13/01/2022

Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos (18 a 25 de janeiro de 2022)

«Vimos sua estrela no Oriente e viemos adorá-lo»
(Mt 2,2)

De acordo com o Evangelho de Mateus (2,1-12), o aparecimento da estrela no céu da Judeia representa um sinal de esperança aguardado há muito tempo, que conduz os magos, e de facto todos os povos da terra, ao lugar onde o verdadeiro rei e Salvador é revelado. Essa estrela é um dom, uma indicação da presença amorosa de Deus para toda humanidade. Para os magos era um sinal de que um rei havia nascido. Com seus raios de luz ela conduz a humanidade na direção de uma luz ainda maior, Jesus, a nova luz que ilumina cada pessoa e nos conduz para a glória do Pai e para o esplendor que ela irradia. Jesus é a luz que veio até as nossas trevas quando, por obra do Espírito Santo, encarnou na Virgem Maria e se tornou humano. Jesus é a luz que foi ainda mais adiante nas trevas do mundo quando, por nós e pela nossa salvação, se despojou e se tornou obediente até a morte. Ele fez isso para iluminar o nosso caminho para o Pai, para que pudéssemos conhecer o Pai e o amor que ele tem por nós, quando nos deu seu único Filho, para que acreditando nele pudéssemos não perecer mas ter a vida eterna.
Os magos viram a estrela e seguiram-na. Tradicionalmente os comentadores têm visto nas figuras dos magos um símbolo da diversidade de povos conhecidos naquele tempo, e um sinal da universalidade do chamamento divino que aparece na luz do astro que brilha vindo do oriente. Eles também veem na ansiosa busca dos magos por um rei recém-nascido toda a busca ansiosa da humanidade pela verdade, a bondade e a beleza. A humanidade vem buscando Deus desde o começo da criação para o venerar. A estrela apareceu quando o Menino Deus nasceu ao completar-se o tempo. Ela anunciou o ato de salvação de Deus, esperado há tanto tempo, que começa no mistério da encarnação.
Os magos revelam-nos a unidade de todas as nações, desejada por Deus. Eles viajam vindos de países distantes e representam culturas diversas, mas são impulsionados pela mesma fome de ver e conhecer o rei recém-nascido, e reúnem-se na pequena casa de Belém para o ato simples de adorar e oferecer presentes. Os cristãos são chamados a ser para o mundo um sinal de Deus, trazendo para cá essa unidade que Ele deseja. Vindos de diferentes culturas, raças e línguas, os cristãos partilham em comum a busca por Cristo e o desejo de o adorar. A missão do povo cristão, portanto, é ser um sinal como foi aquela estrela, para guiar a humanidade na sua busca de Deus, para conduzir todos a Cristo e para ser instrumento através do qual Deus vai trazendo para o meio de nós a unidade de todos os povos.
Parte do ato de adoração dos magos consistiu em abrir os seus tesouros, oferecer os seus presentes, que, desde a antiguidade cristã, têm sido compreendidos como sinais de diferentes aspetos da identidade de Cristo: ouro como sinal de realeza; incenso para a sua divindade e mirra como previsão da sua morte. Os diversos presentes, portanto, oferecem-nos uma imagem de visões particulares que as diferentes tradições cristãs têm a respeito da pessoa e do trabalho de Jesus. Quando cristãos se reúnem e abrem os seus tesouros e os seus corações em adoração a Cristo, todos se enriquecem à medida que essas perceções são partilhadas.
A estrela ergueu-se no oriente (Mt 2,2). É do oriente que o sol se levanta, e é do que chamamos Médio Oriente que a salvação apareceu pela misericórdia do nosso Deus que nos abençoou com o que veio do alto (Lc 1,78). Mas a história do Médio Oriente foi, e ainda é, caracterizada por conflito e violência, manchada com sangue, injustiça e opressão. Mais recentemente, desde a Nakba Palestina (o êxodo da população árabe da Palestina durante a guerra de 1948) a região tem presenciado uma série de guerras e revoluções sangrentas e o crescimento de extremismo religioso. A história dos magos também apresenta vários elementos lamentáveis, particularmente as ordens despóticas de Herodes para o massacre de todos os meninos ao redor de Belém que tivessem menos de dois anos (Mt 2, 16-18). A crueldade dessas narrativas ressoa junto com a longa história e a difícil realidade presente do Médio Oriente.
Foi no Médio Oriente que a Palavra de Deus criou raízes e deu frutos. E foi a partir desse Oriente que os apóstolos saíram para pregar o Evangelho até os confins da terra (At 1,8). O Médio Oriente produziu milhares de testemunhas cristãs e milhares de mártires cristãos. E ainda assim, agora, a própria existência da pequena comunidade cristã é ameaçada já que muitos são levados a buscar uma vida mais segura e serena em outro lugar. Como aconteceu com a luz que era o Menino Jesus, a luz do cristianismo do Oriente Médio é crescentemente ameaçada nestes tempos difíceis.
