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| Foto: CCEE |
A assinatura desse documento – três partes, 12 pontos e 26 compromissos concretos, subtítulo Linhas-guia para o crescimento da colaboração entre as Igrejas na Europa – seguiu as duas primeiras etapas do Processo ecuménico europeu sobre Paz, justiça e salvaguarda da criação, realizado em Basileia em 1989 e em Graz em 1997, que se encerraria em 2007 em Sibiu, na Roménia.
Um texto frágil, mas cheio de esperança
É certo: o texto da Carta era frágil – dizia-se – e, em sentido estrito, não vinculativo para nenhuma das Igrejas signatárias; no entanto, era simbolicamente significativo e auspicioso, tendo surgido numa fase em que a confiança no caminho da unificação continental era muito maior do que hoje (e as Twin Towers ainda estavam de pé).
Na bela cidade da Alsácia, o clima era efervescente, e circulava entre os presentes a sensação de que se tratava de um grande passo para o continente onde tiveram início as grandes fraturas históricas da cristandade.
As mesmas duas organizações iniciaram, a partir de 2022, um processo de revisão desse documento, que deveria ser concluído com a assinatura de uma Carta revista e atualizada em Vilnius, na Lituânia, nos dias 26 e 27 de abril passado, se não tivesse ocorrido a morte do Papa Francisco.
Se o refrão da Carta original era «comprometemo-nos», repetido 22 vezes, na versão atual são 55: com mais atenção à igualdade de género, às relações com o judaísmo e o islamismo, à paz e à proteção da Criação, enquanto, nos parágrafos finais, se trata de migrações, inteligência artificial e Europa no cenário mundial. É claro que esta é apenas uma etapa de um caminho que terá de envolver as Igrejas locais: a missão, sempre a mesma, é sair dos círculos restritos e abrir-se a um público mais vasto.
Após o adiamento em abril, de 4 a 6 de novembro, o Comité Conjunto CCEE e KEK reune-se em Roma. Dois momentos altos do encontro: a cerimónia oficial de assinatura da Carta atualizada, prevista para 5 de novembro na igreja do martírio de São Paulo, na Abadia delle Tre Fontane, confirmando o compromisso comum das Igrejas europeias com a unidade, o diálogo e a cooperação; e, em 6 de novembro, a audiência especial concedida pelo Papa Leão XIV aos participantes da cerimónia de assinatura.
A versão atualizada será assinada por Gintaras Grušas, arcebispo de Vilnius e presidente do CCEE, e pelo arcebispo Nikitas Lioulias de Thyateira e Grã-Bretanha, presidente da KEK.
Um documento comum para um compromisso comum
Para compreender melhor o significado do evento, é importante lembrar que a Carta nasceu para cumprir uma recomendação específica da Assembleia Ecuménica Europeia de Graz (1997), na qual – constatada «a difícil situação em que se encontra a comunidade ecuménica, por vários motivos» e a necessidade de «cultivar uma cultura ecuménica de convivência e colaboração» – se convidavam as Igrejas europeias a «elaborar um documento comum, que contenha os direitos e deveres ecuménicos fundamentais, e a deduzir dele uma série de diretrizes, regras e critérios ecuménicos, que possam ajudar as Igrejas, os seus responsáveis e todos os seus membros a distinguir entre proselitismo e testemunho cristão, entre fundamentalismo e autêntica fidelidade à fé e a configurar, finalmente, num espírito ecuménico, as relações entre as Igrejas maioritárias e as minoritárias».
A assinatura foi o ponto culminante de um processo que durou mais de dois anos, durante o qual as várias Igrejas que integram a KEK e o CCEE discutiram um primeiro esboço e formularam as suas observações; em seguida, uma comissão conjunta dos dois organismos promotores, após recolher mais pareceres, elaborou uma segunda versão do documento, a que foi assinada na Alsácia.
«Foi um trabalho longo – declarou o P. Aldo Giordano, então secretário da CCEE –, no qual aprendemos a conhecer-nos e a falar com franqueza». «Recolher tantas opiniões e tentar construir o mais amplo consenso em torno da Carta foi uma grande aventura ecuménica – afirmou o pastor batista Keith Clements, na época secretário da KEK –, mas é claro que a assinatura de Estrasburgo não é um ponto de chegada; é uma etapa de um caminho que agora deve envolver as Igrejas locais: serão elas a decidir se a Carta é um instrumento válido para a busca da unidade e do testemunho cristão no nosso tempo».
Na vida eclesial, o processo de traditio da mensagem tem sempre de ser seguido por um processo de receptio na fé e de redditio no testemunho ativo. O mesmo acontece no âmbito ecuménico: a entrega de um texto acordado a nível interconfessional tem de ser seguida pela sua receção na fé comum e pela sua restituição através de uma atitude partilhada e ativa de colaboração ecuménica.
O sentir dos jovens
Entre os presentes no encontro de Estrasburgo em 2001 (realizado logo após a Páscoa, que, por uma feliz coincidência, foi celebrada simultaneamente por todas as Igrejas, ocidentais e orientais), além dos responsáveis das próprias Igrejas, havia cerca de uma centena de jovens com menos de 30 anos, representando todas as confissões cristãs do continente, da costa atlântica aos Urais, de Creta à Noruega: uma escolha que se revelou positiva, segundo os comentários dos próprios jovens na assembleia, pois permitiu um confronto inédito entre as gerações.
Na minha memória, por exemplo, está a intervenção de um jovem católico escocês, na conferência de imprensa relativa ao ice-breaking preparatório da assembleia. Ele explicou: «Durante a reunião, sentimo-nos todos ortodoxos, todos católicos, todos protestantes e evangélicos. Mas isso não significa que sejamos uma "sopa ecuménica", onde todos os elementos estão misturados num caldo indistinto e homogéneo: pelo contrário, a nossa comunhão poderia ser descrita como uma "salada ecuménica", onde todas as diferentes cores e sabores – unidos pelo tempero do Espírito Santo – podem ser mais bem percebidos e saboreados». É difícil descrever melhor o futuro do ecumenismo europeu...
Brunetto Salvarani
Settimananews (4 nov. 2025).
