19/01/2025

Igrejas cristãs afirmam juntas a «opção pela paz»

As Igrejas cristãs que participam no movimento ecuménico, em Portugal, assinalaram em conjunto o início do Oitavário de Oração pela Unidade dos Cristãos numa celebração que afirmou a «opção pela paz».
«Ao celebrarmos a fé em Jesus Cristo, celebramos uma opção pela paz, pela reconciliação, pela compreensão e pelo diálogo que, percebemos hoje mais do que nunca, são modos de estar, vivências e valores cada vez mais necessários no nosso mundo», disse à Agência Ecclesia o bispo D. Jorge Pina Cabral.
Para o responsável pela Igreja Lusitana, de Comunhão Anglicana, em Portugal, é «muito importante hoje as religiões estarem unidas, é muito importante o diálogo, é muito importante a cooperação para dizer que as guerras que são feitas em nome das religiões não são verdadeiras».
«Não é a religião ou as incompatibilidades entre religiosos que provocam as guerras, mas uma sede de poder, de política, de autoridade», afirmou.
«As religiões hoje estão unidas na promoção da paz», sublinhou.
Entre este sábado, 18 de janeiro, e o dia 25, assinala-se a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, este ano centrada no tema «Crês nisso?», lembrando também os 1700º aniversário do primeiro Concílio Ecuménico, realizado em Niceia.
Para este ano de 2025, as orações e reflexões para a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos foram preparadas pelos irmãos e irmãs da comunidade monástica de Bose, no Norte da Itália, e a celebração ecuménica nacional de abertura do oitavário decorreu na tarde deste sábado, na Paróquia Lusitana de São João Evangelista, em Vila Nova de Gaia.
A celebração ecuménica nacional, presidida por D. Jorge Pina Cabral, contou com a presença do presidente da Câmara Municipal de Gaia e de representantes das várias igrejas cristãs, nomeadamente D. Roberto Mariz, bispo auxiliar do Porto, e D. Manuel Felício, administrador apostólico da Diocese da Guarda e que acompanha na Conferência Episcopal Portuguesa o tema do ecumenismo.
Em declarações à Agência Ecclesia, D. Roberto Mariz disse que o início da Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos situa-se num «patamar de esperança» e espera «passos claros, concretos» rumo à unidade, na pluralidade da «vivência cristã» e na «mesma fé em Jesus e no mesmo Evangelho».
«Assim nos possamos apresentar no mundo: na nossa pluralidade, numa verdadeira unidade, a partir do Espírito. E nessa unidade, possamos ser um sinal profético num mundo dilacerado por guerras e conflitos», disse o bispo auxiliar do Porto.
D. Roberto Mariz referiu que o encontro entre religiões cristãs desafia a sociedade à «unidade, na tolerância das suas diferenças» e valorizou o diálogo ecuménico como oportunidade de «fazer pontes».
«O diálogo ecuménico tem uma importância essencial: permite sentarmo-nos à mesma mesa, olharmo-nos no rosto, sentirmos as palavras que ecoam o nosso coração, os pensamentos que cruzamos em torno do nosso credo, da nossa crença e das vivências da fé, no concreto de cada religião. Que possamos, nesse diálogo, fazer pontes no respeito de uns pelos outros e caminhando irmãmente», disse o bispo auxiliar do Porto.
Na reflexão que partilhou na celebração, D. Roberto Rosmarinho Mariz recordou os 1700 anos do I Concílio Ecuménico de Niceia, que ocorreu no «início da liberdade de culto no império romano, num esforço por encontrar os termos e conceitos centrais da fé cristã, ultrapassando as divisões e conflitos».
«Um caminho percorrido em conjunto, sinodalmente, para se encontrar os termos convergentes em torno da fé que brota do mesmo Evangelho. Conseguiram. E hoje? Podemos conseguir hoje. Devemos conseguir», afirmou.
O bispo auxiliar do Porto disse que a «fé é a âncora, a motivação e a razão» para que crentes de várias confissões estejam «reunidos e unidos em Oração pela unidade de todos cristãos».
«É importante deixar ideias pessoais, preconceitos e elementos acessórios para nos centrarmos no essencial, naquilo que nos une», indicou D. Roberto Mariz.
O tema da Semana – «Crês nisso?» – é inspirado no diálogo entre Jesus e Marta, quando Jesus visitou a casa de Marta e Maria em Betânia, após a morte de seu irmão Lázaro, conforme narra o evangelista João.
O oitavário pela unidade da Igreja, hoje com outra denominação, começou a ser celebrado em 1908, por iniciativa do norte-americano Paul Wattson, presbítero anglicano que mais tarde se converteu ao catolicismo.
As principais divisões entre as Igrejas cristãs ocorreram no século V, depois dos Concílios de Éfeso e de Calcedónia (Igreja copta, do Egito, entre outras); no século XI com a cisão entre o Ocidente e o Oriente (Igrejas Ortodoxas); no século XVI, com a Reforma Protestante e, posteriormente, a separação da Igreja de Inglaterra (Anglicana).

Ecclesia (18 jan, 2025)


18/01/2025

Pela unidade dos cristãos



Entrevista ao Prof. Riccardo Burigana, diretor do Centro de Estudos para o Ecumenismo em Itália, por ocasião da celebração da Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos (18-25 de janeiro) e também da Jornada de Diálogo Judaico-Cristão (17 de janeiro), esta última uma iniciativa italiana que remonta a 1990.




O título da Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos deste ano é uma pergunta: «Crês nisso?». Como é que o ecumenismo contribui para lhe dar resposta?

A Semana parte este ano, como acontece há décadas, de uma passagem da Escritura  «Crês nisso?» (de João 11,26)  mas gira em torno dos 1700 anos da celebração do Concílio de Niceia. É um convite a repensar as origens do cristianismo de modo a olhar para hoje, tanto mais que este aniversário recorda um tema central do caminho ecuménico contemporâneo, a saber: para além das Escrituras, em que acreditamos realmente em conjunto?
A confissão de fé é um dos temas com que os cristãos se têm confrontado ao longo da história, sempre a pensar em Niceia. A profissão de fé de Niceia foi, por vezes, utilizada para fins apologéticos. Contudo, desde meados do século XIX, desde o início do movimento ecuménico contemporâneo, representa a verdadeira “estrela polar” de referência.
Recordemos que o diálogo entre os cristãos, que na altura pensavam Cristo de formas muito diferentes, não surgiu apenas para acabar com as divisões, mas porque, ainda que com sensibilidades diferentes, sentiam necessidade de anunciar ao mundo o mesmo Cristo. Podemos dizer que o ecumenismo começou aí e é uma experiência que torna a fé viva e dinâmica, que recorda a dimensão global do anúncio de Cristo ao mundo, algo que o Papa Francisco, nestes tempos, tem bem presente e reiterou várias vezes.
À sua pergunta precisa, respondo, pois, da seguinte forma: o movimento ecuménico deu e continua a dar um grande contributo para que todos os cristãos continuem a meditar sobre a centralidade da fé em Cristo, que é o coração pulsante da vida individual e comunitária. E Cristo, hoje como sempre, é o Messias, príncipe da paz, segundo Isaías 9,6.

Vê mesmo este avanço no ecumenismo?

O movimento ecuménico desenvolveu-se a vários níveis, em muitas direções, com a sua própria globalidade e dinamismo. Há o ecumenismo dos encontros oficiais, ao mais alto nível dos responsáveis das Igrejas. Parece-me que este ecumenismo já permitiu sair das pretensões do passado: «Eu tenho razão, por isso és tu que tens de mudar!». A purificação da memória e a cura das feridas reciprocamente criadas, encontraram um grande impulso no Jubileu do ano 2000, embora já fosse um tema central há décadas no diálogo entre cristãos. Estes passos foram impulsionados pela reflexão teológica e abriram novas perspetivas rumo à unidade na diversidade.
Paralelamente ao nível “oficial”, existe o ecumenismo da experiência vivida no quotidiano. Interrogamo-nos acerca dele: perguntamo-nos até que ponto está difundido, não tendo por vezes dele uma perceção exata. Em Itália, como noutros lugares, são inúmeras as experiências locais de cristãos que, mesmo não estando ainda em plena comunhão, se procuram e se encontram, para juntos testemunharem Cristo: destas experiências de ecumenismo quotidiano nasceu um estilo ecuménico, feito de acolhimento recíproco e de diálogo caracterizado pela franqueza das visões diferentes, sempre com o objetivo de tornar mais eficaz o anúncio e o testemunho.
A Igreja católica celebrou, há poucas semanas, o 60º aniversário do Unitatis redintegratio, uma fonte preciosa e única para encarnar o estilo ecuménico  a unidade na diversidade  a partir das comunidades locais, onde os fiéis vivem concretamente a sua fé. O decreto conciliar foi concebido para os católicos, para os ajudar a descobrir como viver a sua vocação à comunhão e, assim, encorajar um repensar radical das formas e do conteúdo da participação da Igreja católica no movimento ecuménico contemporâneo.

Hoje em dia temos as guerras, com cristãos de ambos os lados: quanto pesam nas boas intenções ecuménicas?

A escalada da guerra na Ucrânia, com a invasão russa em fevereiro de 2022, marcou profundamente as Igrejas e, portanto, o caminho ecuménico: as imagens da bênção das armas não fizeram certamente bem aos cristãos de todo o mundo. Perante esta tragédia, muitos cristãos não só condenaram a guerra com palavras, mas também abriram as suas casas àqueles que foram obrigados a fugir.
Houve, pois, palavras e gestos com os quais os cristãos, em conjunto, tomaram distância da violência, como o Evangelho exige. Os organismos ecuménicos têm multiplicado as suas posições neste sentido, se bem que tal tenha tido pouco destaque mediático, em comparação com a crueza das imagens de laceração religiosa.
Também não escondemos que ainda há Igrejas que colocam problemas  por exemplo, a pena de morte, o acolhimento dos migrantes (sejam eles quem forem), a paridade de género e outros – a outros cristãos que se empenham, com muita alegria e paixão, no movimento ecuménico.
Estou convencido, porém, que o debate em torno destas dificuldades pode revigorar nos cristãos o desejo de unidade, a ponto de podermos levantar a voz e dizer que chegou agora o momento de «dar um salto em frente» no caminho ecuménico.
O compromisso na construção da paz esteve sempre no horizonte do ecumenismo contemporâneo: parece-me exemplar o facto de que tenha caído por terra o pedido, formulado por alguns cristãos, de expulsar o Patriarca de Moscovo do Conselho Ecuménico das Igrejas. A história do Conselho ajuda a compreender esta opção: aquando da sua fundação, em Amesterdão, em 1948, foram convidados todos os representantes das Igrejas, mesmo os das Igrejas evangélicas alemãs que tinham colaborado ativamente com o nazismo.
A exigência do diálogo ininterrupto não dispensa, sem sombra de dúvida, a condenação dos métodos de violência: esta nunca pode ser justificada com o Evangelho na mão. Infelizmente, isto já aconteceu claramente no passado, mas o próprio movimento ecuménico testemunha que os cristãos do século XXI são pela paz e sentem-se comprometidos na construção da paz em condições de justiça.

