejudica o real crescimento de vida, exatamente como o vinhateiro poda a videira. Meditando regularmente sobre um texto bíblico, sozinhos ou em grupo, mudamos a nossa atitude de vida. Muitos cristãos oram a partir das bem-aventuranças todos os dias. As bem-aventuranças revelam-nos uma felicidade que está escondida naquilo que está incompleto, uma felicidade que vai além do sofrimento: abençoados são aqueles que, tocados pelo Espírito, não mais retêm suas lágrimas mas deixam-nas escorrer e assim recebem consolação. À medida que descobrem a fonte escondida no seu interior, crescem neles a fome de justiça e a sede de se comprometerem com os outros por um mundo de paz. Somos constantemente chamados a renovar o nosso compromisso com a vida, através dos nossos pensamentos e ações. Há ocasiões em que já experimentamos, aqui e agora, a bênção que será completada no fim dos tempos.
«Ora e trabalha para que Deus venha reinar. Ao longo dos teus dias deixa a Palavra de Deus soprar vida no trabalho e no descanso. Mantém o silêncio interior em todas as coisas para morares em Cristo. Enche-te do espírito das bem-aventuranças: alegria, simplicidade, misericórdia»
Essas palavras são recitadas diariamente
pelas Irmãs da Comunidade de Grandchamp

Oração
Bendito sois vós, Deus nosso Pai, pelo dom de vossa Palavra na Sagrada Escritura. Bendito sois pelo vosso poder transformador. Ajudai-nos a escolher a vida e guiai-nos com o vosso Espírito, para experimentarmos a felicidade que quereis tanto partilhar connosco.

21/01/2021

Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos - 21 de janeiro de 2021

DIA 4

Orando juntos
«Já não vos chamo servos... chamo-vos amigos» (João 15,15)

Romanos 8,26-27 O espírito vem em socorro da nossa fraqueza
Lucas 11,1-4 Senhor, ensina-nos a rezar

Meditação
Deus tem sede de relacionamento connosco. Ele busca-nos como buscou Adão, chamando-o no jardim: «Onde estás?» (Gênesis 3,9) Em Cristo, Deus vem encontrar-nos. Jesus viveu em oração, intimamente unido a seu Pai, enquanto ia criando amizades com os seus discípulos e com todos os que encontrava. Ele introduziu-os no que era mais precioso para ele: o relacionamento de amor com o seu Pai e nosso Pai. Jesus e os seus discípulos cantavam salmos juntos, enraizados na riqueza da sua tradição judaica. Em outras ocasiões Jesus retirava-se para orar sozinho. A oração pode ser solitária ou partilhada com outros. Pode expressar sensação de maravilha, queixa, intercessão, agradecimento ou simples silêncio. Às vezes o desejo de orar está presente, mas a pessoa sente que não é capaz de o fazer. Dirigindo-nos a Jesus e dizendo-lhe «ensina-me», podemos preparar o caminho. O nosso próprio desejo já é uma oração. Rezando com cristãos de outras tradições, podemos surpreender-nos, sentindo-nos unidos por um vínculo de amizade que vem daquele que está para além de qualquer divisão. As formas podem variar, mas é o mesmo Espírito que nos faz estar juntos.
«Na regularidade da nossa oração comum, o amor de Jesus desponta dentro de nós, não sabemos como. A prece comum não nos dispensa da prece pessoal. Uma sustenta a outra. Em cada dia, reservemos um tempo para renovar a nossa intimidade pessoal com Jesus Cristo».
A regra de Taizé em francês e inglês
Sociedade para a Promoção de Conhecimento Cristão, Grã Bretanha, pp 19. & 21

Oração
Senhor Jesus, toda a vossa vida foi oração, perfeita harmonia com o Pai. Através de vosso Espírito, ensinai-nos a orar de acordo com o vosso desejo de amor. Que os fiéis do mundo inteiro se unam em intercessão e louvor, e venha o vosso Reino de amor.