Jerusalém é um símbolo poderoso para os cristãos porque é a cidade de paz onde toda a humanidade foi salva e redimida. Mas hoje falta paz na cidade. Muitos partidos declaram o seu direito em relação a ela e desconsideram outros. Até a oração em Jerusalém passou a estar sujeita a medidas políticas e militares. Jerusalém foi a cidade de reis, de facto a cidade na qual Jesus entrará triunfante, aclamado como rei (Lc 19,28-44). Naturalmente os magos esperavam encontrar o rei recém-nascido revelado pela estrela naquela cidade real. No entanto, a narrativa diz-nos que, em vez de ser abençoada pelo nascimento do rei Salvador, toda a Jerusalém estava em tumulto, tanto como acontece hoje.
Hoje, mais do que nunca, o Médio Oriente precisa de uma luz celeste para acompanhar o seu povo. A estrela de Belém é um sinal de que Deus caminha com o seu povo, sente as suas dores, escuta os seus gritos e demonstra-lhes compaixão. Isso garante-nos que, mesmo que as circunstâncias mudem e os desastres terríveis possam acontecer, a fidelidade de Deus é infalível. O Senhor não dorme nem descansa. Ele caminha ao lado do seu povo e trá-lo de volta quando se vê perdido ou em perigo. A jornada da fé é essa caminhada com Deus, que sempre contempla seu povo e nos guia nos caminhos complexos da história e da vida. Para esta Semana de Oração, os cristãos do Oriente Médio escolheram o tema da estrela que se ergueu do oriente por um número de razões. Enquanto muitos cristãos ocidentais celebram o Natal, a festa mais antiga e ainda a festa principal de muitos cristãos orientais é a Epifania, quando a salvação é revelada às nações em Belém e no Jordão. Esse foco na teofania (a manifestação) é, em certo sentido, um tesouro que os cristãos do Médio Oriente podem oferecer aos seus irmãos e irmãs do mundo inteiro.
A estrela conduz os magos através do tumulto de Jerusalém, onde Herodes planeia o assassinato da vida inocente. Ainda hoje e, em muitas partes do mundo, inocentes sofrem violência e ameaças. Famílias de jovens fogem de tiranos como Herodes e Augusto. Nesse contexto, pessoas procuram um sinal de que Deus está com elas. Procuram o rei recém-nascido, o rei da delicadeza, da paz e do amor. Mas onde está a estrela que conduz a um caminho que leva a ele? É a missão da Igreja ser a estrela que ilumina o caminho para Cristo, que é a luz do mundo. Sendo uma estrela assim, a Igreja torna-se um sinal de esperança num mundo cheio de problemas e também sinal, no meio do seu povo, da presença de Deus, que acompanha a todos nas dificuldades da vida. Com a palavra e com a ação os cristãos são chamados a iluminar o caminho para que Cristo possa ser revelado, de novo, às nações. Mas as divisões entre nós diminuem a luz do testemunho cristão e obscurecem o caminho, evitando que outros encontrem a direção que leva a Cristo. Ao contrário, os cristãos unidos na sua adoração a Cristo e capazes de abrir seus tesouros numa partilha de dons tornam-se um sinal da unidade que Deus deseja para toda a sua criação.
Os cristãos do Médio Oriente oferecem estes recursos para a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos conscientes de que o mundo partilha muitos dos problemas e dificuldades que eles experimentam, e anseiam por uma luz que aponte o caminho para o Salvador que pode vencer as trevas. A pandemia global da COVID-19, a permanente crise económica e o fracasso das estruturas políticas, económicas e sociais na proteção dos mais fracos e vulneráveis destacaram a necessidade global de uma luz que brilhe na escuridão. A estrela que brilhou no oriente, o Médio Oriente, há dois mil anos, ainda nos chama à manjedoura, onde Cristo nasceu. Ela conduz-nos para onde o Espírito de Deus está vivo e ativo, para a realidade do nosso batismo e para a transformação dos nossos corações.
Após encontrarem o Salvador e o adorarem juntos, os magos regressam aos seus países por um caminho diferente, tendo sido alertados num sonho. De modo semelhante, a comunhão que vivenciamos na nossa oração em conjunto deve inspirar-nos a voltar às nossas vidas, às nossas igrejas e ao nosso mundo de novas maneiras. Viajar por novos caminhos é um convite ao arrependimento e à renovação das nossas vidas pessoais, nas nossas igrejas e nas nossas sociedades. O seguimento de Cristo é o nosso novo caminho e, num mundo em mudança, os cristãos precisam de permanecer firmes e determinados como as constelações e planetas que brilham. Mas o que é que isso significa na prática? Servir o Evangelho hoje é algo que requer um compromisso na defesa da dignidade humana, especialmente no meio dos mais pobres, mais fracos e marginalizados. Isso exige das Igrejas transparência e reconhecimento responsável ao lidar com o mundo e uns com os outros. Isso significa que as Igrejas precisam de colaborar para providenciar alívio aos aflitos, para acolher os deslocados, para aliviar os sobrecarregados e para construir uma sociedade justa e honesta. Esse é um chamamento às Igrejas para o trabalho em conjunto para que os jovens possam construir um futuro de acordo com o coração de Deus, um futuro em que todos os seres humanos possam experimentar vida, paz, justiça e amor. O novo caminho entre as Igrejas é o caminho da unidade visível que, orando e celebrando, buscamos com coragem e audácia para que, dia após dia, «Deus seja tudo em todos» (1 Cor 15,28).

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