Ecumenismo e diálogo inter-religioso, qual é hoje a sua relação?

Nesta mesma Semana de Oração, que para a Igreja Católica se situa no âmbito do ano jubilar, está a ser relançada com força a ideia de que os cristãos podem e devem caminhar juntos, apresentar-se a uma só voz no diálogo com as outras religiões. Neste ponto, o Papa Francisco está a encontrar sintonia por parte de numerosos líderes cristãos.
Ecumenismo e diálogo inter-religioso são âmbitos diferentes, como indica claramente o magistério da Igreja católica desde o II Concílio do Vaticano, mas,, no movimento ecuménico, surge cada vez mais a necessidade de refletir em conjunto, como cristãos, sobre o património dos valores que podem ser partilhados com os membros de outras tradições religiosas – da liberdade religiosa à paz, ao cuidado do ambiente –, para repensar a comunidade humana contemporânea global.
Nos primeiros passos deste ano jubilar, são numerosas as iniciativas destinadas a criar ou desenvolver um diálogo a três vozes, entre cristãos, judeus e muçulmanos: nalguns casos, não se trata de novidade, mas de passos que assumem perspetivas novas e mais elevadas. Pode dizer-se que, deste ponto de vista, estamos a superar os resultados do encontro entre as religiões em Assis, desejado por João Paulo II em 1986.

Na própria Igreja Católica, há muitas resistências a este respeito. O caminho do Papa Francisco não é partilhado por todos.

Francisco lançou sementes, abriu percursos inovadores com uma releitura pessoal do II Concílio do Vaticano e da sua receção e, por isso, suscitou perplexidades e críticas mesmo no seio da Igreja católica: alguns continuam a pensar que o diálogo pode debilitar a missão da Igreja.
Mas a «fraternidade» de que fala o Papa Francisco nasce de uma profunda comunhão eclesial, sinal da escuta da própria Palavra de Deus.

Mesmo em relação ao tema do cuidado comum da criação, Francisco está a encontrar fortes resistências. Qual é a posição do ecumenismo?

O tema está hoje muito difundido entre todos os cristãos: muitas Igrejas estão a caminhar na mesma linha de Francisco, porque, nestes últimos anos, houve uma recuperação muito forte da reflexão sobre a relação entre criação, criatura e Criador.
É um tema que também assumiu uma dimensão inter-religiosa, com a descoberta do que as religiões têm em comum. Muitas religiões, sem partirem do livro do Génesis ou dos Padres do deserto, sabem colocar no centro a questão do respeito pelo ambiente e por toda a vida de que fazemos parte.
Em Itália, a investigação do Centro de Estudos para o Ecumenismo sobre as iniciativas do Tempo da Criação, que decorre de 1 de setembro a 4 de outubro, mostra o quanto este tema se enraizou e se difundiu com uma conotação ecuménica e/ou inter-religiosa. Dos encontros de oração às mesas redondas de aprofundamento, à formulação de propostas concretas, à realização de pequenos gestos, estas iniciativas mostram o grande interesse que existe nas Igrejas e fora delas pelo destino da criação e das criaturas que aqui vivem; há fermento e há também preocupação.
A partir das Sagradas Escrituras, o movimento ecuménico soube colher o fundamento da «justiça ecológica», denunciando os processos económicos que visam apenas o lucro imediato, sem refletir sobre o hoje e o amanhã, sobre o dom da criação que torna possível a nossa vida.
A propósito da criação, também se medem as divisões entre os cristãos: de facto, não faltam aqueles que, a partir precisamente das Sagradas Escrituras, contestam estas iniciativas, relançando a ideia de que o homem é senhor da criação por mandato divino.

Outros motivos de contradição, na própria Igreja Católica, conduzem-nos ao conflito israelo palestiniano. O ponto de vista ecuménico, qual é?

É claro que os trágicos acontecimentos deste conflito estão a dificultar o diálogo com o judaísmo, que há décadas se tem confrontado com uma pluralidade de aspetos. Gosto de recordar que o primeiro esquema para repensar as relações entre a Igreja católica e o povo judeu, desejado por João XXIII para o futuro Concílio – depois levado por diante pelo cardeal Bea na fase preparatória do II Concílio do Vaticano – nem sequer chegou a ser discutido: em junho de 1962 foi retirado por causa das “consequências políticas” que este esquema poderia ter, apesar de ter sido redigido com fins teológicos.
Aproximamo-nos, pois, da Jornada de Diálogo Judaico-Cristão, que se celebra [em Itália] no dia 17 de janeiro: alcançamos a XXXVI edição e talvez tenha chegado o tempo de fazer um balanço do que foi feito e dito ao longo deste caminho, iniciado em 1990, depois de o Conselho Permanente da Conferência Episcopal Italiana ter aprovado a ideia de uma Jornada anual dedicada ao aprofundamento do conhecimento do povo judeu.
Devido precisamente aos acontecimentos dos últimos meses, que provocaram silêncios e lacerações mesmo em Itália, poder-se-ia temer uma Jornada “diminuída”. Não faltam realidades que decidiram adiar o tradicional encontro dedicado, mas, no estado atual de recolha de informações, já são 25 as dioceses diretamente envolvidas, por vezes com mais de um encontro no mesmo lugar: de Acireale a Milão, passando por Brindisi, Florença, Modena, Bolonha, Parma e Treviso, sem esquecer Roma.
Penso que voltar a ler em conjunto as Escrituras comuns, definindo desde o início um percurso partilhado, tendo em vista o dia 17 de janeiro, pode ajudar neste «percurso difícil também para Deus», segundo a recente definição do meu amigo Brunetto Salvarani, que há anos está empenhado neste diálogo que tanto tem a oferecer aos cristãos, aos judeus e à sociedade em geral.

Que manifestações do programa ecuménico nos dão esperança?

O mapeamento está em curso. O Centro de Estudos para o Ecumenismo, fundado em 2008 e com sede em Florença, recolheu até agora as iniciativas de 114 dioceses: por vezes, há apenas um encontro diocesano de oração, porque esta é uma Semana de Oração, precisamente para rezar em conjunto. Muitas vezes o bispo está presente nestes encontros, segundo uma tradição que se tem vindo a consolidar nos últimos anos.
Do quadro, ainda provisório, emergem alguns elementos: a reflexão sobre o Concílio de Niceia, sobre a sua atualidade e sobre a sua importância para o caminho ecuménico, com particular atenção à centralidade da Trindade na vida dos crentes; o renovado compromisso na construção da paz como testemunho ecuménico de primeira ordem; o desejo de um maior envolvimento dos jovens, precisamente para que saibam apreender as riquezas das diversas confissões cristãs.
Sobre este aspeto dos jovens, gostaria de recordar que, em Bolonha, está a ser programada uma tarde na qual que os que frequentam a catequese e os grupos de escuteiros, com as suas famílias, são convidados a visitar as Igrejas cristãs não católicas da cidade: uma tarde que termina com um momento de oração ecuménica.
Também neste ano haverá uma oração nacional: terá lugar em Nápoles, com a participação dos representantes das Igrejas cristãs em Itália, acolhidos pelo cardeal Domenico Battaglia, arcebispo de Nápoles, e por D. Gaetano Castello, bispo auxiliar, empenhado há anos na construção de um diálogo de fraternidade evangélica. Em Bari, a conclusão da Semana de Oração coincidirá com o início de uma «Conversa entre católicos e ortodoxos no Espírito Santo», graças à Comunidade de Jesus, fundada e dirigida por Matteo Calisi, para aprofundar, não só do ponto de vista teológico, Theosis e charismata.
Por fim, quero salientar, embora ainda haja muito a dizer sobre as iniciativas locais, que no dia 21 de janeiro terá início, com uma intervenção de D. Erio Castellucci – com o título Niceia hoje: A fecundidade do Concílio para uma Igreja a caminho – o percurso 325-2025: O Concílio de Niceia e os cristãos a caminho da unidade, um congresso promovido pela Eparquia de Lungro, pela Pontifícia Faculdade Teológica da Itália Meridional e pelo Centro de Estudos para o Ecumenismo em Itália, «destinado a quem deseja fazer ou aprofundar um percurso formativo, totalmente gratuito, sobre a centralidade da dimensão ecuménica no testemunho de Cristo no século XXI», como referiu D. Donato Oliverio, bispo de Lungro.

Andrea Capelletti e Giordano Cavallari (coord.)
Settimana news (14 jan. 2025)

10/01/2025

Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos no Grande Porto 2025

No passado dia 8 de janeiro, o grupo de representantes, composto por clérigos e leigos das Igrejas de sensibilidade ecuménica do Porto, reuniu-se no Centro Diocesano da Igreja Lusitana, em Vila Nova de Gaia. O encontro teve como objetivo planear as atividades ecuménicas na cidade do Porto para o ano de 2025, tendo como tema central a celebração dos 1700 anos do I Concílio Ecuménico de Niceia.
Entre os diversos pontos abordados, destacou-se a organização da Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, também conhecida como Oitavário de Oração, que será celebrada entre os dias 18 e 25 de janeiro. Durante esta semana, realizar-se-ão várias Celebrações Ecuménicas em Gaia e no Porto, praticamente todos os dias.
A Celebração Ecuménica Nacional, que se realizará no dia 18 de janeiro, sábado, às 15h30, na Paróquia S. João Evangelista da Igreja Lusitana, localizada na Rua Afonso de Albuquerque, 86, em Vila Nova de Gaia, será um momento marcante. Durante este evento, será apresentado o Roteiro Ecuménico do Porto para o ano 2025. A participação está aberta a todos os interessados.


06/01/2025

Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos (18 a 25 de janeiro de 2025)

«Crês nisso?»
(João 11,26)

Texto bíblico: João 11,17-27


Para este ano de 2025, as orações e reflexões para a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos foram preparadas pelos irmãos e irmãs da comunidade monástica de Bose, no Norte da Itália. Este ano assinala o 1700º aniversário do primeiro Concílio Ecuménico, realizado em Niceia, perto de Constantinopla, em 325 d.C. Essa comemoração oferece uma oportunidade única para refletir e celebrar a fé comum dos cristãos, conforme é expressa no Credo formulado nesse Concílio; uma fé que permanece viva e fecunda nos nossos dias. A Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos de 2025 oferece uma ótima oportunidade para nos valermos dessa herança partilhada e aprofundarmos a fé que une todos os cristãos.