20/01/2021

Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos - 20 de janeiro de 2021

DIA 3

Formando um corpo
«Amai-vos uns aos outros como eu vos amei» (João 15,12b)

Colossenses 3,12-17 Revesti-vos de compaixão
João 13,1-15; 34-35 Amai-vos uns aos outros

Meditação
Na véspera da sua morte, Jesus ajoelhou-se para lavar os pés dos discípulos. Ele conhecia a dificuldade de viverem juntos e a importância do perdão e do serviço mútuo. E disse a Pedro: «Se eu não te lavar, não poderás ter parte comigo». Pedro recebeu Jesus a seus pés; ele foi lavado e tocado pela humildade e delicadeza de Cristo. Mais tarde, ele seguiria o exemplo de Jesus e prestaria serviço aos companheiros fiéis da Igreja nascente. Jesus deseja que vida e amor circulem através de nós como a seiva na vinha, para que as comunidades cristãs sejam um só corpo. Mas, hoje como no passado, não é fácil viver juntos. Somos frequentemente colocados diante de nossas limitações. Às vezes falhamos deixando de amar aqueles que estão perto de nós numa comunidade, paróquia ou família. Há situações em que os nossos relacionamentos se rompem completamente. Em Cristo somos convidados a revestirmo-nos de compaixão, em incontáveis recomeços. O reconhecimento de sermos amados por Deus move-nos a acolhermo-nos uns aos outros com as nossas forças e fraquezas. É então que Cristo está no nosso meio.
«Com quase nada, és um criador de reconciliação nessa comunhão de amor, que é o Corpo de Cristo, a sua Igreja? Sustentado por um momento partilhado, alegra-te! Já não estás sozinho. Em todas as coisas estás a avançar junto com os teus irmãos e irmãs. Com eles, és chamado a viver a parábola da comunidade».
As fontes de Taizé (2000), pp. 48-49

Oração
Deus, nosso Pai, revelais-nos o vosso amor, através de Cristo e através dos nossos irmãos e irmãs. Abri os nossos corações para nos acolhermos uns aos outros com as nossas diferenças e vivermos em clima de perdão. Fazei-nos viver unidos num só corpo, para que venha à luz o dom que é cada pessoa. Que juntos possamos todos ser um reflexo de Cristo vivo.

19/01/2021

Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos - 19 de janeiro de 2021

DIA 2

Amadurecendo internamente
«Permanecei em mim como eu permaneço em vós”»(João 15,4a)

Efésios 3,14-21 Cristo habite em vossos corações
Lucas 2,41-52 Maria guardava esses acontecimentos em seu coração

Meditação
O encontro com Jesus desperta o desejo de ficar com ele e permanecer nele: um tempo para o fruto amadurecer. Sendo totalmente humano como nós, Jesus cresceu e amadureceu. Ele viveu uma vida simples, enraizada nas práticas da fé judaica. Na sua vida oculta em Nazaré, onde aparentemente nada de extraordinário aconteceu, a presença do Pai alimentou-o. Maria contemplava as ações de Deus na sua vida e na de seu Filho. Ela valorizava todas essas coisas em seu coração. Assim, aos poucos, ela abraçou o mistério de Jesus. Nós também precisamos de um longo período de maturação, uma vida inteira, para poder mergulhar nas profundidades do amor de Cristo, para deixar que ele permaneça em nós e nós permaneçamos nele. Sem sabermos como, o Espírito faz Cristo morar em nossos corações. E é através da oração, escutando a palavra, partilhando com outros, pondo em prática o que temos compreendido que nosso ser interior é fortalecido.
«Deixando Cristo descer às profundidades do nosso ser... Ele penetrará as regiões da mente e do coração, ele atingirá nossa carne até ao nosso mais profundo ser, para que nós também experimentemos um dia as profundidades da misericórdia».
As fontes de Taizé (2000), p. 134

Oração
Santo Espírito, possamos receber em nossos corações a presença de Cristo e valorizá-la como um segredo de amor. Alimentai a nossa prece, iluminai a nossa leitura da Escritura, agi através de nós, para que os frutos dos vossos dons possam pacientemente crescer em nós.

