14/02/2017

Uma comunhão multidimensional

Realizou-se de 22 a 27 de janeiro em Roma a última reunião da Comissão mista internacional para o diálogo teológico entre a Igreja católica e as Igrejas ortodoxas orientais sobre a eucaristia. Disponibilizamos em tradução portuguesa o texto que a Finestra ecumenica do Mosteiro de Bose em Itália, publicou com o título Una comunione multidimensionale, a propósito desta reunião e fazendo uma síntese do diálogo que a Comissão vem desenvolvendo desde 2004.

A Comissão mista internacional para o diálogo teológico entre a Igreja católica e as Igrejas ortodoxas orientais teve a sua 14ª reunião plenária em Roma de 22 a 27 de janeiro de 2017. Este diálogo abriu-se oficialmente em 2004 e diz respeito às Igrejas que não reconheceram o concílio de Calcedónia de 451 e que, no passado, eram chamadas impropriamente "Igrejas monofisitas", a saber: a Igreja arménia apostólica, a Igreja siríaca ortodoxa, a Igreja  copta ortodoxa, a Igreja etíope ortodoxa e a Igreja siro-malancar ortodoxa. A Igreja eritreia ortodoxa está impossibilidade de participar no diálogo por causa da situação interna daquele país.
Este diálogo oficial foi precedido por diálogos não oficiais, pela assinatura de acordos cristológicos por parte do papa de Roma e dos chefes daquelas Igrejas e pelos diálogos bilaterais com a Igreja copta e a Igreja malancar ortodoxa.
Este diálogo revelou-se bem depressa digno de confiança e muito fraterno. Os membros da comissão aprenderam a conhecerem-se e a estimarem-se e gostam de se encontrarem e de se confrontarem sobre as orientações teológicas e a vida concreta das suas Igrejas. Até agora foram publicados dois documentos comuns: «Natureza, constituição e missão da Igreja» (2009) [inglês, francês, italiano] e «Exercício da comunhão na vida da Igreja antiga e suas implicações para a nossa procura da comunhão hoje» (2015).
O primeiro documento foi uma bela surpresa do Espírito. Depois de um início mais tímido, os membros da Comissão constataram, menos de cinco anos mais tarde, que as suas Igrejas têm em comum uma visão fundamental da Igreja baseada na eclesiologia de comunhão, se bem que notando algumas questões que requerem um estudo suplementar, como o número dos concílios ecuménicos e a questão de um ministério de comunhão a nível universal.
O segundo documento começa a explorar exatamente este último problema. Versa sobre os primeiros cinco séculos, o tempo em que católicos e ortodoxos orientais viviam em comunhão, tempo que é considerado uma fonte privilegiada de inspiração para a procura da unidade hoje. O texto releva como todas as Igrejas tiveram sempre a preocupação de viverem em comunhão umas com as outras e alimentaram de vários modos esta comunhão: não só com relações oficiais (sínodos, cartas ou visitas), mas também através de muitos outros aspetos da vida eclesial, como a oração, a liturgia, o martírio, o monaquismo, a veneração dos santos e as peregrinações.
Constata-se que «esta comunhão é multidimensional e não pode ser reduzida apenas à comunhão oficial, hierárquica». Chega a uma conclusão importante: «Os membros da Comissão estão em condições de observar com satisfação que, para uma grande parte, a comunicação que existia entre as suas Igrejas nos primeiros séculos foi reavivada nestes últimos anos». Os seus estudos sucessivos inserir-se-ão nesta perspetiva: «Perguntar-se-nos-á em que medida o restabelecimentos das relações que existiam nos primeiros séculos é suficiente para restabelecer hoje a plena comunhão sacramental».
É neste espírito que a Comissão empreendeu o estudo dos sacramentos: o batismo e a confirmação na reunião de 2016 no Cairo, a eucaristia na sessão de Roma deste ano. Permanecem algumas questões em aberto em ordem ao reconhecimento recíproco do batismo, mas existe um acordo pleno sobre a eucaristia, respeitando as diversidades nas orações eucarísticas e na prática da celebração. O relatório constata concretamente que «todos os elementos da anáfora são necessários para a consagração eucarística», negando cada oposição entre as palavras da instituição e a epiclese, e que «o uso habitual do pão levedado ou não levedado não constitui desacordo fundamental em matéria de doutrina». Estão assim superadas duas polémicas históricas sem terem sido objeto de um debate específico. Claro sinal de um entendimento cada vez mais profundo.
Na próxima reunião que se realizará em Etchmiadzin, na Arménia, em janeiro de 2018, a Comissão estudará os sacramentos da penitência, da ordem e da unção dos enfermos, para alargar ulteriormente a base de entendimento e de reaproximação.

P. Frans Bouwen, M.Afr.
de Jerusalém para a Finestra ecumenica (Mosteiro de Bose)