O Concílio de Niceia

Convocado pelo imperador Constantino, o Concílio de Niceia, segundo a tradição, contou com a participação de 318 Padres, a maioria do Oriente. A Igreja, que acabara de sair da clandestinidade e da perseguição, começava a experimentar a dificuldade de partilhar a mesma fé nos diferentes contextos culturais e políticos da época. O acordo sobre o texto do Credo definia os fundamentos essenciais comuns para sobre eles construir comunidades locais que se reconhecessem como igrejas irmãs, em que cada uma respeitava a diversidade da outra.
Nas décadas anteriores, surgiram divergências entre os cristãos, que confluíram, por vezes, em conflitos sérios. Essas disputas respeitavam a assuntos tão diversos como a natureza de Cristo em relação ao Pai, a questão de uma única data para celebrar a Páscoa e sua relação com a Páscoa judaica, a oposição a opiniões teológicas consideradas heréticas, bem como o modo de reintegrar as pessoas que tinham abandonado a fé durante as perseguições nos anos anteriores.
O texto aprovado do Credo usava a primeira pessoa do plural: «Cremos...». Essa forma sublinhava a expressão de um sentimento comum. O Credo era dividido em três partes, dedicadas às três Pessoas da Trindade, seguidas de uma conclusão que condenava as afirmações consideradas heréticas. O texto desse Credo foi revisto e ampliado no Concílio de Constantinopla em 381 d.C., em que as condenações foram removidas. Essa é a forma da profissão de fé que as igrejas cristãs reconhecem hoje como o Credo Niceno-constantinopolitano, geralmente chamado simplesmente Credo Niceno.

De 325 a 2025

Embora o Concílio de Niceia tenha estabelecido o modo como deveria ser calculada a data da Páscoa, as
divergências de interpretação subsequentes fizeram com que a festa fosse frequentemente fixada em datas diferentes no Oriente e no Ocidente. De facto, ainda aguardamos o dia em que teremos novamente uma data comum para a celebração da Páscoa. Porém, neste ano de 2025, por uma feliz coincidência, essa grande festa será celebrada na mesma data pelas igrejas do Oriente e do Ocidente.
O significado do evento salvífico celebrado por todos os cristãos no domingo de Páscoa, 20 de abril de 2025, não mudou no decurso de dezessete séculos. A Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos é uma oportunidade para que os cristãos se insiram, uma vez mais, nessa herança viva e se reapropriem dela, de modo consonante com as culturas contemporâneas, que são ainda mais diversas do que as do mundo cristão na época do Concílio de Niceia. Viver a fé apostólica juntos hoje não implica reabrir as controvérsias teológicas daquela época, que continuaram ao longo dos séculos, mas antes reler em espírito de oração os fundamentos bíblicos e as experiências eclesiais que levaram àquele Concílio e às suas decisões.

O texto bíblico

Com isso em mente, foi escolhido o texto bíblico orientador de João 11,17-27. O tema da Semana - «Crês nisso?» (v. 26)» - é inspirado no diálogo entre Jesus e Marta, quando Jesus visitou a casa de Marta e Maria em Betânia, após a morte de seu irmão Lázaro, conforme narra o evangelista João.
No início do capítulo, o Evangelho diz que Jesus amava Marta, Maria e Lázaro (v. 5) e, quando foi informado de que Lázaro estava gravemente doente, declarou que a doença dele «não leva à morte», mas que o Filho de Deus seria «glorificado por ela» (v. 4); e permaneceu onde estava por mais dois dias. Quando Jesus chegou finalmente a Betânia, apesar de ter sido avisado do risco de aí ser apedrejado (v. 8), Lázaro já estava no sepulcro havia quatro dias (v. 17). As palavras de Marta a Jesus expressam sua deceção com a chegada tardia de Jesus e talvez contenham também uma nota de reprovação: «Senhor, se estivesses aqui, meu irmão não teria morrido» (v. 21). No entanto, essa exclamação é seguida imediatamente por uma profissão de confiança no poder salvador de Jesus: «Mesmo assim, eu sei que o que pedires a Deus, ele to concederá» (v. 22). Quando Jesus lhe garante que o seu irmão ressuscitará (v. 23), ela responde afirmando a sua fé religiosa: «Eu sei que ele vai ressuscitar, na ressurreição do último dia» (v. 24). Jesus fá-la dar um passo adiante, declarando o seu poder sobre a vida e a morte e revelando a sua identidade de Messias: «Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que tenha morrido, viverá. E todo aquele que vive e crê em mim, não morrerá jamais» (v. 25 26). Após essa declaração surpreendente, Jesus desafia Marta com uma pergunta muito direta e profundamente pessoal: «Crês nisso?» (v. 26).
Tal como Marta, as primeiras gerações de cristãos não podiam ficar indiferentes ou passivas quando as palavras de Jesus tocavam e perscrutavam os seus corações. Elas procuraram sinceramente dar uma resposta compreensível à pergunta de Jesus: «Crês nisso?». Os Padres de Niceia também se esforçaram por encontrar palavras que abrangessem todo o mistério da encarnação e da paixão, morte e ressurreição de seu Senhor. Enquanto aguardam seu regresso, os cristãos de todo o mundo são chamados a testemunhar juntos essa fé na ressurreição, que é para eles a fonte de esperança e alegria, a ser compartilhada com todos os povos.

A celebração ecuménica

Neste ano de aniversário do Concílio de Niceia, a Celebração Ecuménica da Palavra de Deus da Semana de Oração pela Unidade está centrada no significado de crer e na profissão da fé tanto pessoal como comunitária, tanto o «eu creio» como o «nós cremos». O texto bíblico de que o tema da Semana é extraído, com sua pergunta desafiante - «Crês nisso?» - é proclamado num diálogo entre três leitores e a assembleia, como parte do convite à adoração. Após uma breve introdução ao primeiro Concílio Ecuménico, uma oração de abertura inspirada em Clemente de Roma (c. 35-99 d.C.) conduz às leituras do Antigo e do Novo Testamento.
Após o sermão/homilia, o diálogo entre os leitores e a assembleia continua, deixando ecoar o diálogo entre Jesus e Marta. Os participantes são convidados a celebrar sua fé comum, recebendo uma vela e compartilhando a sua chama uns com os outros como sinal da luz de Cristo Ressuscitado. Em seguida, recitam juntos o Credo Niceno.
As orações de intercessão, baseadas em escritos patrísticos [1] dos séculos II a VIII, são um convite a crescermos juntos na fé e a darmos testemunho de Deus, Pai, Filho e Espírito Santo no mundo hodierno. Em seguida, todos os presentes rezam juntos o Pai-Nosso e são despedidos com uma bênção.

O material para cada dia

Os textos fornecidos para a oração pessoal ou comunitária de cada um dos oito dias incluem duas leituras das Escrituras e um Salmo. Os textos bíblicos de cada dia destacam, por sua vez, palavras-chave do Credo Niceno.
  • Dia 1: A paternidade e o cuidado de Deus que governa o universo
  • Dia 2: A criação como obra de Deus
  • Dia 3: A encarnação do Filho
  • Dia 4: O mistério pascal: a encarnação, a paixão, a morte e a ressurreição de Jesus
  • Dia 5: O Espírito Santo, que dá a vida e a alegria
  • Dia 6: A Igreja: comunidade de crentes
  • Dia 7: O Batismo na morte e ressurreição do Senhor
  • Dia 8: A espera do Reino e a vida que virá
Em vez de reflexões para cada dia escritas recentemente, os textos das Escrituras são seguidos por breves leituras patrísticas de diferentes áreas geográficas e tradições eclesiais (grega, siríaca, arménia e latina). O objetivo da seleção desses textos breves é oferecer uma visão da reflexão cristã no primeiro milénio, que ajude a situar as definições do Concílio de Nicéia tanto nos contextos que as originaram como naqueles que foram influenciados por elas. As orações de intercessão e contemplação de cada dia convidam-nos a atualizar o conteúdo da fé compartilhado e celebrado ao longo dos tempos e em todo o mundo, encontrando nele um motivo de ação de graças.

[1] De autores cristãos do primeiros séculos.

01/12/2024

Mensagem do papa Francisco ao patriarca Bartolomeu por ocasião da Festa de Santo André

Delegação da Santa Sé liderada pelo cardeal Kurt Koch

Por ocasião da festa litúrgica de Santo André, padroeiro do Patriarcado Ecumênico de Constantinopla, o Papa Francisco enviou a 30 de novembro uma mensagem ao Patriarca Bartolomeu. A mensagem, entregue pelo cardeal Kurt Koch no final da solene Divina Liturgia celebrada na Igreja Patriarcal de São Jorge, em Fanar, reforça a importância do diálogo, da oração e do esforço conjunto para alcançar a plena comunhão entre católicos e ortodoxos. Deixamos o texto.


A Sua Santidade Bartolomeu
Arcebispo de Constantinopla
Patriarca Ecuménico

Santidade, irmão amado em Cristo

A comemoração litúrgica do Apóstolo André, padroeiro do Patriarcado Ecuménico de Constantinopla, oferece-me uma ocasião oportuna para exprimir, em nome de toda a Igreja Católica e em meu próprio nome, cordiais votos a Vossa Santidade, aos membros do Santo Sínodo, ao clero, aos monges e a todos os fiéis reunidos na Catedral Patriarcal de São Jorge em Fanar. Envio também a certeza das minhas fervorosas orações para que Deus Pai, fonte de todo o dom, conceda abundantes bênçãos celestes por intercessão de Santo André, primeiro entre os chamados e irmão de São Pedro. A delegação que enviei novamente este ano demonstra o afeto fraterno e o profundo respeito que continuo a ter por Vossa Santidade e pela Igreja confiada ao seu cuidado pastoral.
Há poucos dias, a 21 de novembro, celebrou-se o 60º aniversário da promulgação do decreto Unitatis redintegratio, que marcou a entrada oficial da Igreja Católica no movimento ecuménico. Este importante documento do II Concílio do Vaticano abriu o caminho para o diálogo com outras Igrejas. O nosso diálogo com a Igreja Ortodoxa foi e continua a ser particularmente frutuoso. O primeiro dos frutos obtidos é certamente a fraternidade renovada que hoje vivemos com particular intensidade, e por isso dou graças a Deus Pai omnipotente. No entanto, aquilo que o Unitatis redintegratio propõe como objetivo último do diálogo, a plena comunhão entre todos os cristãos, partilhando o único cálice eucarístico, ainda não se realizou nem sequer com os nossos irmãos e irmãs ortodoxos. Isto não é surpreendente, uma vez que as divisões milenares não podem ser ultrapassadas em poucos decénios. Ao mesmo tempo, como afirmam alguns teólogos, o objetivo de restabelecer a plena comunhão tem uma inegável dimensão escatológica, na medida em que o caminho para a unidade coincide com o caminho da salvação já concedida em Jesus Cristo, da qual a Igreja só participará plenamente no fim dos tempos. Isto não significa que se deva perder de vista o objetivo último, pelo qual todos ansiamos, nem que se possa perder a esperança de que tal unidade possa ser alcançada no decurso da história e dentro de um prazo razoável. Católicos e ortodoxos não devem deixar de rezar e trabalhar juntos, preparando-se para aceitar o dom divino da unidade.
O compromisso irreversível da Igreja Católica com o caminho de diálogo foi reafirmado pela recente Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, que se realizou no Vaticano de 2 a 27 de outubro de 2024. O impulso para um renovado exercício da sinodalidade na Igreja Católica fomentará certamente as relações entre a Igreja Católica e a Igreja Ortodoxa, que sempre manteve viva esta dimensão eclesial constitutiva. Para além das decisões concretas que resultarão dos trabalhos da Assembleia, viveu-se durante estes dias um clima de diálogo autêntico e franco. Num mundo dilacerado por oposições e polarizações, os participantes na Assembleia, apesar de provirem de experiências muito diferentes, conseguiram escutar-se uns aos outros sem julgar ou condenar. Escutar sem condenar deve ser também a forma como os católicos e os ortodoxos continuam o seu caminho em direção à unidade. Estou particularmente satisfeito pelo facto de representantes de outras Igrejas, incluindo o Metropolita Job da Pisídia, delegado do Patriarca Ecuménico de Constantinopla, também terem participado ativamente no processo sinodal. A sua presença e o seu trabalho assíduo enriqueceram a todos e foram um sinal tangível da atenção e do apoio que Vossa Santidade sempre deu ao processo sinodal.
Santidade, o já próximo 1700º aniversário do primeiro Concílio Ecuménico de Niceia será mais uma oportunidade para dar testemunho da crescente comunhão que já existe entre todos aqueles que são batizados em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Já exprimi várias vezes o meu desejo de poder celebrar este acontecimento juntamente convosco, e agradeço sinceramente a todos aqueles que já começaram a trabalhar para que seja possível. Este aniversário não dirá respeito apenas às duas antigas Sedes que participaram ativamente no Concílio, mas a todos os cristãos que continuam a professar a sua fé nas palavras do Credo niceno-constantinopolitano. A comemoração deste importante acontecimento reforçará certamente os laços já existentes e encorajará todas as Igrejas a dar um renovado testemunho no mundo atual. A fraternidade vivida e o testemunho dado pelos cristãos serão também uma mensagem para o nosso mundo atormentado pela guerra e pela violência. A este propósito, associo-me de bom grado à vossa oração pela paz na Ucrânia, na Palestina, em Israel e no Líbano, bem como em todas as regiões onde se trava aquilo a que muitas vezes chamei uma «guerra mundial em pedaços».
Com estes sentimentos, renovo a Vossa Santidade os meus cordiais votos de felicidades. Confiando-vos à intercessão dos Santos Irmãos Pedro e André, envio-vos um abraço fraterno em Cristo Nosso Senhor.