18/01/2021

Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos - 18 de janeiro de 2021

DIA 1

Chamados por Deus
«Vós não me escolhestes, mas eu vos escolhi» (João 15,16a)


Génesis 12,1-4 O chamamento de Abraão
João 1, 3-51 O chamamento dos primeiros discípulos

Meditação
O começo da jornada é um encontro entre o ser humano e Deus, entre a criatura e o Criador, entre o tempo e a eternidade. Abraão ouviu o chamamento: «Vai para a terra que eu te mostrarei». Como Abraão, somos chamados a deixar o que é familiar e ir para o lugar que Deus tem preparado no mais profundo do nosso coração. Nessa caminhada, tornamo-nos cada vez mais nós mesmos, o povo que Deus queria que fôssemos desde o começo. Atendendo a esse chamamento que nos foi dirigido, tornamo-nos uma bênção para os que amamos, para o nosso próximo e para o mundo. O amor de Deus procura-nos. Deus tornou-se humano em Jesus. Nele encontramos o olhar persistente de Deus. Nas nossas vidas, como no Evangelho de João, o chamamento de Deus é ouvido de diferentes maneiras. Tocados pelo seu amor, seguimos em frente. Nesse encontro, caminhamos por um caminho de transformação - o brilhante começo de um relacionamento de amor que sempre se renova.
«Um dia compreendeste que, sem estares ciente disso, um sim tinha sido inscrito em teu mais profundo interior. E assim escolheste ir adiante nas pegadas de Cristo... Em silêncio na presença de Cristo, o ouviste dizer: “Vem, segue-me; eu te darei um lugar onde repousar teu coração”».
As fontes de Taizé (2000), p.52

Oração
Jesus Cristo, vós procurais-nos, desejais oferecer-nos a vossa amizade e conduzir-nos a uma vida sempre mais plena. Dai-nos a confiança de responder ao vosso chamamento para sermos transformados e nos tornarmos testemunhas de vossa ternura no mundo.

07/01/2021

Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos (18 a 25 de janeiro de 2021)

«Permanecei no meu amor e produzireis muitos frutos»
(Jo 15,5-9)


Foto de "Film is not dead" em "Unsplash"
A Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos em 2021 foi preparada pela Comunidade Monástica de Grandchamp [1] . O tema que foi escolhido - Permanecei no meu amor e produzireis muitos frutos - está baseado em João 15,1-17 e expressa a vocação para a oração, reconciliação e unidade na Igreja e na família humana, presente na Comunidade de Grandchamp.
Nos anos da década de 1930 um grupo de mulheres da Reforma que vinha de uma parte da Suíça de língua francesa, conhecido como “Damas de Morges”, redescobriu a importância do silêncio na escuta da Palavra de Deus. Ao mesmo tempo, elas reviveram a prática de retiros espirituais para alimentar sua vida de fé, inspiradas no exemplo de Cristo que se retirava para rezar em um lugar isolado. Elas foram logo seguidas por outras pessoas que participavam regularmente de retiros organizados em Grandchamp, uma pequena povoação perto das margens do Lago Neuchâtel. Tornou-se necessário providenciar um ambiente permanente de oração e acolhimento para o crescente número de hóspedes e pessoas desejosas de se retirarem em oração.
Hoje a comunidade tem cinquenta irmãs, cinquenta mulheres de diferentes gerações, tradições eclesiais, países e continentes. Na sua diversidade as irmãs são uma parábola viva de comunhão. Elas permanecem fiéis a uma vida de oração, vida em comunidade e acolhimento de hóspedes. As irmãs partilham a graça da sua vida monástica com visitantes e voluntários que vão a Grandchamp para um tempo de retiro, silêncio, cura e em busca de sentido de vida.
As primeiras irmãs experimentaram a dor da divisão entre as Igrejas cristãs. Nessa dificuldade foram encorajadas por sua amizade com o abade Paul Couturier, um pioneiro da Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos. Portanto, desde seus mais distantes inícios, a oração pela unidade dos cristãos estava no coração da vida da comunidade. Esse compromisso, juntamente com a fidelidade de Grandchamp aos três pilares - oração, vida comunitária e hospitalidade - está nos fundamentos destes subsídios.