Roma, São João de Latrão, 30 de novembro de 2024

Francisco

19/08/2024

Tempo da Criação 2024

Todos os anos, de 1 de setembro a 4 de outubro, a família cristã une-se para a celebração mundial de oração e ação com vista à proteção da nossa casa comum. É uma época especial em que celebramos Deus como Criador e reconhecemos a Criação como ato divino contínuo, que nos chama como colaboradores a amar e cuidar do dom de tudo aquilo que é criado. Como seguidores e seguidoras de Cristo em todo o mundo, compartilhamos um chamamento comum pelo cuidado da Criação. Somos cocriaturas e parte de tudo o que Deus fez. O nosso bem-estar está interligado com o bem-estar da Terra.
Alegramo-nos com esta oportunidade de proteger a nossa casa comum e todos os seres que a partilham. Este ano, o tema para este tempo é «Ter esperança e agir com a Criação».
No meio da tripla crise planetária composta pelas mudanças climáticas, a perda de biodiversidade e a poluição, muitos estão a começar a desesperar e sofrer de ansiedade climática. Como pessoas de fé, somos chamados a fortalecer a esperança inspirada pela nossa fé, a esperança da ressurreição. Não é uma esperança sem ação, mas uma esperança encarnada em ações concretas de oração e pregação, serviço e solidariedade.
Neste ano, particularmente, também unimos as nossas vozes cristãs a uma iniciativa de mobilização conjunta para apoiar o Tratado de não proliferação de combustíveis fósseis, que exige a paralisação de novos projetos de combustíveis fósseis.

Convite dos líderes religiosos à participação no Tempo da Criação


Caras Irmãs e Irmãos em Cristo,
O Tempo da Criação é a celebração cristã anual de oração e de resposta conjunta ao clamor da Criação: a família ecuménica em todo o mundo une-se para ouvir e cuidar de nossa casa comum, o Oikos de Deus.
O período de “celebração” do Tempo da Criação começa a 1 de setembro, Festa da Criação, e termina em 4 de outubro, Festa de São Francisco de Assis, padroeiro da ecologia, amado por muitas denominações cristãs. Este ano unir-nos-emos em torno do tema «Ter esperança e agir com a Criação» e o símbolo «As primícias da esperança», inspirado em Romanos 8,19-25.
Os líderes religiosos de todo o mundo prepararam um convite especial para que possa, juntamente com a sua comunidade, participar deste Tempo. Pode visualizá-lo aqui.
Muitas pessoas também compartilharam as suas reflexões para inspirarem a nossa família ecuménica nesta jornada, à medida que pessoas cristãs de todos os lugares se preparam para testemunhar a esperança e a ação, trabalhando em conjunto com e pela Criação.
Como afirmação poderosa da importância deste período ecuménico de oração e ação pela Criação, aqui estão as palavras dos líderes religiosos da nossa família cristã, a convocar-nos para este período especial:
  • «Por muito que se tente negá-los, escondê-los, dissimulá-los ou relativizá-los, os sinais da mudança climática impõem-se-nos de forma cada vez mais evidente. Ninguém pode ignorar que, nos últimos anos, temos assistido a fenómenos extremos, a períodos frequentes de calor anormal, seca e outros gemidos da terra que são apenas algumas expressões palpáveis de uma doença silenciosa que nos afeta a todos. [...] Convido cada um a acompanhar este percurso de reconciliação com o mundo que nos alberga e a enriquecê-lo» – Sua Santidade o Papa Francisco, Bispo de Roma, Igreja Católica Romana.
  • «Foi há 35 anos que o nosso venerável antecessor, o falecido Patriarca Ecuménico Demétrios, lançou a primeira encíclica que convidava todas as pessoas de boa vontade a celebrarem o dia 1 de setembro como um dia especial de oração pela preservação do ambiente natural. [...] Hoje, em todo o planeta, numerosas igrejas cristãs e os seus fiéis reconhecem esta celebração como o Dia Mundial de Oração pela Criação ou a Festa da Criação. Este sentido de convicção ecuménica e unidade cristã é fundamental, não só porque nosso Senhor nos ordenou que "sejamos um" (João 17,21), mas também porque não podemos e não devemos esperar enfrentar as mudanças climáticas sem trabalharmos em estreita colaboração uns com os outros. Como afirmamos repetidamente, "estamos todos no mesmo barco". O cuidado da criação é um mandato e uma responsabilidade coletiva» – Sua Santidade o Patriarca Ecuménico Bartolomeu, Santa Igreja Ortodoxa.
  • «Diante da crise climática, proteger a Criação de Deus é um imperativo espiritual para os cristãos em toda a Igreja global. O Tempo da Criação inspirou-nos a unirmo-nos para orar e agir – para salvaguardarmos, sustentarmos e renovarmos a vida da Terra. É por isso que, inspirada pela liderança da Igreja Ortodoxa, a Comunhão Anglicana apoia com entusiasmo este período ecuménico. Convido os anglicanos de todo o mundo a orar pela unidade da Igreja, enquanto seguimos o chamamento de Cristo a protegermos e renovarmos o que Deus nos confiou» – Reverendíssimo Justin Welby, Arcebispo de Cantuária, Comunhão Anglicana.
  • «Na nossa 13ª Assembleia Geral, em Cracóvia (em setembro de 2023), a Federação Luterana Mundial afirmou que, como igrejas em contínua reforma, somos chamadas a trabalhar pela paz no mundo: entre as pessoas, entre os países e com toda a criação. O aumento implacável das temperaturas globais globais significou a perda de biodiversidade, de vidas, de meios de subsistência e de comunidades inteiras. A criação grita em sofrimento. Reconhecemos o apelo urgente à ação e reconhecemos que só lhe podemos responder fundados na fé. O Tempo da Criação é uma fonte de força e comunhão que nos incentiva a verdadeiramente "ter esperança e agir com a Criação"» – Rev.da Dr.ª Anne Burghardt, Secretária Geral da Federação Luterana Mundial.
  • «O Conselho Metodista Mundial, em 2016, elogiou a iniciativa de se celebrar um "Tempo da Criação" de 1 de setembro a 4 de outubro, observado pela primeira vez pelo Patriarcado Ecuménico, agora acolhido por cristãos preocupados em todo o mundo. Este é o momento de confessarmos que somos filhas e filhos pródigos que voltam para casa depois de uma devastação tão longa do céu e da terra. O nosso regresso ecológico é o nosso “caminhar juntos” (syn-hodos) com a Mãe Terra pela intercessão do Espírito Santo. Entramos num novo kairós da primavera ecuménica de renovação da Igreja Sinodal, antecipando, na medida do possível, a lógica dos novos céus e da nova terra para os quais caminhamos. Celebremos com São Paulo o papel de parteira do Espírito através da tríplice sequência "cosmoteândrica" do santo gemido da criação como Mãe Terra, do Espírito como parteira e dos crentes como filhos adotivos de Deus!» – Rev. Dr. Jong Chun J.C. Park, Presidente do Conselho Metodista Mundial.
  • «As mudanças climáticas e os desastres naturais já pairam sobre nós. O planeta está em apuros e "a criação geme", como nos lembra o Apóstolo Paulo em Romanos 8. No meio disso tudo, somos chamados a ser administradores e cidadãos responsáveis que cuidamos da terra que pertence ao Senhor e a sustentamos. Isto é a esperança em ação, enquanto oramos e ansiamos por um mundo melhor e mais seguro para todas as pessoas e para a criação. Cada um de nós precisa fazer a sua parte para cuidar dela» – Rev. Prof. Dr. Jerry Pillay, Secretário Geral, Conselho Mundial de Igrejas.
  • «Não devemos dececionar o Criador estragando a sua criação, criação que Ele nos confiou desde o princípio dos tempos e continua a proteger de nós mesmos. Nalguns lugares precisamos dizer "Basta" aos danos que estamos a infligir propositalmente à criação, cegos pela nossa ganância e desejo de lucro. Conscientes da gravidade da questão, deveríamos erguer a nossa voz numa tentativa incansável de difundir essa consciência e de a fazer tomar parte da cultura diária e do padrão de comportamento dos indivíduos, bem como das empresas. Uma mudança de paradigma é extremamente necessária» – Prof. Michel Abs, Secretário Geral, Conselho de Igrejas do Oriente Médio.
  • «Devemos abandonar os combustíveis fósseis e migrar para as energias renováveis de uma forma justa e organizada. A nossa fé convida-nos a apoiar as comunidades vulneráveis que são mais afetadas pela crise climática» – Rudelmar Bueno de Faria, Secretário Geral, ACT Alliance.
  • «O Patriarcado Ecumênico lançou pela primeira vez um dia de oração pela criação em 1989. Desde então, o Patriarca Ecuménico Bartolomeu tem defendido com paixão e paciência a proteção da criação, fazendo ecoar o "profundo anseio" desta última e a "esperança paciente" da humanidade (Romanos 8,19-25). Escutar e responder ao grito da criação já não é um luxo, uma tendência ou uma agenda. É essencial para a sustentabilidade do nosso planeta e a prosperidade dos seus habitantes» – Rev. Dr. John Chryssavgis, Diretor Executivo, Instituto Ecuménico Huffington – Escola Ortodoxa Grega de Teologia Santa Cruz, Hellenic College.
  • «O Tempo da Criação é uma ótima maneira de a sua Igreja se comprometer no cuidado do mundo criado por Deus. Inscreva-se. Aproveite ao máximo os recursos. E vamos adorar e agir, porque juntos podemos fazer a diferença» – Dr.ª Ruth Valerio, Diretora Global de Defesa de Direitos e Influência, Tearfund.
  • «Neste Tempo da Criação, exorto todas as pessoas cristãs em todos os lugares a tomarem medidas práticas, cuidando do meio ambiente, conservando os recursos naturais e promovendo a sustentabilidade para proteger a Terra. Apelo a todos os cristãos e cristãs para que participem deste Tempo da Criação, trabalhando com uma esperança renovada, pois a Criação aguarda ansiosamente a revelação dos filhos de Deus»  Seth Appiah-Kubi, Diretor Nacional, A Rocha Gana.
Cuidar da nossa casa comum não é apenas uma causa ambientalista ou tecnocrática, mas uma visão mais holística, integral, humana e espiritual, e uma questão de ecologia integral. Através da oração, da mobilização prática e de ações sustentáveis, este Tempo da Criação de 2024 pode renovar profeticamente a nossa unidade ecuménica e o cuidado com a nossa casa comum. Convidamo-lo a participar deste período especial e a juntar-se a este poderoso movimento para produzir as primícias da esperança.
Que possamos caminhar juntos e juntas, em comunhão como Povo de Deus, para honrar o nosso chamamento cristão a cuidar da Criação de Deus!

Membros do Comité Consultivo do Tempo da Criação

Tema e símbolo do Tempo da Criação de 2024


Em cada ano, o Comité Diretivo Ecuménico do Tempo da Criação propõe um tema para o Tempo da Criação.
O tema para 2024 é «Ter esperança e agir com a Criação» e o símbolo é «As primícias da esperança», inspirado em Romanos 8,19-25.
Uma observação especial sobre o tema deste ano resulta da de decisão de grafarmos "Criação" com inicial maiúscula por vários motivos. O nosso tema enfatiza que a Criação não é um objeto criado para uso humano, mas sim um sujeito com que somos chamados a nos relacionarmos e a colaborarmos como semelhantes. Ao escrever Criação com "C" maiúsculo, referimo-nos tanto à ordem criada como ao mistério do contínuo ato da criação de Deus. Reconhecemos toda a ordem criada ou todo o cosmos, incluindo todas as partes vivas e não vivas da Criação de Deus, mostrando o nosso respeito teológico, a reverência, a responsabilidade e a interdependência com o mundo natural.
Oferecemos nesta seção [...] os fundamentos teológicos do tema e o símbolo deste ano. Também pode encontrar na Adenda 3 [do Guião] alguns pontos de discussão para refletir mais sobre eles.

A Criação geme com as dores do parto (cf. Romanos 8,22)

Esta imagem bíblica retrata a Terra como uma Mãe que geme como num parto. Os tempos que vivemos mostram que não nos relacionamos com a Terra como uma dádiva do nosso Criador, mas sim como um recurso a ser utilizado. São Francisco de Assis compreendeu isso quando se referiu à Terra como nossa irmã e nossa mãe no seu Cântico das Criaturas. Como poderá a Mãe Terra cuidar de nós se não cuidarmos dela? A Criação geme por causa do nosso egoísmo e das nossas ações insustentáveis que a prejudicam.
Juntamente com a nossa Irmã, a Mãe Terra, criaturas de todos os tipos, incluindo os seres humanos, gritam por causa das nossas ações destrutivas que causam a crise climática, a perda de biodiversidade e o sofrimento humano, bem como o sofrimento da Criação. E, no entanto, há esperança e expectativa de um futuro melhor. Ter esperança, no contexto bíblico, não significa ficar parado e quieto mas sim gemer, chorar e lutar ativamente por uma nova vida no meio das lutas. Assim como no parto, passamos por um período de dor intensa, mas uma nova vida está a surgir.

A Criação espera com impaciência a revelação dos filhos de Deus (Romanos 8,19)

A Criação e todos nós somos chamados a adorar o Criador, trabalhando juntos por um futuro de esperança e ação ativas. Só quando trabalhamos juntos e unidos à Criação é que as primícias da esperança podem nascer. A teologia paulina recorda-nos que tanto a Criação como a humanidade são concebidas desde o princípio em Cristo e, portanto, são confiadas uma à outra. 
A Criação espera com impaciência a revelação dos filhos de Deus! Os filhos de Deus são aqueles que erguem as mãos ao Criador, reconhecendo-se como criaturas humildes, para louvarem e respeitarem Deus e, ao mesmo tempo, para amarem e respeitarem o dom da Criação de Deus, cuidar dela, aprender com ela. A Criação não foi dada à humanidade para ser usada e abusada; pelo contrário, a humanidade foi criada para fazer parte da Criação. Mais do que uma casa comum, a Criação é também uma família cósmica que nos chama a agir com responsabilidade. É assim que os filhos de Deus têm uma vocação intrínseca e um papel importante a desempenhar na manifestação do reino da justiça (cf. Rm 8,19).

Primícias da esperança (Romanos 8,23-25)

A esperança é um instrumento que nos permite superar a lei natural da decadência. Ela é-nos dada por Deus como proteção e salvaguarda contra a futilidade. Somente através da esperança podemos realizar o dom da liberdade em plenitude. Liberdade de agir não apenas para alcançar prazer e prosperidade, mas para alcançar o estádio em que somos livres e responsáveis. A liberdade e a responsabilidade permitem-nos tornar o mundo um lugar melhor.
Agimos por um futuro melhor porque sabemos que Cristo venceu a morte causada pelos nossos pecados. Há muita dor na Terra por causa das nossas falhas. Os nossos pecados estruturais e ecológicos infligem dor à Terra e a todas as criaturas, também a nós mesmos. Sabemos que causamos muitos danos à Criação e ao mundo em que vivemos, por causa da nossa negligência, da nossa ignorância, mas também – em muitos casos – por causa do nosso desejo insaciável de satisfazer sonhos egoístas e irrealistas (cf. Rm 8,22).
Há uma frase comumente atribuída a Santo Agostinho que diz: «A esperança tem duas filhas lindas, a indignação e a coragem; a indignação ensina-nos a não aceitar as coisas como estão; a coragem, a mudá-las». Ao testemunharmos os gritos e sofrimentos da Terra e de todas as criaturas, deixemos que a indignação sagrada nos conduza em direção à coragem de termos esperança e sermos ativos pela justiça. Acreditamos que a encarnação do Filho de Deus nos oferece a orientação que nos permite enfrentar o mundo conturbado. Deus está connosco nos esforços para respondermos aos desafios do mundo em que vivemos (cf. Rm 8,23).
Existem diferentes formas de esperança. No entanto, a esperança não é apenas otimismo. Não é uma ilusão utópica. Não está à espera de um milagre mágico. A esperança é a confiança de que a nossa ação faz sentido, mesmo que os seus resultados não sejam imediatamente visíveis (cf. Rm 8,24). A esperança não age sozinha. Anteriormente, na sua Carta aos Romanos, o apóstolo Paulo explicou a estreita relação da esperança com o processo de crescimento: «a perseverança produz a fidelidade provada, e a fidelidade provada produz esperança» (Rm 5,4). A paciência e a perseverança são íntimas da esperança. Estas são qualidades que levam à esperança.
Sabemos o quanto é urgente tomar atitudes ousadas para conter as crises climática e ecológica, e também sabemos que a conversão ecológica é um processo lento, já que os seres humanos resistem a mudar as suas mentalidades, os seus corações e os seus modos de vida. Às vezes não sabemos que tipo de atitude devemos tomar. À medida que a nossa vida caminha, todos os dias vamos tendo novas ideias e inspirações para encontrarmos um melhor equilíbrio entre a urgência e os ritmos lentos das mudanças duradouras. Podemos não compreender plenamente tudo o que acontece, podemos não compreender os caminhos de Deus, mas somos chamados a confiar e avançar com ações concretas e sustentadas, seguindo o exemplo de Cristo, o Redentor de todo o Cosmos (cf. Rm 8, 25).
Em algumas línguas, a tradução da passagem paulina exprime que a esperança não é uma espera passiva, mas uma esperança ativa (cf. Rm 8,20-21). Há muito que podemos aprender com outras culturas e países sobre como ter esperança e agir em conjunto com a Criação. A esperança deve ser entendida ativamente para não cair na armadilha da positividade superficial. Em francês existem duas maneiras diferentes de falar desta noção: espoir, que evoca a atitude de espera, e espérance, que expressa a esperança ativa na luz de Deus. A mesma nuance aparece na língua árabe, que distingue entre amal (لما ) e raja’ (ءاجر), mostrando como há muito para refletir sobre o que significa falarmos de "esperança".

Oração do Tempo da Criação 2024


Deus Uno e Trino, Criador de tudo,
Nós vos louvamos pela vossa bondade, visível em toda a diversidade que criastes, fazendo de nós uma família cósmica que vive numa casa comum. Pela Terra que criastes, recebemos amor e alimento, abrigo e proteção.
Confessamos que não nos relacionamos com a Terra como um dom maternal recebido de vós, nosso Criador. O nosso egoísmo, a ganância, a negligência e o abuso causaram a crise climática, a perda de biodiversidade, o sofrimento humano e também o sofrimento de todas as criaturas nossas irmãs. Confessamos que não conseguimos ouvir os gritos da Terra, os gritos de todas as criaturas e os gemidos do Espírito de esperança e justiça que vive dentro de nós.
Que o vosso Espírito Criador nos ajude nas nossas fraquezas, para que possamos conhecer o poder redentor de Cristo e a esperança que nele se encontra. Que os gemidos do Espírito façam nascer em nós a disponibilidade para vos servirmos fielmente, para que possamos escutar e cuidar da Criação, para esperarmos e agirmos juntamente com ela, para que floresçam as primícias da esperança.
Deus Amoroso e Criador, nós vos pedimos que nos torneis sensíveis a esses gemidos e nos façais ter a mesma compaixão de Jesus, o Senhor redentor. Concedei-nos uma nova visão do nosso relacionamento com a Terra e uns com os outros, como criaturas feitas à vossa imagem.
Em nome daquele que veio proclamar a boa-nova a toda a Criação, Jesus Cristo.
Amém

23/06/2024

Celebração ecuménica pela paz

As Igrejas que integram a Comissão Ecuménica do Porto juntaram-se na sexta, 21 de junho de 2024, para Celebração ecuménica pela paz, inserida no Roteiro Ecuménico do Porto, segundo a tradição da Comunidade Ortodoxa do Patriarcado Ecuménico de Constantinopla - sita na Rua da Constituição, 379 (junto ao Marquês).