Permanecer no amor de Deus é estar reconciliado consigo mesmo


As palavras francesas para monge e monja (moine/moniale) vêm da palavra grega µónos que significa sozinho e um. Os nossos corações, corpos e mentes, longe de estarem em unidade, estão muitas vezes dispersos, impelidos em direções opostas. O monge ou a monja desejam ser um consigo mesmo e estar unidos em Cristo. «Permanecei em mim como permaneço em vós», diz-nos Jesus (Jo 15,4a). Uma vida bem integrada pressupõe um caminho de autoaceitação, de reconciliação com as nossas histórias pessoais e herdadas.
Jesus disse aos discípulos «permanecei no meu amor» (Jo 15,9). Ele permanece no amor do Pai (Jo 15,10) e tudo o que deseja é partilhar connosco esse amor: «Chamo-vos amigos, porque tudo o que ouvi junto de meu Pai vo-lo fiz conhecer» (Jo 15,15b). Simbolizado na vinha, que é o próprio Jesus, o Pai torna-se o nosso vinhateiro, que nos poda para nos fazer crescer. Isso descreve o que acontece na oração. O Pai é o centro de nossas vidas, ele nos poda e nos plenifica para darmos frutos. Seres humanos assim dão glória ao Pai.
Permanecer em Cristo é uma atitude interior que gera raízes em nós com o correr do tempo. Ela pede espaço para crescer. Pode ser superada pela luta diante das necessidades da vida e é ameaçada por distrações, ruídos, atividades e desafios da vida.
Na difícil situação da Europa de 1938, Geneviève Micheli, que mais tarde se tornaria Madre Geneviève, a primeira mãe da comunidade, escreveu estas linhas que permanecem relevantes ainda hoje:
«Vivemos numa época que é perturbadora e, ao mesmo tempo magnífica, um tempo perigoso onde nada preserva a alma, onde rápidas conquistas totalmente humanas parecem varrer pessoas para longe... E penso que a nossa civilização morrerá nessa loucura coletiva de barulho e velocidade, onde ninguém consegue pensar... Nós, cristãos, que conhecemos o pleno valor de uma vida espiritual, temos uma imensa responsabilidade e precisamos de tomar consciência de a união e a ajuda mútua são fonte de serenidade e criam refúgios de paz, centros vitais onde o silêncio das pessoas clama pela criativa palavra de Deus. É uma questão de vida ou morte».

Permanecer em Cristo para produzir fruto


«O que glorifica meu Pai é que produzais fruto em abundância» (Jo 15,8). Não podemos produzir fruto só por conta própria. Não podemos dar fruto separados da vinha. É a seiva, a vida de Jesus fluindo em nós, que produz fruto. Permanecer no amor de Jesus, sendo um ramo da vinha, é o que permite que sua vida flua através de nós.
Quando ouvimos Jesus, essa vida flui em nós. Jesus convida-nos a deixar a sua palavra permanecer em nós (Jo 15,7) e então tudo o que pedirmos ser-nos-á concedido. Pela palavra dele produzimos fruto. Como pessoas, como comunidade, como Igreja inteira, desejamos unir-nos a Cristo a fim de guardar o seu mandamento de nos amarmos uns aos outros como ele nos tem amado (Jo 15,12).