14/06/2024

«O Bispo de Roma»: Apresentação do documento de estudo do Dicastério para a Promoção da Unidade dos Cristãos

O Bispo de Roma: Primado e sinodalidade nos diálogos ecuménicos e nas respostas à enciclica "Ut unum sint" é um documento de estudo, publicado com a aprovação do Papa Francisco, que resume pela primeira vez as respostas à encíclica Ut unum sint e aos diálogos ecuménicos sobre a questão do primado e da sinodalidade. O documento encerra com uma proposta do Dicastério que identifica as sugestões mais significativas apresentadas para um renovado exercício do ministério da unidade do Bispo de Roma «reconhecido por uns e outros». A sua apresentação, realizada a 13 de junho, contou com os seguintes intervenientes: o Cardeal Kurt Koch, Prefeito do Dicastério para a Promoção da Unidade dos Cristãos; o Cardeal Mario Grech, Secretário-geral da Secretária-geral do Sínodo; o Arcebispo Khajag Barsamian, Representante da Igreja Apostólica Arménia junto da Santa Sé - Catholicossato de Etchmiadzin; o Arcebispo Ian Ernest, Diretor do Centro Anglicano de Roma e Representante pessoal do Arcebispo de Cantuária junto da Santa Sé (por via remota).

Um trabalho verdadeiramente ecuménico e sinodal (Kurt Koch)


O documento de estudo O Bispo de Roma é o primeiro documento que sintetiza todo o debate ecuménico sobre o serviço do primado na Igreja. As suas origens remontam ao convite dirigido por São João Paulo II aos outros cristãos para que encontrassem, «evidentemente juntos», as formas em que o ministério do Bispo de Roma «poderá realizar um serviço de amor reciprocamente reconhecido» (UUS 95). Desde 1995, foram numerosas as respostas a este convite, bem como as reflexões e as várias sugestões surgidas nos diálogos teológicos.
Em 2020, por ocasião do 25º aniversário da encíclica Ut unum sint, o Dicastério para a Promoção da Unidade dos Cristãos considerou oportuno sintetizar estas reflexões e colher os principais frutos. O próprio Papa Francisco lançou o convite, ao constatar na Evangelii gaudium que «fizemos poucos progressos neste domínio» (EG 32). Além disso, a convocação do Sínodo sobre a sinodalidade confirmou a relevância deste projeto do nosso Dicastério como contributo para a dimensão ecuménica do processo sinodal.
O estatuto do texto é o de um «documento de estudo» que não pretende esgotar o assunto nem resumir o magistério católico sobre a matéria. O seu objetivo é oferecer uma síntese objetiva da evolução recente do debate ecuménico oficial e oficioso sobre o tema, refletindo as ideias, mas também as limitações dos próprios documentos de diálogo. Para além da síntese, o documento encerra com uma breve proposta do Plenário do nosso Dicastério, intitulada «Para um exercício do Primado no século XXI», que identifica as sugestões mais significativas avançadas pelos vários diálogos para um renovado exercício do ministério de unidade do Bispo de Roma.
O documento é o fruto de quase três anos de trabalho verdadeiramente ecuménico e sinodal. Resume cerca de 30 respostas à Ut unum sint e 50 documentos do diálogo ecuménico sobre o assunto. O trabalho envolveu não só os colaboradores, mas também todos os membros e consultores do Dicastério, que o discutiram em duas reuniões plenárias. Foram também consultados os melhores especialistas católicos na matéria, bem como numerosos especialistas ortodoxos e protestantes, em colaboração com o Instituto de Estudos Ecuménicos do Angelicum.
Finalmente, o texto foi enviado a vários dicastérios da Cúria Romana e ao Sínodo dos Bispos. No total, foram tidos em conta mais de cinquenta pareceres e contributos escritos. Todos acolheram favoravelmente a iniciativa, a metodologia, a estrutura e as ideias principais do documento.
Entre as principais conclusões de O Bispo de Roma está o facto de os documentos de diálogo e as respostas à Ut unum sint terem dado um contributo significativo para a reflexão sobre a questão do primado e da sinodalidade. A conclusão mais importante é que todos os documentos concordam com a necessidade de um serviço de unidade a nível universal, mesmo que os fundamentos deste serviço e as modalidades do seu exercício estejam sujeitos a diferentes interpretações.
Ao contrário das polémicas do passado, a questão do primado já não é vista apenas como um problema, mas também como uma oportunidade de reflexão conjunta sobre a natureza da Igreja e a sua missão no mundo. Uma ideia particularmente interessante é a de que o ministério petrino do Bispo de Roma é intrínseco à dinâmica sinodal, assim como o aspeto comunitário que inclui todo o Povo de Deus e a dimensão colegial do ministério episcopal.
O documento também sugere passos futuros para o diálogo teológico. Em particular, sugere que se promova a receção dos resultados dos diálogos a todos os níveis e também a interligação entre os diálogos - locais e internacionais, oficiais e oficiosos, bilaterais e multilaterais, orientais e ocidentais - com vista ao enriquecimento mútuo. Sugere também que o primado e a sinodalidade sejam estudados em conjunto, pois não são duas dimensões eclesiais concorrentes, mas antes duas realidades mutuamente constitutivas. Sublinha a necessidade de clarificar o vocabulário sobre esta questão, tanto para os teólogos como para o Povo de Deus.
No que diz respeito aos princípios e propostas para um exercício renovado do primado, o documento desenvolve algumas das sugestões avançadas pelos diálogos, em particular uma «releitura» ou comentário oficial do Vaticano I, uma distinção mais clara entre as diferentes responsabilidades do Papa, um reforço da sinodalidade da Igreja Católica ad intra e ad extra, em particular tendo em vista a comemoração do 1700º aniversário do Concílio de Niceia, o primeiro Concílio ecuménico, em 2025. Finalmente, o documento propõe alguns princípios para um modelo de comunhão plena baseado num «serviço de amor reconhecido pelo outro» (UUS 95).
Esperamos que este documento não só favoreça o diálogo sobre este importante tema, mas também estimule outras ideias teológicas e sugestões práticas. Para isso, o nosso Dicastério, em colaboração com a Secretaria Geral do Sínodo, tem a intenção de enviar este documento aos responsáveis das outras Igrejas, a fim de continuar a reflexão «evidentemente juntos». Uma apresentação mais detalhada do documento com teólogos de várias tradições será oferecida esta noite, às 17 horas, no Oecumenicum, o Instituto de Estudos Ecuménicos do Angelicum.

Amor pela Igreja (Mario Grech)


A leitura do documento sobre o ministério petrino O Bispo de Roma: Primado e sinodalidade nos diálogos ecuménicos e nas respostas à encíclica "Ut unum sint" confirma o amor à Igreja por parte do Dicastério para a Promoção da Unidade dos Cristãos, um amor que se manifesta num duplo aspeto: como serviço à unidade dos cristãos e, ao mesmo tempo, como fidelidade àquele que é o princípio visível da unidade de toda a Igreja.
Não é minha tarefa apresentar o documento; desejo antes sublinhar a oportunidade de aprofundamento de um tema de importância fundamental para a vida da Igreja. Na verdade, esta investigação revela-se preciosa para responder ao pedido de João Paulo II na Ut unum sint:
«Como Bispo de Roma, estou bem consciente, e reafirmei-o nesta carta encíclica, de que a comunhão plena e visível de todas as comunidades, nas quais, em virtude da fidelidade de Deus, habita o seu Espírito, é o desejo ardente de Cristo. Estou convencido de que tenho uma responsabilidade particular a este respeito, sobretudo ao constatar a aspiração ecuménica da maioria das comunidades cristãs e ao escutar o pedido que me é dirigido para encontrar uma forma de exercício do primado que, não renunciando de modo algum ao essencial da sua missão, se abra a uma situação nova» (UUS 95).
Passaram 30 anos desde aquelas palavras e muitas coisas mudaram na Igreja, mas a urgência da unidade da Igreja não diminuiu e o apelo a encontrar uma forma de exercício do ministério petrino que seja partilhada pelas Igrejas emerge com força dos diálogos ecuménicos. O Papa Francisco, recordando mais uma vez as palavras de João Paulo II, reiterou «a necessidade e a urgência de pensar numa "conversão do papado"», sublinhando que «o Papa não está, sozinho, acima da Igreja; mas dentro dela como Batizado entre os Batizados e dentro do Colégio Episcopal como Bispo entre os Bispos, chamado ao mesmo tempo - como Sucessor do Apóstolo Pedro - a conduzir a Igreja de Roma que preside no amor a todas as Igrejas».
O Papa exprimiu-se nestes termos no seu discurso por ocasião do 50º aniversário da instituição do Sínodo dos Bispos, a 17 de outubro de 2015, que constitui uma espécie de manifesto da sinodalidade e da Igreja constitutivamente sinodal. Sublinhou como «o empenho em construir uma Igreja sinodal está repleto de implicações ecuménicas»; e disse estar «persuadido de que, numa Igreja sinodal, o exercício do primado petrino também poderá receber maior luz».
É certo que os diálogos ecuménicos trouxeram um primeiro contributo: apesar de nos círculos eclesiais se continuar a falar de Sumo Pontífice ou de Romano Pontífice, o título de Bispo de Roma é agora utilizado como único título no Anuário Pontifício, o qual elenca os outros como títulos históricos. Mas uma mudança de modalidade no exercício do primado não pode consistir numa mudança de nome, por mais reveladora que esta possa ser de uma nova compreensão do papel primacial.
Se há um "lugar", um contexto que hoje pode manifestar - na verdade está a manifestar - uma nova modalidade de exercício do primado, é precisamente o processo sinodal. Gostaria de me deter neste aspeto de novidade e mostrar como ele constitui o quadro mais adequado para enquadrar também o documento publicado pelo Dicastério.
Pode-se medir a novidade deste exercício comparando-o com a doutrina do primado proposta pelo Concílio Vaticano I e reafirmada pelo Concílio Vaticano II dentro do quadro da doutrina sobre a constituição hierárquica da Igreja. Se se quiser compreender a perspetiva do Vaticano I, basta inverter a afirmação do Papa Francisco: para ser uma garantia da liberdade da Igreja «o Papa deve estar sozinho, acima da Igreja; se estivesse dentro dela como Batizado entre os Batizados e dentro do Colégio Episcopal como Bispo entre os Bispos, não seria um instrumento eficaz de defesa daquela liberdade que o Senhor deu à sua Igreja; não poderia ser aquele que - como Sucessor do Apóstolo Pedro - conduz a Igreja de Roma que preside no amor a todas as Igrejas».
A missão que o Vaticano I atribuiu ao primado foi a de ser o baluarte contra as pretensões dos Estados modernos de subordinar a Igreja às leis constitucionais, segundo os princípios do galicanismo, aplicados pelas monarquias constitucionais em matéria religiosa. Para garantir a liberdade da Igreja - para que ela estivesse acima de todos, incluindo os reis - era necessário que o Vaticano I declarasse: «Para que [...] o próprio Episcopado seja uno e indiviso, e toda a multidão dos crentes, por meio dos sacerdotes estreitamente unidos entre si, seja conservada na unidade da fé e da comunhão, antepondo o bem-aventurado Pedro aos outros Apóstolos, nele quis fundar o princípio perene e o fundamento visível da dupla unidade» (Concílio Vaticano I, Pastores Aeternus, 18 de julho de 1870).
É imediatamente evidente que o modelo de Igreja sobre o qual se apoia a doutrina do primado é o da Igreja piramidal, assim estabelecido desde a Reforma gregoriana: o Bispo de Roma, o Romano Pontífice, é o vértice da pirâmide hierárquica, o Sumo Pontífice que governa não só a Igreja de Roma, mas a Igreja universal com um poder próprio, pleno e universal. Um poder que lhe é dado enquanto Vigário de Cristo, que torna visivelmente presente a Cabeça da Igreja, o Senhor de todas as coisas, a quem todos devem obediência.
É a tese da Igreja como societas perfecta, superior a qualquer sociedade humana, porque o bem que ela proporciona é do céu e não da terra, porque as leis que ela propõe derivam da Revelação e não da razão, porque a autoridade que a governa é de Deus e não dos homens.
O Vaticano I não conseguiu completar a doutrina sobre a Igreja: a Pastor Aeternus, que propõe a doutrina sobre o primado e a da infalibilidade do Papa quando fala ex cathedra, é apenas a constitutio dogmatica prima; a suspensão do concílio sine die não permitiu a aprovação da constitutionis dogmaticae secundae, que desenvolveu a doutrina geral sobre a Igreja, em particular sobre o episcopado.
Como se sabe, este tema foi retomado no Concílio Vaticano II, que reafirmou como objeto certo de fé «esta doutrina da instituição, da perpetuidade, do valor e da natureza do sagrado primado do Romano Pontífice e do seu magistério infalível, o santo Concílio [...]. Além disso, prosseguindo no desígnio que tinha iniciado, estabeleceu enunciar e explicitar a doutrina sobre os bispos, sucessores dos apóstolos, os quais, com o sucessor de Pedro, vigário de Cristo e cabeça visível de toda a Igreja, governam a casa do Deus vivo» (LG 18).
A relação entre primado e episcopado foi enquadrada na doutrina da colegialidade, que foi um dos temas mais debatidos na assembleia. Há duas afirmações fundamentais na LG 22: que «o colégio ou corpo episcopal não tem [...] autoridade, a não ser que seja concebido unido ao Romano Pontífice, sucessor de Pedro, como sua cabeça, e sem prejuízo do seu poder de primado sobre todos, tanto pastores como fiéis»; que «a ordem dos bispos, que sucede ao colégio dos apóstolos no magistério e no governo pastoral, na qual se perpetua o corpo apostólico, é também, juntamente com a sua cabeça, o Romano Pontífice, e nunca sem esta cabeça, objeto de um poder supremo e pleno sobre toda a Igreja, embora este poder não possa ser exercido senão com o consenso do Romano Pontífice».
A ordem das declarações revela uma preocupação em defender, antes de mais, as prerrogativas do Papa; o quanto este facto condicionou a discussão pode ser compreendido a partir da opção de Paulo VI de vincular a interpretação do texto à nota explicativa praevia.
Pode dizer-se que a dificuldade de encontrar uma forma de exercício da colegialidade no pós-Concílio era pelo menos tão grande como a de encontrar outra forma de exercício do primado. A dificuldade depende, em grande parte, da existência de dois sujeitos de «poder supremo e pleno sobre toda a Igreja», pensados em absoluto, acima da Igreja. Perante este problema, muitos concluíram que, também neste ponto, a solução proposta pelo Concílio é impraticável: mais um argumento para desacreditar a autoridade do Vaticano II.
Ao invés, a solução está precisamente na eclesiologia do Concílio, quando o relemos no horizonte da sinodalidade. De facto, não se pode falar de primado e de colegialidade sem os ligar à sinodalidade: o vínculo impõe-se pela "revolução copernicana" operada pelo concílio com a inclusão do capítulo sobre o Povo de Deus na constituição sobre a Igreja, que desestruturou a societas inaequalium, fundada na dicotomia entre Ecclesia docens e discens, entre quem concentra nas suas mãos toda a capacidade ativa e quem é apenas destinatário passivo das ações dos outros.
O processo sinodal baseia-se nas relações entre Povo de Deus, Colégio dos Bispos e Bispo de Roma, e recompõe numa circularidade harmónica sinodalidade, colegialidade e primado. «Uma Igreja sinodal é uma Igreja da escuta"; e é assim pelo facto de que "Povo de Deus, Colégio Episcopal, Bispo de Roma: [são] um à escuta dos outros; e todos à escuta do Espírito Santo, o "Espírito da verdade" (Jo 14, 17), para saber o que Ele "diz às Igrejas" (Ap 2, 7)» (Francisco, Discurso no 50º Sínodo dos Bispos, 17 de outubro de 2015).
Mas a circularidade entre sinodalidade, colegialidade e primado não se compreende apenas com o restabelecimento das relações entre Povo de Deus, Colégio e Bispo de Roma. Desta forma, as possíveis tensões entre dois sujeitos com autoridade plena e suprema na Igreja podem transformar-se em possíveis conflitos entre Povo de Deus e hierarquia. O primeiro período pós-conciliar foi dominado pela alternativa entre "Igreja de baixo/de cima", Igreja do povo e hierarquia, carisma e instituição. O caminho para integrar as funções dos três sujeitos numa unidade dinâmica passa pelo princípio eclesiológico afirmado pelo Concílio, no qual se baseia todo o processo sinodal que estamos a viver.
Quando, de facto, se entende a Igreja (com a LG 23) como «o corpo das Igrejas», porque «nelas e a partir delas existe a Igreja Católica una e única», cada sujeito é colocado realmente em condições de desenvolver a sua função no processo sinodal.
O Povo de Deus, em primeiro lugar: se cada Igreja é uma portio Populi Dei, o Povo de Deus, como sujeito do sensus fidei, nunca será uma soma de pessoas, uma massa anónima, mas a totalidade dos batizados que vivem e caminham nas Igrejas; por isso, a consulta do Povo de Deus nas Igrejas particulares é verdadeira escuta do sensus fidei. Os Bispos: se cada Igreja particular é tal porque o seu Pastor é «o princípio visível e o fundamento da unidade» (LG 23), e a Igreja é «o corpo das Igrejas» em comunhão entre si, o conjunto dos Pastores não pode deixar de ser um corpo ou colégio, que representa a Igreja e que na Igreja exerce a função de discernimento nos vários níveis da communio.
É esta a dinâmica que se verifica no caso mais claro do exercício da sinodalidade, a sancta Synodus. No concílio ecuménico, cada bispo representa a sua Igreja e essa assembleia sinodal representa toda a Igreja na sua unidade e variedade.
A referência ao concílio ecuménico permite-nos compreender a novidade que está a surgir no exercício do ministério petrino. Para o explicar, basta uma referência à época dos grandes concílios: quando nos preparamos para celebrar o aniversário do Concílio de Niceia, não podemos esquecer que foi o imperador Constantino que o convocou. E isto porque a Igreja primitiva, que era sem dúvida uma Igreja sinodal, não tinha chegado a um consenso pleno em torno do primado. Se a questão se reduz a um primado de honra, a possibilidade de convocar um concílio ecuménico passa pelo princípio da unanimidade ou pela intervenção externa do imperador.
A definição de primado, relida em chave sinodal, permite à Igreja superar esse vulnus. O Concílio Vaticano II sublinhou-o bem quando afirmou que «é prerrogativa do Romano Pontífice convocar estes concílios, presidi-los e confirmá-los» (LG 22). A fórmula mais bela, que exprime a unidade do Colégio em torno do Sucessor de Pedro, é a desejada por Paulo VI, que assinava «una cum Patribus» por baixo de cada documento conciliar promulgado.
O processo sinodal identifica e aprofunda esta forma de exercício do ministério petrino. De facto, a nível da universa Ecclesia, é prerrogativa do bispo de Roma convocar a ação sinodal, uma vez que ele é o «princípio visível e fundamento da unidade» da Igreja. Muitos sublinharam a complexidade do processo sinodal que está a envolver toda a Igreja e todos na Igreja, sem sublinhar que tudo isto - desde a consulta do Povo de Deus nas Igrejas particulares, passando pelo discernimento nas Conferências Episcopais e nas Assembleias Continentais, até ao discernimento nas duas sessões da Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos - depende do ato solene de abertura do processo sinodal, celebrado em São Pedro a 10 de outubro de 2021.
O exercício do ministério petrino não se reduz a este ato inicial, para regressar no final do processo sinodal para receber os resultados e eventualmente os confirmar com uma exortação pós-sinodal. A sua função presidencial é visível na Assembleia do Sínodo dos Bispos: é ele que preside aos trabalhos na assembleia, pessoalmente ou através dos seus delegados. A sua presença é discreta, mesmo na Assembleia, onde as suas intervenções se limitam a encorajar os participantes ou a esclarecer alguns pontos que requerem a sua apreciação. Mas foi precisamente este modo de presença que facilitou o trabalho na assembleia.
Mas também todo o desenrolar do processo, em cada uma das suas fases, depende do ministério petrino: ele cumpre a sua função de acompanhamento e de confirmação do processo através da Secretaria Geral do Sínodo, que é «uma instituição permanente ao serviço do Sínodo dos Bispos, diretamente sujeita ao Romano Pontífice» (EC, art. 22 § 1), «competente para a preparação e a realização das Assembleias do Sínodo, bem como para outros assuntos que o Romano Pontífice queira submeter-lhe para o bem da Igreja universal» (EC, art. 23 § 1).
Seria um erro medir a importância do ministério petrino pela concentração de todas as decisões nas suas mãos. Posso testemunhar que o Papa Francisco sempre nos encorajou a prosseguir no nosso serviço à Igreja.
O processo sinodal não deixou de sublinhar este modo de exercer o ministério petrino. No Instrumentum laboris da primeira sessão da Assembleia, a última pergunta foi formulada assim: «À luz da relação dinâmica e circular entre sinodalidade da Igreja, colegialidade episcopal e primado petrino, como aperfeiçoar a instituição do Sínodo para que se torne espaço certo e garantido para o exercício da sinodalidade, assegurando a todos - Povo de Deus, Colégio dos Bispos e Bispo de Roma - a plena participação, no respeito das suas funções específicas?».
O Relatório de Síntese da Assembleia de 2023 contém um tema sobre o Bispo de Roma no Colégio dos Bispos (tema 13), afirmando que, numa visão sinodal, «o ministério petrino [...] é intrínseco à dinâmica sinodal» e sublinhando que «sinodalidade, colegialidade e primado se reclamam reciprocamente: o primado pressupõe o exercício da sinodalidade e da colegialidade, assim como estas implicam o exercício do primado» (13/a). A Assembleia apela então a uma reflexão mais aprofundada sobre «o modo como uma renovada compreensão do episcopado numa Igreja sinodal incide sobre o ministério do Bispo de Roma e o seu papel da Cúria Romana» (13/d).
Estes elementos indiciam uma nova forma de exercício do ministério petrino, que a Igreja, através do processo sinodal, já reconhece. A dinâmica sinodal, desenvolvida sobre o tríplice registo da communio - fidelium, Ecclesiarum, episcoporum - mostra como seria possível chegar a um exercício ecuménico do primado. O Papa disse-o no seu discurso por ocasião do 50º aniversário do Sínodo dos Bispos; confirma-o o documento do Dicastério para a Promoção da Unidade dos Cristãos sobre o Primado, ilustrando os numerosos elementos que podem ajudar a procurar uma forma de exercício do ministério petrino ao serviço de todos aqueles que «olham com fé para Jesus, autor da salvação e princípio de unidade e de paz» (LG 9), para que se cumpra a oração de Jesus: «Que todos sejam um!» (Jo 17,21).