Permanecendo em Cristo, fonte de todo amor, o fruto da comunhão cresce


A comunhão com Cristo exige comunhão com os outros. Doroteu de Gaza, um monge da Palestina do século VI, expressou-o da seguinte maneira:
«Imaginai um círculo desenhado no chão, isto é, uma linha circular desenhada com um compasso e um centro. Imaginai que esse círculo é o mundo, o centro é Deus e os raios são os diferentes caminhos ou maneiras de viver do povo. Quando os santos, desejando ser desenhados perto de Deus, caminham em direção o meio do círculo, à medida que penetram no seu interior, vão ficando mais próximos uns dos outros; e quanto mais próximos uns dos outros estiverem, mais próximos ficarão de Deus. Compreendereis que a mesma coisa se aplica de modo inverso quando nos afastamos de Deus e vamos para a parte de fora do círculo. Então se torna óbvio que quanto mais nos afastamos de Deus mais nos afastamos uns dos outros e, quanto mais nos afastamos uns dos outros, mais longe de Deus vamos ficando».
Buscar proximidade com outros, viver juntos em comunidade com outros, pessoas às vezes bem diferentes de nós, pode ser um desafio. As irmãs de Grandchamp conhecem esse desafio e para elas o ensinamento do irmão Roger de Taizé [2] é muito útil: «Não há amizade sem sofrimento purificador. Não há amor ao nosso próximo sem cruz. Só a cruz nos permite conhecer a incompreensível profundidade do amor» [3].
As divisões entre os cristãos, que se afastam uns dos outros, são um escândalo porque nos afastam também de Deus. Muitos cristãos, movidos pela tristeza dessa situação, rezam fervorosamente a Deus pela restauração daquela unidade pela qual Jesus orou. A oração de Jesus pela unidade é um convite para voltarmos a ele e assim ficarmos mais próximos uns dos outros, alegrando-nos com a riqueza da nossa diversidade. Como aprendemos vivendo em comunidade, os esforços para a reconciliação são custosos e pedem sacrifícios. Estamos sustentados pela prece de Jesus, que deseja que possamos ser um como ele é um com o Pai para que o mundo creia (Jo 17,21).

Permanecendo em Cristo, cresce o fruto da solidariedade e do testemunho


Embora nós, como cristãos, permaneçamos no amor de Cristo, também vivemos numa criação que geme enquanto espera ser libertada (cf. Rom 8). No mundo percebemos os males do sofrimento e dos conflitos. Através da solidariedade com aqueles que sofrem permitimos que o amor de Cristo circule através de nós. O mistério pascal gera fruto em nós quando oferecemos amor aos nossos irmãos e irmãs e alimentamos esperança no mundo.
Espiritualidade e solidariedade estão inseparavelmente ligadas. Permanecendo em Cristo, recebemos a força e a sabedoria para agir contra as estruturas de injustiça e opressão, para nos reconhecermos por completo como irmãos e irmãs na humanidade, e para sermos criadores de um novo modo de vida, no respeito e em comunhão com toda a criação.
O sumário da regra de vida [4] que as irmãs de Grandchamp recitam juntas, em cada manhã, começa com as palavras «rezemos e trabalhemos para que Deus possa reinar». Oração e vida diária não são duas realidades separadas mas destinam-se a estar unidas. Tudo o que experimentamos é destinado a tornar-se um encontro com Deus.


Para os oito dias da Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos de 2021, propomos um itinerário de oração:


Dia 1 - Chamados por Deus: «Vós não me escolhestes, eu vos escolhi» (Jo 15,16a).
Dia 2 - Amadurecendo interiormente: «Permanecei em mim, como permaneço em vós» (Jo 15,4a).
Dia 3 - Formando um corpo: «Amai-vos uns aos outros como eu vos amei» (Jo 15,12b).
Dia 4 - Orando juntos: «Já não vos chamo servos... chamo-vos amigos» (Jo 15,15).
Dia 5 - Deixando-se transformar pela Palavra: «Vós já estais purificados pela Palavra» (Jo 15,3).
Dia 6 - Acolhendo outros: «Ide produzir frutos, frutos que permaneçam» (Jo 15,16b).
Dia 7 - Crescendo na unidade: «Eu sou a vinha, vós sois os sarmentos» (Jo 15,5a).
Dia 8 - Reconciliando-se com toda a criação: «Para que a minha alegria esteja em vós e a vossa alegria seja perfeita» (Jo 15,11).

[1] Ver também a apresentação da comunidade no final destes subsídios, bem como em www.grandchamp.org.
[2] A Comunidade de Grandchamp e a dos Irmãos de Taizé na França estão unidas em primeiro lugar pela a história de suas origens, mas também pelo facto de as irmãs de Grandchamp basearem a sua Regra no livro mencionado na nota 3.
[3] Irmão Roger de Taizé, Les écrits fondateurs, Dieu nous veux heureux (Taizé, Les Ateliers e Presse de Taizé, 2011), 95.
[4] Durante a celebração ecuménica, sugerimos que este texto seja recitado por todos. ver página 6 dos Subsídios para que a seguir se remete.

Subsídios para a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos e para todo o ano 2021