Um diálogo notável entre as Igrejas (Khajag Barsamian)


Gostaria de começar por felicitar o Cardeal Kurt Koch e o Dicastério para a Promoção da Unidade dos Cristãos pela publicação deste documento, que será um texto de referência para o diálogo ecuménico nos próximos anos. Como salientou o Cardeal Koch, é a primeira vez que o debate ecuménico sobre o primado e a sinodalidade é resumido de forma sistemática e tão aprofundada. Pode, por isso, ser considerado como um valioso ponto de partida para uma discussão renovada sobre o exercício do primado e da sinodalidade.
Pessoalmente, como representante da Igreja Apostólica Arménia junto da Santa Sé, considero particularmente interessante constatar como o notável diálogo teológico entre as Igrejas Ortodoxas Orientais e a Igreja Católica, cujo vigésimo aniversário celebramos este ano, foi uma fonte de inspiração para este texto. Em particular, o segundo documento deste diálogo teológico, sobre o exercício da comunhão na vida da Igreja primitiva, mostra como os primeiros séculos podem ser uma fonte de inspiração para os dias de hoje.
Como afirma o Documento de Estudo, naquela época, as expressões de comunhão não eram primariamente jurídicas e havia uma grande diversidade de modelos eclesiais. É convicção da família das Igrejas Ortodoxas Orientais que estas formas de comunhão devem continuar a ser paradigmáticas, quando refletimos sobre a natureza e a missão da Igreja no terceiro milénio. Gostaria também de mencionar o diálogo teológico com a Igreja Ortodoxa Oriental, que dedicou três documentos completos ao tema do primado e da sinodalidade, em particular o último documento aprovado em Alexandria em 2023.
Como delegado fraterno da Igreja Apostólica Arménia ao Sínodo católico sobre a sinodalidade, saúdo também as propostas contidas neste texto para reforçar a sinodalidade interna na Igreja Católica. A sinodalidade da Igreja Católica é, sem dúvida, um elemento importante para as Igrejas Ortodoxas Orientais no nosso caminho para a plena comunhão. As Igrejas Ortodoxas Orientais podem também contribuir para esta reflexão através da sua experiência secular de sinodalidade.
A este propósito, gostaria também de reconhecer publicamente a iniciativa do simpósio Ouvir o Oriente, para o qual contribuí, organizado pelo Dicastério para a Promoção da Unidade dos Cristãos em colaboração com o Instituto de Estudos Ecuménicos do Angelicum de Roma em 2022.
Da mesma forma, as várias propostas do documento para reforçar a sinodalidade ad extra parecem-me promissoras, porque é possível praticar uma certa sinodalidade entre as nossas Igrejas, mesmo que ainda não estejamos em plena comunhão. A este respeito, as iniciativas do Papa Francisco, como o encontro de Bari sobre o Médio Oriente em 2018 ou, mais recentemente, a vigília ecuménica Juntos na véspera do Sínodo de 2023, devem encorajar-nos a organizar outros encontros deste tipo.
Congratulo-me particularmente com a proposta, retomada no documento, de distinguir mais claramente as diferentes funções do Papa, por um lado, como Patriarca da Igreja latina, por outro, como ministro da unidade entre as diferentes Igrejas e, finalmente, como Chefe de Estado. Neste sentido, a recente reintegração do título de «Patriarca do Ocidente» entre os títulos históricos do Papa é importante, uma vez que este título, herdado do primeiro milénio, evidencia a sua fraternidade com os outros Patriarcas. A insistência do Papa Francisco no seu ministério como Bispo de Roma é, sem dúvida, também essencial, porque é como Bispo de Roma, a Igreja «que preside à caridade», como diz Inácio de Antioquia na sua Carta aos Romanos, que o Papa é chamado a servir a comunhão das Igrejas.
Como o texto justamente assinala, o que mais falta hoje no caminho ecuménico é um modelo de plena comunhão. Todos os diálogos teológicos com as Igrejas Ortodoxas e Ortodoxas Orientais sublinham que a atual relação das Igrejas Católicas Orientais com Roma não pode ser considerada um modelo de futura comunhão. Esperamos que este documento dê um novo impulso à reflexão conjunta sobre um novo modelo, um modelo não de jurisdição mas de comunhão.
Por último, gostaria de manifestar o desejo de que este documento seja partilhado com as várias Igrejas cristãs para que possamos continuar a nossa reflexão. O aniversário do Concílio de Niceia, no próximo ano, será certamente uma boa ocasião para o fazer.

Caminhando juntos (Ian Ernest)


Também eu gostaria de agradecer ao Cardeal Koch e ao Dicastério para a Promoção da Unidade dos Cristãos pela publicação deste documento, que abre novas perspetivas para as relações ecuménicas sobre a muito debatida questão da relação entre primado e sinodalidade. No seu discurso aos Primazes anglicanos, reunidos em Roma no mês passado, o Santo Padre mencionou o papel do Bispo de Roma e usou as palavras do Papa Gregório Magno, que o descreveu como servo dos Servos de Deus: «servus servorum Dei».
Nas palavras de São João Paulo II, esta «é a melhor garantia contra o risco de separar o primado do ministério». Estas palavras são fonte de esperança, pois dão uma indicação do espírito ecuménico que prevalece. Mas, dada a extensão e a diversidade dos diálogos ecuménicos, é da maior importância contar com uma síntese temática que exponha as principais ideias, preocupações, intuições e destaques da questão. A identificação dos contributos das Igrejas Ortodoxas do Oriente, das principais Igrejas Ocidentais e das Igrejas Livres é um marco importante. Louvo a atitude da Igreja Católica de escutar seriamente as reflexões produzidas pelos diálogos ecuménicos e de contribuir assim para a receção desses diálogos.
Como representante pessoal do Arcebispo de Cantuária, congratulo-me com o facto de uma das respostas mais completas e pormenorizadas ao convite de São João Paulo II na Ut unum sint ter sido dada pela Assembleia dos Bispos da Igreja de Inglaterra em 1997. A Conferência de Lambeth e a reunião dos Primazes são também canais através dos quais o mundo anglicano é introduzido nas questões que estão em jogo nos diálogos em curso. Isto permite-nos, como Comunhão a nível mundial, compreender em espírito de oração os diálogos ecuménicos e as novas perspetivas que tocam aspetos doutrinais muito importantes. Poderíamos chamar a isto sinodalidade em ação.
Congratulo-me também por ver até que ponto o diálogo com a Comunhão Anglicana através da Comissão Internacional para o Diálogo Teológico com a Igreja Católica, ARCIC, contribuiu para esta reflexão. Como o documento recorda, já em 1976, a Comissão Conjunta, no seu documento Autoridade na Igreja I, sublinhava a necessidade das dimensões primacial e sinodal também a nível universal, afirmando que: «se a vontade de Deus para a unidade no amor e na verdade de toda a comunidade cristã for cumprida, este plano geral com os complementares aspectos primacial e conciliar da episkope ao serviço da koinonia das Igrejas tem de ser realizado a nível universal» (ARCIC 1976, 23).
Já em 1981, a mesma Comissão sublinhava a necessidade do primado a nível universal: «De acordo com a doutrina cristã, a unidade da comunidade cristã na verdade exige uma expressão visível. Concordamos que tal expressão visível é vontade de Deus e que a manutenção da unidade visível a nível universal inclui a episcope de um primado universal» (ARCIC 1981 Eluc., 8). Essas intuições, que foram rapidamente retomadas por muitos outros diálogos, especialmente pelos orientais, foram inicialmente formuladas pela ARCIC.
O último documento da ARCIC Caminhando juntos no caminho. Aprender a ser Igreja local, regional e universal também trouxe novos elementos para a reflexão sobre a sinodalidade, através da metodologia do «ecumenismo recetivo». A este propósito, tive o privilégio de participar nas conferências Ouvir o Ocidente, organizadas pelo Dicastério para a Promoção da Unidade dos Cristãos em colaboração com o Instituto Oecumenicum da Pontifícia Universidade de São Tomás de Aquino, no quadro do processo sinodal da Igreja Católica.
Entre as propostas expressas nos diálogos, gostaria de sublinhar a importância de uma "reformulação" ou de um comentário oficial ao ensinamento do Vaticano I, que continua a ser um grande obstáculo entre as nossas Igrejas, especialmente porque é difícil de compreender hoje em dia e está aberto a interpretações erróneas. Continua, portanto, a ser necessário apresentar o ensinamento do Vaticano I à luz de uma eclesiologia de comunhão, clarificando a terminologia utilizada. Apesar destes desafios, a atitude recetiva e generosa desenvolvida pelos anglicanos ao longo dos anos «convida toda a cristandade a caminhar em conjunto numa compreensão mais rica e mais unida das tradições cristãs e da missão da Igreja».
Por esta razão, gostaria de saudar a proposta de sinodalidade ad extra. A este respeito, o retiro espiritual para os líderes do Sudão do Sul, organizado pelo Papa Francisco e pelo Arcebispo Justin Welby em 2019, a peregrinação ecuménica pela paz no Sudão do Sul, organizada pelo Papa Francisco, pelo Arcebispo Justin Welby e pelo Reverendo Iain Greenshields em 2023, e a vigília de oração ecuménica «Juntos: Encontro do Povo de Deus» na Praça de São Pedro em 2023, na véspera da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, são exemplos deste "caminhar juntos" ou ecumenismo sinodal a que o Papa Francisco nos convida.
Para concluir, também eu gostaria de exprimir o desejo de que este documento seja partilhado com as várias Igrejas cristãs, para que possamos continuar a nossa reflexão, «evidentemente juntos», como desejava o Papa João Paulo II.

Tradução portuguesa das intervenções publicadas por Settimana News (14 de junho de 2024).